Karla Jacinto fez parte do mercado altamente lucrativo do tráfico de seres humanos no México. Cresceu numa família disfuncional e, com 12 anos, começou a ser abordada por um rapaz, de 22 anos, pelo qual se apaixonou.
Karla conta que não foi custoso deixar a casa de família e que, passado pouco tempo, começou a viver com o namorado, em Tanancingo. Trata-se do maior centro de tráfico humano e o local para onde as raparigas costumam ser levadas antes de serem forçadas a prostituir-se.
“Vivi com ele três meses, durante os quais ele me tratou muito bem. Trazia-me roupas, dava-me atenção, trazia-me sapatos, flores, chocolates, era tudo bonito”, relembra Karla, numa entrevista à CNN.
Passados os primeiros três meses, foi levada pelo namorado traficante para Guadalajara, uma das maiores cidades do país, e forçada a trabalhar na prostituição. “Começava “a trabalhar” às 10 horas e terminava à meia-noite”, conta. “Alguns homens riam-se de mim por estar a chorar”.
Segundo o seu cálculo, terá sido violada cerca de 43 200 vezes. Durante os quatro anos em que foi vítima de tráfico, dormia, em média, com 30 homens por dia, sete dias por semana.
Tentou ir embora, mas não conseguiu. “Disse-lhe [ao namorado] que me queria ir embora e ele acusou-me de me ter apaixonado por um cliente. Disse-me que eu gostava” do trabalho que fazia.
Denunciar o seu caso às autoridades também se revelou não ser uma opção. Segundo o seu relato, quando Karla tinha 13 anos, vários polícias foram ao hotel onde estava a trabalhar uma noite, não para salvar as meninas, mas para as filmar com os clientes. Depois, diziam que tinham de fazer o que eles mandavam. Caso contrário, enviariam os vídeos aos seus familiares.
“Achei-os [polícias] nojentos. Sabiam que éramos menores. Tínhamos caras tristes. Havia raparigas que tinham apenas dez anos. Havia raparigas que estavam a chorar. Eles disseram aos polícias que nós éramos menores e ninguém prestou atenção”, revela Karla.
A jovem acabou por ser resgatada em 2008, com 16 anos, durante uma operação anti-tráfico, realizada na Cidade do México, reporta a CNN.
Agora, luta contra este tipo de tráfico que, segundo a International Organization for Migration, vitimiza 20 mil pessoas no México todos os anos.
Parte do relato de Karla, hoje com 23 anos, foi confirmada pela estação norte-americana CNN junto da United Against Human Trafficking Group e um abrigo no qual a jovem esteve depois de ser resgatada.
Fonte e Foto: JN