Idosas saem de centro para dar lugar a refugiados

Sete mulheres têm de abandonar até quinta-feira o Recolhimento das Trinas, no Centro Histórico de Guimarães, que vai acolher famílias de migrantes.

“Se me dessem a escolher, preferia que ficássemos todas aqui”. As palavras são de Cândida Campos, uma das sete idosas que têm até amanhã para sair do Recolhimento das Trinas, uma espécie de lar de idosos que acolhe aquela pequena “família” de comadres há décadas, no Centro Histórico de Guimarães.

O edifício é da Santa Casa da Misericórdia que já providenciou estadia para todas. Mas vão ficar em lares diferentes, separadas umas das outras e da “família” que construíram já na velhice. Com a saída das mulheres, a casa fica livre e vai acolher três famílias de refugiados.

Cândida Campos tem 81 anos e mora nas Trinas há 10. Vai ser transferida para o Lar Emídio Guerreiro, junto ao castelo. Não é dos casos piores, pois fica próxima do centro na mesma, mas tem amigas que vão para o Lar Rainha D. Leonor, em Urgezes, a mais de dois quilómetros de um Centro Histórico onde passaram grande parte da terceira idade e que temem não voltar a ver.

Após décadas de vida, as sete idosas são obrigadas a refazer as rotinas. Já não vão ao pão a pé, acabam-se as conversas de circunstância na calçada histórica e a missa do Largo da Oliveira fica longe de mais para as voltar a ver. A convivência familiar que tinham passa a estar apenas na memória.

Cândida Campos admite que fazia parte de uma família: “Também nos zangávamos, às vezes, mas isso faz parte”. O olhar triste e vago é lançado do alto da janela do recolhimento, de onde fala, porque as regras da casa ditam que ali não entram estranhos.

Os habitantes do Centro Histórico passaram a semana passada a ouvir os lamentos das idosas. “Chegaram-me aqui a chorar que iam ser transferidas. Nem queria acreditar, é uma família que se desfaz”, assume Natália Gonçalves, vizinha e confidente das idosas.

A decisão de transferência das mulheres foi motivada pela falta de condições do Recolhimento das Trinas para funcionar como Lar de Idosos. Segundo Noémia Carneiro, provedora da Santa Casa, aquela instituição foi notificada “há cerca de dois anos” pela Segurança Social. Os apoios iam ser cortados porque a casa não tem condições. “Não tem elevador, tem escadas íngremes e espaços pequenos. É uma boa casa, mas não é um lar”, concorda a provedora.

Perante a falta de apoio, informaram as idosas e deram-lhes a hipótese de ficar. Mas tinham de pagar mais do que os 37 euros mensais que estavam a gastar até então. A maioria vive de baixas reformas e tem os cêntimos contados. Das oito, só uma pôde ficar.

Entretanto, o Recolhimento das Trinas já está destinado. Vai acolher refugiados que chegarão a qualquer momento e passarão a viver no Centro Histórico da cidade. Dos 12 quartos da casa, um fica para a idosa que escolheu continuar ali, outro vai para uma socióloga que acompanhará os refugiados e os restantes são para os migrantes.

Fonte JN