Depois de uma expressiva votação na consulta popular informal, a oposição intensifica a luta contra Assembleia Constituinte pretendida por Nicolás Maduro. A Mesa da Unidade Democrática promove uma greve geral na quinta-feira e promete novas iniciativas para evitar a votação de 30 de julho. Washington e Bruxelas pedem a Caracas que suspenda a votação mas Maduro mantém-se firme na pretensão de avançar para uma nova Constituição.
Anos de conflito, meses de manifestações diárias e pelo menos 95 mortos desde abril. É um retrato negro da Venezuela de 2017, perante uma situação que parece agravar-se de dia para dia.
A Venezuela não promete ficar melhor nos próximos dias, antes pelo contrário. A votação para a Assembleia Constituinte imposta por Nicolás Maduro está marcada para 30 de julho. A oposição acredita que o Presidente da Venezuela pretende alterar a Constituição para impor um regime semelhante ao que vigora em Cuba e exige que esta não se realize.
Apesar de informal e não reconhecida por Caracas, a consulta popular promovida pela oposição no passado fim de semana levou mais de sete milhões e meio de eleitores às urnas, um valor superior ao das últimas presidenciais e semelhante ao das legislativas de 2015, legitimando as forças oposicionistas ao regime.
Noventa e oito por cento dos votantes rejeitaram a eleição da Constituinte e pediram às Forças Armadas para acatarem as decisões do Parlamento, onde a oposição tem a maioria.
Apesar da votação expressiva e do acompanhamento de organizações internacionais, a consulta popular promovida pela oposição não é reconhecida pelo Governo de Caracas. Na sequência da votação, a oposição anunciou a assinatura de um acordo na quarta-feira para a formação de um futuro “governo de união nacional” e uma greve geral na quarta-feira.
A Mesa da Unidade Democrática apela a uma “greve geral massiva e sem violência de 24 horas” para “pressionar o Governo”. Depois da greve, promete-se uma “escalada definitiva” A nova vaga de protestos poderá incluir cortes de estradas e até mesmo uma marcha no Palácio de Miraflores, residência oficial de Nicolás Maduro.
UE e EUA pedem suspensão
Na luta contra Nicolás Maduro, a oposição conta com o contributo da União Europeia e dos Estados Unidos.
“Uma grande parte da população não apoia claramente a assembleia constituinte. A convocação de tal assembleia cria o risco de uma maior polarização do país e do aumento dos confronto”, defendeu Federica Mogherini.
A declaração da União Europeia não foi do agrado de Caracas, e mereceu resposta pronta de Nicolás Maduro. O sucessor de Hugo Chávez acusou Mogherini de ser “insolente” por “dar ordens ao Governo da Venezuela”.
“Pensam que ainda estamos em 1809 e que recebemos ordens dos impérios europeus. A Venezuela é um país livre, soberano e ninguém lhe dá ordens”, afirmou numa declaração televisiva. “A Venezuela não é uma colónia europeia”, rematou.
Os avisos não chegaram só da Europa. Os Estados Unidos saudaram a consulta informal levada a cabo pela oposição e ameaçam tomar medidas caso Maduro não suspenda a formação da Assembleia Constituinte.
“Os Estados Unidos não ficarão parados enquanto a Venezuela se afunda. Se o regime de Maduro impuser a sua Assembleia Constituinte a 30 de julho, os Estados Unidos tomarão medidas económicas fortes e rápidas”, avançou Donald Trump numa comunicado, sem avançar detalhes.
O Presidente dos Estados Unidos exige que sejam realizadas eleições “justas e livres”, tendo garantido que Washington estará ao lado “do povo da Venezuela na sua missão de conduzir o seu país em direção a uma democracia total e próspera”.
O Partido Socialista Unido da Venezuela vai usar um mecanismo de verificação da participação, chamado “4×4”, que vai incluir, além da verificação “de todas as empresas, de todos os trabalhadores” da função pública, telefonemas aos beneficiários dos programas sociais estatais e também a trabalhadores do setor privado.