Julgamento do atentado de Nice. Vítimas procuram respostas

04/09/22

 

Um coração que paira sobre o memorial às vítimas do atentado terrorista de 2016, em Nice, lembra as 86 pessoas que morreram, entre elas uma dúzia de crianças.

A abertura do julgamento, esta segunda-feira, reaviva a memória dessas pessoas entre as famílias ainda arrasadas pela perda dos entes queridos.

Bruno Razafitrimo perdeu a mulher. Desde então cria sozinho dois filhos. Ainda não sabe se vai assistir às sessões, mas quer falar com os filhos sobre o assunto.

“Eles estão interessados e não esquecem. Apenas colocam as coisas de parte, mas basta falar sobre o 14 de julho e eles revivem o momento. Eles ainda se lembram de tudo bastante bem, mesmo que os mantenhamos ocupados como deveríamos, o melhor que podemos”, explica Bruno Razafitrimo.

Hager Ben Aouissi fundou a associação “Une voie des enfants”. Na noite dos atentados ela e a filha passaram entre as ruas do camião conduzido pelo agressor. Sobreviveram, mas a filha ainda está traumatizada.

Hager espera que o julgamento a ajude a curar as feridas.

 

Temos de aceitar o pouco que este julgamento nos puder trazer, porque é um passo no caminho para a reconstrução, que é muito complicado porque estamos a viver vidas muito afetadas. Neste julgamento, o tribunal dá às vítimas a possibilidade de testemunhar e isso é muito importante. Acho que o fato de podermos falar na hora do julgamento é algo que não devemos negligenciar”, acrescenta  Hager Ben Aouissi.

O julgamento dos atentados deve também permitir à cidade de Nice superar as divisões e reconciliar as comunidades. O ataque, perpetrado por um jihadista tunisino, exacerbou as tensões, como lembra o historiador Yvan Gastaut: “nos dias que se seguiram ao atentado houve múltiplas tensões entre comunidades, sobre os problemas que isso poderia representar. Estou a pensar em particular numa comunidade que foi alvo e vítima em simultâneo: a comunidade muçulmana. Os muçulmanos em Nice, que estão muito presentes na cidade, não necessariamente no centro da cidade, mas na periferia. Houve muitas vítimas muçulmanas durante este episódio dramático e, ao mesmo tempo, os muçulmanos foram muito estigmatizados juntamente com o assassino. Isso é uma questão central na cidade, com consequências que ainda não foram resolvidas.”

Seis anos após os atentados, o passado ressurge na avenida Passeio dos Ingleses com a abertura de um julgamento que corre o risco de trazer poucas respostas às famílias das vítimas, mas que ajudará a cidade e a população a avançar. É pelo menos essa a esperança.

Euronews