Workshop XIX: Trauma e Media – 9 de junho de 2018 | CES Lisboa
Oficina Ad hoc | 9º Módulo Opcional do III Curso de Psicotraumatologia do Centro de Trauma/CES-UC – confere a
atribuição de 10 pontos para a certificação europeia pela ESTSS.
Conteúdos – Os media como primeiros interventores (first responders). Sinais e sintomas de trauma nos
jornalistas. Compreensão do trauma experimentado por notícias dos media. Compreender as habilidades de
comunicação necessárias ao tratamento de profissionais da comunicação. Cultura do trauma em termos de
imagem.
Formadores/as – Adelino Gomes (Jornalista e investigador associado do CIES-IUL), Ana Aranha (Realizadora
de programas de rádio), Celina Manita (Professora Associada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade do Porto), José Manuel Rosendo (Jornalista), Leonor Figueiredo (Jornalista), Paulo
Moura (Jornalista, escritor) e Sílvia Roque (Investigadora do CES-UC).
Enquadramento:
O tema Trauma e Media permite diversas abordagens, do tratamento jornalístico de situações potencialmente geradoras
de trauma – desastres, conflitos, catástrofes – o modo como esse tratamento se vai refletir, a curto, médio e longo prazo,
nos participantes e vítimas, no público e, também, nos próprios profissionais dos media.
Na verdade, os jornalistas que fazem a cobertura dessas situações são sujeitos, eles também, a uma imensa tensão, desde
logo no seu primeiro contacto com os diretamente envolvidos – muito dos quais severamente traumatizados – mas também
no esforço de conseguir conciliar, no tratamento noticioso, rigor e compaixão, distância e compromisso com a defesa dos
Direitos Humanos, obrigação de informar e respeito pela privacidade, equilíbrio que o contexto tende a dificultar, acresce
o duplo papel a que estão sujeitos como relatores do desastre e, em simultâneo, como potenciais vitimas primárias.
Um estudo de 2002 (Feinstein, Owen e Blair) indicou que cerca de um terço dos correspondentes de guerra desenvolve,
num momento ou outro da sua carreira, um estado de stress pós-traumático. Vários outros estudos apontam no mesmo sentido, mostrando, também, que nem sempre é necessária a presença física nos locais onde ocorrem as situações para
que os profissionais venham a sofrer desse distúrbio.
Se na introdução do diagnóstico de PTSD, presente no manual de Diagnostic Statistical Mental de 1980, era exigida a
experiência direta do acontecimento traumático, logo nas revisões seguintes do DSM III (DSM-III-R, em 1987) é
reconhecido que os efeitos do stress traumático podem ser transmitidos às pessoas que não estiveram diretamente
expostas à situação, mas que a conheceram ou testemunharam. Também na revisão do manual em 2002 (DSM-IV-TR,
2002, pp. 464), são contempladas outras situações traumáticas como “observar um acontecimento que envolva morte,
ferimento ou ameaça à integridade física de outra pessoa”.
O Dart Center for Journalism and Trauma – um projeto da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, dedicado
ao estudo de formas inovadoras e éticas de fazer reportagens e notícias sobre violência, conflitos e tragédias – recorda
que os jornalistas confrontam desafios fora do comum ao cobrir esses acontecimentos. Interagem com vítimas com um
elevado grau de sofrimento.
Muitas vezes, constroem um muro de defesa profissional entre eles e os sobreviventes e outras testemunhas que
entrevistam. Mas, depois de estarem e falarem com pessoas que sofreram perdas imensas, esse mesmo muro pode
impedir os jornalistas de reagir à sua própria exposição à tragédia. Como escreveu, poucos dias após a destruição das
torres gémeas de Nova Iorque, em 11 de Setembro de 2001, Al Tompkins, do Poynter Institute for Media Studies:
“Repórteres, fotojornalistas, engenheiros de som e de imagem, produtores no terreno, trabalham muitas vezes lado a lado
com o pessoal dos serviços de emergência. Os seus sintomas de Stress Pós-Traumático são muito semelhantes aos de
polícias e bombeiros que trabalham na sequência imediata da tragédia, mas normalmente recebem pouco apoio após
terem enviado as suas histórias. Enquanto que ao pessoal de emergência é dado aconselhamento após o trauma, os
jornalistas são, simplesmente, enviados para cobrir outra história.”
E, no entanto, vários ficam marcados pela tragédia que acabaram de reportar. Pela dor dos outros. Pela sua impotência
perante essa dor. Pela culpa de a testemunharem sem a sofrer. Ou de fazerem as malas e partirem.
Acrescente-se que as notícias sobre a morte de jornalistas em serviço de reportagem comprovam também que, longe de
serem apenas testemunhas da dor dos outros, os jornalistas são também, muitas vezes, vítimas dos mesmos conflitos
que reportam. No dia 20 de Abril deste ano, a Federação Internacional de Jornalistas assinalava 18 mortos entre
jornalistas e outro pessoal dos media. Os números para os dois anos anteriores foram de 82, em 2017 e 122, em 2016.
Daí a importância de pensar o exercício do jornalismo em situações potenciadoras de stress. É essa a razão pela qual o
Centro de Trauma do CES-Coimbra decidiu incluir um módulo sobre Trauma e Media no III Curso de Formação em
Psicotraumatologia. A sessão é igualmente aberta à participação de investigadores de outras áreas que, no seu trabalho,
interajam com vítimas de violência, conflitos e/ou catástrofes.
Programa:
9h30 | Acolhimento dos participantes
10h00 | Apresentação do tema: Trauma e Media – Diana Andringa (Jornalista, documentarista, investigadora do
CES-UC)
10h15 | No local de conflito/catástrofe – Paulo Moura (Jornalista, escritor)
10h45 | Reportando o conflito/a catástrofe – José Manuel Rosendo (Jornalista)
11h15 | Pausa
11h30 | Narrando o conflito/a catástrofe – Adelino Gomes (Jornalista, investigador associado do CIES-IUL)
12h00 | Debate com os intervenientes
13h00 | Almoço
14h30 | Apresentação do tema: A Entrevista: riscos de retraumatização para as vítimas, riscos de trauma
vicariante para os/as entrevistadores/as – Luísa Sales (Psiquiatra, coordenadora do Centro de Trauma/CES-UC)
14h45 | Vítimas de violência política (27 de maio em Angola) – Leonor Figueiredo (Jornalista)
15h15 | Mulheres vítimas de violência (América Latina) – Sílvia Roque (investigadora do CES-UC)
15h45 | Vítimas de tortura da PIDE – Ana Aranha (Realizadora de programas de rádio)
16h15 | Pausa
16h30 | Ouvindo o trauma dos outros – Celina Manita (Professora associada da FPCEUP)
17h00 | Debate com os intervenientes
18h00 | Sessão de Encerramento: Diana Andringa e Luísa Sales (Centro de Trauma/CES-UC)