Até Setembro a TV paga gerou receitas de mais de 1,2 mil milhões. NOS e PT prepararam-se para investir mais do que isso no futebol nos próximos anos
A NOS e a PT Portugal, com os contratos que já assinaram com o Benfica, Porto e Sporting, transformaram o futebol no rei dos conteúdos: são mais de 1,3 mil milhões de euros que as duas operadoras vão investir em direitos televisivos, transmissão e distribuição de canais desportivos e publicidade. Praticamente o montante de receitas gerado por todo o setor de televisão paga até setembro em Portugal: 1,235 mil milhões.
A primeira tranche dos 400 milhões que a NOS fechou com o Benfica (até dez épocas) cai já neste ano: 36 milhões. Quanto ao do Sporting, não se sabe quanto é que a operadora vai pagar para estar presente nas camisolas do clube já em janeiro, de um contrato que tem um valor global de 446 milhões. As restantes componentes do contrato só começam a cair na operadora liderada por Miguel Almeida a partir de Julho de 2017, caso dos direitos de distribuição e transmissão do Sporting TV (12 épocas), e só a partir de Julho de 2018 é que começa a ser pago o montante dos direitos de transmissão televisiva dos jogos do Sporting (dez épocas). É nessa data que o contrato que liga o clube de Alvalade à PPTV de Joaquim Oliveira expira.
O mesmo sucede com o contrato com Futebol Clube do Porto. Na disputa pelos direitos dos dragões, foi a Altice-PT Portugal que saiu vencedora. A dona do MEO vai desembolsar 457,5 milhões, para patrocinar as camisolas do Porto (7,5 épocas), transmitir o Porto Canal (12,5 épocas), pela publicidade do estádio e pelos jogos dos dragões (dez épocas).
Nunca como agora as operadoras abriram tanto os cordões à bolsa no que toca ao futebol. “O investimento no futebol reflete a necessidade de se reinventarem”, diz Eduardo Silva, gestor da XTB, ao DN/Dinheiro Vivo. Depois do investimento no mobile e na banda larga ter levado à venda de serviços em pacote, “o canal de distribuição, conteúdos exclusivos e subscrições representam a nova frente de batalha das operadoras”. NOS e PT-MEO sabem que “o domínio do conteúdo é um fator de diferenciação fundamental e garante a fidelização do canal de distribuição. Daí a aposta forte nesta área”. Por isso, Eduardo Silva não considera que a longa duração dos contratos seja um fator de risco. Pelo contrário. “É uma garantia. Ficar de fora é que é um risco, porque propicia a criação de monopólio. Todos têm de fazer parte, até porque estão obrigados”, considera o gestor da XTB. E dá como exemplo o impacto da Benfica TV na Sport TV, “que perdeu o monopólio” quando os jogos do Benfica passaram a ser emitidos na BTV.
Os montantes colocam novos desafios às operadoras, de encontrar “alternativas de rentabilização dos direitos adquiridos [revenda de direitos, pay-per-view, criação de novo canal desportivo]”, avisa a equipa de research do BiG ao Dinheiro Vivo/DN. Mas não é claro como isso se irá concretizar.
Os jogos da Luz são conteúdos apetecíveis, como já admitiu a Sport TV, mas Miguel Almeida, CEO da NOS, já disse que vender à empresa – na qual é acionista com 50% do capital, o restante é detido por Joaquim Oliveira – é um cenário entre outros. Transmitir na Benfica TV é, todavia, pouco provável, disse o CEO da NOS. O que pode esvaziar o canal de um dos seus principais conteúdos que o tornaram apetecível para as operadoras concorrentes, tornando a venda do canal em Portugal e no exterior pela NOS mais difícil.
As mesmas incógnitas estendem-se aos contratos com o Sporting e o FCP. Com apenas um clube formalmente fechado – esperando-se que seja anunciado um acordo de nove milhões com o Vitória de Guimarães, e tendo a NOS fechado também acordos com Belenenses, Marítimo, Sporting de Braga e Paços de Ferreira, falta saber como irá a PT rentabilizar a aposta feita nos direitos de futebol? A estratégia da empresa, tal como noticiou o Diário de Notícias, passaria pela Altice trazer para o mercado português um canal de desporto como a MCS – Ma Chaine Sport. Mas até ao momento, sabe o DN/Dinheiro Vivo, nenhum pedido de registo de canal deu entrada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). E, até agora, também não é público onde irão ser transmitidos os jogos do FCP a partir de 2018. Nem é claro como as empresas irão financiar estes investimentos. Vão recorrer à banca? Emitir obrigações? As contas são apenas conhecidas até Setembro, antes do fecho dos contratos. Tudo isso, admite a equipa de research do BiG, “torna difícil quantificar o impacto nas contas das operadoras”.
“Temos de considerar a exclusividade do conteúdo como um teaser para fidelização do consumidor nos planos das operadoras”, diz Eduardo Silva. O investimento será disperso no tempo e o fluxo de rentabilidade deverá absorver facilmente a aposta, o negócio é bom para os clubes e para as operadoras”, defende o gestor da XTB.
Fonte: DN dinheiro vivo