“Luto” – Opinião de Pedro Lopes (Seção Regional Centro da Ordem dos Enfermeiros)

25.10.2024 –

Texto resultante da parceria do Jornal Mira Online com a Seção Regional Centro da Ordem dos Enfermeiros.

“O luto constitui uma experiência profundamente complexa, caracterizada por uma interação intensa entre corpo e mente, na qual o sofrimento psicológico e as respostas fisiológicas se entrelaçam. Quando ocorre a perda de um ente querido, o impacto emocional e físico manifesta-se intensamente, com estudos científicos a indicar que o luto ativa áreas do cérebro relacionadas à dor física, justificando a sensação de “coração partido”. Esta dor, por conseguinte, não se restringe ao domínio psicológico, apresentando também efeitos somáticos, incluindo perturbações do sono, alterações no apetite e enfraquecimento do sistema imunitário. 

 

O stress emocional grave, desencadeado pela perda, pode provocar manifestações cardíacas sérias, como a síndrome do coração partido (ou cardiomiopatia de Takotsubo), enfatizando que o luto é um fenómeno integrado, com impactos que se estendem à saúde física e mental. Nos primeiros meses após uma perda significativa, verifica-se um aumento do risco de patologias cardiovasculares e infeções, sublinhando a necessidade de acompanhamento médico e psicológico durante este período crítico.

Neste contexto, o papel dos profissionais de saúde revela-se essencial. Enfermeiros, médicos, psicólogos e, em particular, enfermeiros especialistas em saúde mental e psiquiatria desempenham um papel central, atuando como mediadores entre o sofrimento emocional e o suporte clínico necessário. Estes profissionais não apenas monitorizam e tratam as repercussões físicas do luto, mas também fornecem apoio psicológico e emocional, essencial para a prevenção de complicações de saúde. Tal apoio é fulcral para a identificação precoce do chamado “luto complicado” – uma condição clínica na qual o enlutado permanece num ciclo prolongado de dor intensa, sem capacidade para processar a perda de forma adaptativa.

O luto complicado é identificado nos manuais de diagnóstico como um transtorno que requer intervenção clínica especializada. A deteção precoce permite encaminhar o enlutado para terapias adequadas, prevenindo a sua evolução para uma condição crónica e debilitante. Manifestações como tristeza prolongada, raiva intensa, culpa, ressentimento, apatia emocional, bem como a incapacidade de falar sobre o falecido ou de reviver memórias positivas, podem sinalizar a presença de luto complicado, indicando a necessidade de apoio clínico.

Os profissionais de saúde, ao oferecerem um acompanhamento adequado, facilitam a transição para a aceitação e promovem a resiliência emocional. Estu dos sobre resiliência indicam que, com o apoio correto, os enlutados conseguem
reformular a experiência de dor, encontrando um novo sentido de vida. Neste sentido, o acompanhamento psicológico e o apoio emocional contribuem para uma recuperação equilibrada, alicerçada num modelo de cuidado humanizado e
cientificamente fundamentado.

Em suma, o suporte dos profissionais de saúde no luto é determinante para mitigar os impactos desta experiência sobre o corpo e a mente. Com a sua orientação, o luto pode transformar-se numa experiência resiliente, possibilitando que o indivíduo encontre esperança e significado, mesmo após uma perda profunda”.

Pedro Lopes
Tesoureiro Seção Regional Centro da Ordem dos Enfermeiros