O retalhista sueco vai aumentar os salários de entrada da companhia em Portugal, bem como os apoios financeiros à parentalidade em 2022.
A Ikea vai aumentar os salários brutos de entrada dos trabalhadores das lojas de 705 para 750 euros (+6,38%) e dos centros de apoio ao cliente de 800 para 850 euros (+6,28%), subidas que irão ter um impacto de 6,3% no valor total que a cadeia sueca vai investir salários este ano face a 2021, adianta Cláudio Valente, country people & culture manager da Ikea Portugal, à Pessoas. A companhia reforçou ainda os apoios financeiros à parentalidade. A semana de quatro dias “não é um tema prioritário para nós nesta fase.” A Ikea tem 2.600 trabalhadores em Portugal.
“Nos últimos anos, a Ikea já tem vindo a aumentar o salário de entrada de todos os colaboradores acima do salário mínimo nacional e está em linha com os setores de retalho e serviços de apoio ao cliente”, adianta Cláudio Valente, diretor de RH da Ikea, à Pessoas, frisando que a decisão do Governo de subir este ano, para 705 euros, o salário mínimo nacional não tem impacto na companhia.
“A partir deste novo ano, voltamos a investir no processo regular de revisão salarial e o valor do salário de entrada aumentará de 705 euros para 750 euros brutos mensais, para um colaborador a tempo inteiro na área do retalho (valor acima do salário mínimo estipulado pelo Governo para 2022). Já para o Centro de Apoio ao Cliente, o salário de entrada será de 850 euros brutos mensais. A este valor é adicionado o subsídio de alimentação, entre outros benefícios que oferecemos a todos os colaboradores”, revela o responsável de RH da cadeia sueca. A empresa paga 4,55 euros/dia de subsídio de refeição, “complementados com a possibilidade de terem acesso a refeições a preços muito baixos no restaurante exclusivo de colaboradores”.
“Entre esta ação e as restantes atualizações salariais previstas, temos a expectativa de, em 2022, aumentar em 6,3% o valor total pago em salários na Ikea Portugal, quando comparado com 2021”, reforça.
“Na Ikea, acreditamos que com mais este passo no aumento do salário de entrada, conjuntamente com outras empresas líderes do setor que já anunciaram movimentos semelhantes, continuamos a valorizar o retalho enquanto setor empregador de referência no país”, comenta Cláudio Valente quando questionado sobre se o retalho tem capacidade para acolher este aumento de custos na sua folha salarial face a eventuais quebras de consumo com o evoluir da economia.
Mas deixa uma nota: “Convidamos os decisores públicos a considerar medidas cada vez mais arrojadas para potenciar a melhoria dos níveis de vida e do poder de compra da maioria das famílias portuguesas.”
Dos 2.600 colaboradores da empresa em Portugal, “cerca de 90% dos contratos são permanentes, quando as funções são igualmente permanentes”, pois, “queremos promover sempre uma boa experiência e garantir segurança e estabilidade financeira e psicológica a todos os nossos colaboradores.”
No que toca às posições a tempo parcial, a empresa está a procurar “criar oportunidades internas para que os colaboradores interessados se possam candidatar a mais horas na sua função ou até a possibilidade de se candidatarem a outras áreas de trabalho“, diz. “Temos, por isso, cada vez mais pessoas que se estão a desenvolver em áreas complementares, por exemplo, serviço a cliente e logística ou vendas e Centro de Apoio ao Cliente. Desta forma, para além de terem uma maior remuneração, estas pessoas estão ainda a desenvolver novas competências e ampliar as suas possibilidades de crescimento e desenvolvimento na empresa.”
Apoio financeiro à parentalidade reforçado
Em outubro passado, o grupo anunciou que iria distribuir 110 milhões de euros pelos colaboradores nos 32 mercados onde opera, tendo os colaboradores portugueses recebido um bónus — o “UppSkatta — de cerca de 460 euros/brutos. Além deste prémio, a companhia atribui, por norma, um bónus anual, com base no desempenho da empresa e da unidade, o “One Ikea Bonus”, tendo ainda o “Tack!” (programa de fidelização focado na vida do colaborador no período de reforma). Mas sobre o que companhia reserva este ano aos colaboradores terá de se aguardar. “O nosso ano fiscal ainda está a meio (começa no dia 1 de setembro de cada ano), pelo que é ainda cedo para fazer estimativas relativamente a pagamentos”, justifica o country people & culture manager da Ikea Portugal.
