Os lares foram pressionados a agir perante os constrangimentos colocados com a pandemia de covid-19 e procuraram adaptar-se investindo mais em recursos digitais, visando colocar em contacto os idosos e as suas famílias.
Exemplos desta adaptação comum a muitos lares do país, são o Nova Casa, em Lisboa, e o da Póvoa e Meadas, em Portalegre.
No Lar Nova Casa estão 42 utentes com “90 anos para cima”, dos quais 40 têm um computador e um telemóvel da instituição para realizarem videochamadas no Skype e no Whatsapp, acompanhados por funcionários, e apenas dois utentes utilizam dispositivos por conta própria, com ‘wi-fi’.
As videochamadas aconteceram duas vezes por semana “para cada filho”, mas apesar do estipulado, a ex-colaboradora Tânia Gil explica que havia também possibilidade de se marcar essas chamadas consoante a disponibilidade dos familiares.
Aos dois utentes com dispositivos próprios, a ex-animadora cultural da instituição, Tânia Gil dava aulas de informática, uma vez por semana, que serviam para os acompanhar no uso das redes sociais.
A Dona Zilda, utente com esclerose, precisava sempre de esperar pelas aulas de informática para ficar ‘online’.
“Mesmo que eu deixasse o portátil ligado ela não conseguia clicar no botão”, conta a ex-animadora da instituição que acompanhava também outro utente com dificuldades: “O senhor António tem um ‘tablet’, mas não consegue ligá-lo, porque teve um AVC e só a mão direita é que funciona”.
A vice-presidente da sociedade portuguesa de geriatria e gerontologia, Maria João Quintela defende que nos lares estão os idosos mais dependentes e que é importante estes sentirem-se úteis para terem “qualidade de envelhecimento”, fenómeno determinado pelas doenças que podem acentuar os problemas cognitivos.
Apesar das dificuldades, “a Dona Zilda tem muita vontade, tanto que ela tem um telemóvel ‘android’, mas é uma dificuldade para ela. Quando lhe sugeri um telemóvel com teclas por ser mais simples ela respondeu-me: ‘Mas Tânia, se não for assim, não estou atualizada’”.
Os utentes do Lar Nova Casa têm consciência de que é possível pesquisar na internet, mas não sendo autónomos devido “à falta familiaridade com as novas tecnologias, mas também às incapacidades motoras e cognitivas, que provocam movimentos involuntários, o que lhes interessa é a comunicação”, disse à Lusa a ex-animadora cultural da instituição.
Por sua vez, o Lar da Póvoa e Meadas para desenvolver a tecnologia da instituição teve o apoio de 20 mil euros do programa Gulbenkian Cuida Covid-19, concurso criado em tempo de pandemia com a parceria da Segurança Social para “reforçar a capacidade de resposta das organizações da sociedade civil que prestam apoio à população idosa”.
O lar de Portalegre apostou na compra de um computador para os 62 utentes da instituição e ‘tablets’ com internet para os 11 utentes ao domicílio, com uma aplicação instalada, funcional apenas para os utentes e familiares, desde maio de 2020.
Esta aplicação permite aos utilizadores fazer tudo sem entrar na normal rede ‘online’, e aos familiares e funcionários do lar monitorizar o que está a ser feito por cada um e receber sinais de alerta.
Os utentes do lar funcionam autonomamente com a aplicação que lhes permite jogar, ver filmes, ler notícias, ouvir música e contactar com os familiares por videochamada.
“O sistema é muito simples, [os utentes] nem precisam de escrever nada, porque funciona à base do toque. A ativação também é intuitiva, basta encostar um cartão (no caso do PC) e automaticamente têm um utilizador associado”, explicou a diretora técnica, Susana Simão.
Quem não souber ler ou escrever “também pode facilmente usar a aplicação tanto no ‘tablet’ como no computador, porque esta tem cores e simbologias próprias e orienta com o piscar de botões”, concluiu.
Lusa