A produção de eletricidade renovável superou, em março, o consumo de Portugal continental, o que é “inédito nos últimos 40 anos”, assinalam a Associação Portuguesa de Energias Renováveis e a ZERO.
Em Março, a produção de eletricidade a partir de fonte renovável foi de 4.812 Gigawatts/ hora. O consumo de Portugal continental foi, no mesmo mês, de 4.647 GWh. Os números são da REN – Redes Energéticas Nacionais e levam a associação ambientalista ZERO e a Associação Portuguesa de Energias Renováveis a assinalarem “um marco histórico”.“Temos um sistema elétrico que permite acomodar as diferentes formas de energia renovável”, sublinhou Francisco Ferreira em entrevista à RTP.
“Estes dados, além de assinalarem um marco histórico do sector elétrico português, demonstram a viabilidade técnica, a segurança e a fiabilidade do sistema elétrico nacional, com muita eletricidade renovável”, escrevem as duas entidades em comunicado conjunto.
No último mês, as energias renováveis representaram 103,6 por cento do consumo elétrico, um dado “inédito nos últimos 40 anos”, ainda segundo as associações. É preciso recuar a fevereiro de 2014 para apontar o anterior valor máximo – a representatividade das renováveis foi então de 99,2 por cento.
A nota salienta, em concreto, dois períodos de consumo completamente garantido por fontes renováveis: 70 horas, com início a 9 de março, e 69 horas a partir do dia 12.
Durante alguns períodos, foi necessário recorrer às centrais térmicas fósseis e à importação de eletricidade para completar o abastecimento das necessidades elétricas. Ainda assim, este desempenho, ressalva o comunicado, foi “plenamente contrabalançado por períodos de muito maior produção renovável”.
Outro dado a reter prende-se as emissões de dióxido de carbono: a produção mensal a partir de energias renováveis evitou a emissão de 1,8 milhões de toneladas, o que se traduz numa poupança de 21 milhões de euros na compra de licenças de emissões poluentes.
“Objetivo é possível”
Entrevistado na edição desta terça-feira do Bom Dia Portugal, Francisco Ferreira, da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, afirmou tratar-se de “um recorde extremamente relevante, não apenas à escala de Portugal, mas mesmo à escala mundial”.
“Conseguimos, no balanço de um mês, ter inclusive mais 3,6 por cento de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis, principalmente a hídrica, 55 por cento, e a eólica, 42 por cento, que nos garantiu que todo o consumo fosse assegurado por este tipo de fontes”, enfatizou o ambientalista.
“Isso significa não emitirmos dióxido de carbono. Poupámos 1,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono que seriam emitidas se nós estivéssemos a usar centrais a carvão ou a gás natural. Significa que nós temos um sistema elétrico que permite acomodar as diferentes formas de energia renovável. Podemos também falar da biomassa, do solar, que tem de crescer muito, porque estas circunstâncias também se deveram, sem dúvida, à forte precipitação que se verificou neste mês”, continuou.
Francisco Ferreira frisou que há ainda “um caminho a percorrer” nas políticas energéticas do país. Mas considerou “possível” alcançar “o objetivo de, antes de 2040”, cumprir “um ano em que a produção renovável garanta todo o consumo de eletricidade é possível”.
“O nosso problema é mais dramático durante o verão, em que obviamente as barragens não conseguem garantir a produção, e por isso é que é fundamental que as políticas públicas, que os investimentos na energia solar, sejam consistentes, sejam ampliados, a eficiência energética também, o enorme desafio que é a descarbonização do sector dos transportes que vai consumir eletricidade no futuro e nós queremos que essa eletricidade seja de fontes renováveis”, enumerou.
“Do ponto de vista do preço, é fundamental perceber que a energia renovável acaba, ao nível do mercado ibérico, por garantir um preço menor no dia-a-dia”, fez notar.
RTP c/ Lusa