A pandemia de covid-19 criou “uma janela de oportunidade” para um futuro mais sustentável, e a mudança nos padrões de consumo mostra que tal é possível, defende a professora e investigadora sueca Karin Bäckstrand.
Especialista em políticas ambientais globais, Karin Bäckstrand é hoje uma das oradoras na 4.ª Conferência de Lisboa, evento internacional de periodicidade bienal que debate as mudanças globais e o desenvolvimento, promovido pelo Clube de Lisboa e que este ano se realiza em formato online.
A professora da Universidade de Estocolmo defende, em entrevista à Agência Lusa, que “este é o momento” para fazer a transição para uma economia mais verde e menos poluente, como também já defendeu o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Os consumidores, diz, já fizeram essa mudança no quadro da pandemia de covid-19, conseguindo em pouco tempo “mudar radicalmente” a forma de consumir, e por isso a investigadora diz estar otimista. “Penso que é importante e é possível”, remata.
Até agora, e apesar do Acordo de Paris – que há cinco anos estabeleceu metas para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, que provocam o aquecimento global e as alterações climáticas – “os governos não fizeram o suficiente”, considera.
Além de que, acrescenta, com as atuais metas dos países de diminuição de emissões de dióxido de carbono (CO2) não vai ser possível atingir os objetivos do Acordo de Paris, de impedir um aumento global da temperatura acima de 1,5 graus em relação à época pré-industrial.
Os países, diz Karin Bäckstrand, têm agora mais um ano para apresentar essas metas, já que próxima a cimeira do clima (COP26), prevista para este ano, foi adiada para 2021 devido à Covid-19. E a União Europeia já tem um acordo nesta matéria, o que é positivo.
Mas há depois a parte negativa, os países e os líderes populistas que negam as alterações climáticas ou a perda de biodiversidade. Karin Bäckstrand dá três exemplos de países com líderes eleitos que assumem estas posições, o Brasil, os Estados Unidos e a Rússia. E a China, não tendo um Governo eleito pelo povo, pelo menos tem uma ambição e um plano de descarbonização, diz a responsável.
E a verdade é que, acrescenta, num mundo em que os animais criados pelo homem “dominaram” as espécies selvagens, é preciso uma grande transformação no consumo, como também é em setores como os transportes.
E cada pessoa, assegura, pode fazer essa transformação. Karin Bäckstrand dá o seu próprio exemplo. “Antes da covid-19 era convidada para muitas conferências” e a mudança “foi um desafio para mim. Eu sei que o meu voo é responsável por emissões de gases, agora faço muitas conferências online”.
A professora de Ciências Sociais do Ambiente no Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Estocolmo e Investigadora Principal no Instituto para Estudos sobre o Futuro, questiona se são necessárias cinco viagens por ano para fazer conferências, se não é possível fazer uma presencialmente e as restantes online, se não é possível reduzir as viagens de avião ou de carro, grandes responsáveis pelas emissões de gases.
Penso que podemos fazer mais do que fizemos durante a pandemia. Podemos tentar transformar as nossas vidas, podemos viver uma vida boa sem viajarmos constantemente. Precisamos de viajar, de nos encontrar, mas podemos reduzir isso”, defende, ao mesmo tempo que sugere que as pessoas conheçam melhor os seus países, que procurem novas formas de mobilidade.
Os governos, acrescenta, precisam de dar aos cidadãos transportes limpos, precisam de investir grandemente no transporte ferroviário. E da sua parte, garante, se no próximo ano vier a Portugal a uma conferência vai fazer por vir de comboio, e contribuir com “zero emissões”.
Mas, ainda os cidadãos, podem fazer mais. Karin Bäckstrand volta a questionar-se sobre se as pessoas precisam de comer carne todos os dias, ou se não podem comer carne de produtores locais, produzida de forma sustentável.
“Há muita coisa que podemos fazer”, remata. E considera que não são apenas as gerações mais novas, impulsionadas até pela jovem ativista também sueca Greta Thunberg, que estão sensibilizadas para um novo futuro. “Há movimentos por todo o mundo, e não só de jovens, preparados para lutar pelo seu futuro”.
Lusa / Madremedia