Num momento que a atração e retenção de talento se joga também muito nos benefícios extra-salariais, o retalhista decidiu este ano reforçar os seus trunfos.
“Temos uma preocupação constante em assegurar o bem-estar, a estabilidade e a felicidade dos nossos colaboradores. Acreditamos que pessoas felizes contribuem para um ambiente de trabalho melhor e mais inspirador. Temos também a consciência que, em primeiro lugar, o meu empenho e o meu compromisso com a empresa vai muito além das compensações e benefícios e que, por sua vez, estes são muito mais do que o salário. Trabalhar numa empresa com um ambiente humano e inclusivo, com a qual partilho os meus valores pessoais, que respeita a minha individualidade e onde eu me sinto em casa é fundamental na atração de talento”, argumenta Cláudio Valente.
“Mas, naturalmente, a forma como sou compensado pelo meu trabalho também é muito relevante nesta equação. Neste sentido, temos vários benefícios que, além do salário, contribuem para um maior equilíbrio e bem-estar no dia a dia dos colaboradores. Em 2022, este plano de compensações e benefícios da Ikea, com especial atenção para a parentalidade, também foi atualizado“, afirma.
O benefício “Ajuda de Nascimento” — para todos os colaboradores que se tornam pais biológicos ou por adoção — “aumenta para 665 euros brutos (um aumento de 48% face ao ano anterior)” e o programa “Passa mais tempo com o teu bebé” — que permite estender a licença parental (biológica ou por adoção) por mais dois meses, para além do período regular estabelecido pela Segurança Social — “aumenta também o seu apoio mensal para 665 euros brutos (um aumento de 84% face ao ano anterior)”.
Se a pandemia veio colocar sob pressão os trabalhadores da linha da frente, como do retalho, com impacto na ligação dos mesmos às companhias, na Ikea, assegura o responsável de RH, não se tem feito sentir nem em dificuldade de recrutamento — “temos muito orgulho em ver que os nossos processos de recrutamento têm tido bons resultados, mesmo no contexto atual” — nem num desligamento entre os colaboradores e a organização, espelhada num recente estudo da Microsoft sobre os trabalhadores que exerceram funções presencialmente, sem recurso ao teletrabalho.
“O feedback e os dados internos — fruto de questionários e diferentes sessões de avaliação das nossas pessoas — são muito positivos e reveladores de que o compromisso dos colaboradores Ikea com a marca mantém-se muito forte e isso deixa-nos muito orgulhosos. Vimos estes números crescer nestes últimos anos, tão desafiantes para todos”, diz Cláudio Valente.
“A Ikea é uma empresa de retalho, cada vez mais omnicanal, onde a maioria dos colaboradores não trabalha em modelo híbrido pois as suas funções não o permitem. Ainda assim, todos os colaboradores com funções compatíveis (especialmente em escritórios e Centro de Apoio ao Cliente) estão a cumprir as recomendações do Governo e da Direção Geral de Saúde, seja em teletrabalho obrigatório ou recomendado”, refere o country people & culture manager da cadeia.
Ainda assim, em agosto, à Pessoas a empresa tinha adiantado estar a equacionar para os trabalhadores cujas funções o permitissem um modelo híbrido de trabalho. “A adoção de um modelo híbrido continua a ser a realidade neste momento e antecipamos que se mantenha no futuro próximo, permitindo uma maior flexibilidade para as equipas.”
Já a adoção de uma semana de trabalho de quatro dias — tema que voltou à discussão na campanha eleitoral com o PS — não faz parte das prioridades da empresa. “Estamos atentos ao desenrolar da discussão política em torno das empresas, colaboradores e sindicatos, no entanto, este não é um tema prioritário para nós nesta fase.”
Ana Marcela / ECO