Greta Thunberg chegou a Lisboa: “As pessoas subestimam a força das crianças zangadas”

Após três semanas a bordo do catamarã “La Vagabonde”, a ativista sueca Greta Thunberg chegou esta terça-feira à tarde a Lisboa, na doca de Santo Amaro. Perante mais de uma centena de pessoas, a jovem de 16 anos agradeceu pela receção, reforçou a urgência de se combater as alterações climáticas e pediu ao poder político para dar ouvidos à ciência.

Com chegada marcada para as 8 da manhã, o catamarã “La Vagabonde”, onde Greta Thunberg se encontrava, atracou na Doca de Santo Amaro às 12:45 horas, perante mais de uma centena de pessoas de todas as idades que esperaram pela jovem ativista durante toda a manhã, assim como um batalhão de jornalistas, muitos deles de órgãos de comunicação social espanhóis.

O atraso da chegada ter-se-á devido às marés que puxaram o barco no sentido contrário ao seu rumo e à navegação feita exclusivamente à vela.

Greta Thunberg deu então uma pequena conferência de imprensa depois de discursos do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, dos organizadores da receção e de membros da tripulação.

Agradecendo a todos os presentes, Greta disse-se honrada por ter chegado a Lisboa e pelo acolhimento que lhe foi dado. “Após uma viagem destas, em que tivemos três semanas isolados num espaço tão limitado e com tão poucas coisas para fazer, é normal que estejamos relaxados, pois estivemos desligados de tudo mais”, refere a ativista, dizendo-se um pouco “assoberbada”, mas que foi um sentimento “fantástico”.

“Eu e os outros ativistas ambientais não iremos parar, iremos continuar a fazer tudo ao nosso alcance”, prometeu a ativista, em vésperas de se deslocar à cimeira ambiental COP25, realizada em Madrid, onde constarão mais de 200 líderes mundiais. “Iremos continuar lá a luta, para garantir que dentro dessas instalações sejam ouvidas as vozes das pessoas e da geração futura”, prometeu Greta.

Dizendo ser necessário “trabalhar em conjunto para garantir que estamos a salvar a vida da humanidade”, Greta Thunberg lançou um apelo de urgência: “todos têm de fazer tudo o que puderem para garantir que ficam no lado certo da história”, avisou. Mesmo sendo possível que não saia “nada de concreto” desta cimeira, “tal como aconteceu nas reuniões anteriores”, a ativista diz que “isso nunca será razão suficiente para não fazermos tudo o que estiver ao nosso alcance para provocar uma reação”.

Questionada quanto aos seus planos no COP25, a ativista diz que o que ela e outros ativistas jovens estão a “exigir são passos claros”. “Não nos compete a nós, as crianças, os adolescentes, apresentar qualquer tipo de plano para garantir o nosso futuro”, esclareceu, sendo que “as pessoas com poder têm de dar ouvidos aos cientistas.” Quanto a esse aspeto, Greta disse que o movimento que ajudou a criar tem a capacidade real para promover mudança. “As pessoas subestimam a força das crianças zangadas”, afirmou.

Porém, perante as críticas de que o meio de transporte que escolheu para viajar entre a Europa e as Américas, por navegação, é caro e pouco prático, Greta defendeu não querer “dizer a ninguém como deve viajar”. “Não estou a fazer esta viagem porque quero que todos o façam, estou a fazê-lo porque é uma mensagem, é um símbolo”, disse a ativista, sublinhando, contudo, que “é impossível progredirmos se não houver sustentabilidade” e que “é claro que há alternativas mais sustentáveis” a viajar de avião.

Greta Thunberg recusou-se a ainda a comentar os esforços de Portugal quanto a tornar-se primeiro pais a tentar almejar a neutralidade carbónica, dizendo não conhecer o caso em concreto e apontando que “nenhum país no mundo está a fazer o suficiente“.

Greta Thunberg, de 16 anos, atravessou o oceano de barco em setembro passado para participar numa cimeira sobre alterações climáticas em Nova Iorque, convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres. A jovem recusou viajar num avião, meio de transporte bastante poluente, e optou por um barco à vela.

Depois de participar na cimeira de Nova Iorque a jovem ativista deveria ter viajado para o Chile, para a cimeira anual da ONU sobre o clima, no caso a chamada COP25. À última da hora o Chile renunciou à organização do encontro devido à instabilidade social no país, tendo a COP25 passado para Madrid.

Por esse motivo a jovem sueca embarcou em 13 de novembro, de regresso à Europa, no “La Vagabonde”.

De acordo com os organizadores da visita, não está prevista qualquer outra iniciativa da jovem — o que inclui as tentativas feitas de comparecer na Assembleia da República —, devendo viajar nos próximos dias para Madrid, onde decorre a cimeira das Nações Unidas sobre o clima (COP25). Greta participará na conferência climática, que começou na segunda-feira e que junta representantes de quase 200 países, signatários do Acordo de Paris, de redução das emissões de gases com efeito de estufa.

Greta celebrizou-se por todo o mundo por ter iniciado no seu país (Suécia) as greves pelo clima, em protesto pela falta de medidas dos políticos para fazer face às alterações climáticas. Hoje, é uma das vozes mais conhecidas na defesa do ambiente e as greves climáticas que iniciou são agora seguidas por milhões de jovens do mundo inteiro.

Entre quem esteve a aguardar Greta Thunberg constou o presidente da Comissão Parlamentar do Ambiente, José Maria Cardoso, que esperou poder deixar uma mensagem de reconhecimento à jovem ativista sueca pelo trabalho que tem feito “e pela luta que tem travado”.

Em declarações à agência Lusa, José Maria Cardoso destacou, acima de tudo, “o símbolo que ela [Greta] é de mobilização de milhões de jovens pelo mundo fora que querem fazer ouvir a sua voz e que querem mostrar o seu lado reivindicativo”.

“Sem dúvida é esta geração que mais vai sofrer com as alterações climáticas, caso não haja reversão da situação”, afirmou o parlamentar, acrescentando: “Ela, como símbolo desta contestação, serve de exemplo para muitos jovens”.

Também o líder do PAN, André Silva, quis marcar presença na receção à ativista sueca como forma de agradecimento por tudo o que tem feito em defesa do planeta.

“Ela tem sido fundamental para dar voz a este movimento que é cada vez maior, associado a um aumento e alargamento de consciências em torno do combate das nossas vidas, que são as alterações climáticas”, disse à Lusa o líder do PAN.

André Silva afirmou ainda que quer deixar a Greta Thunberg “uma palavra de coragem e agradecimento, para que continue a desempenhar este papel fundamental de trazer cada vez mais pessoas e pressionar uma classe política parada, inerte e que está presa à economia velha do passado, à economia do carbono e, acima de tudo, capturada por interesses económicos que não querem alterar”.

“É fundamental agir porque temos uma década até atingir um ponto de não retorno”, acrescentou.

A representar o movimento “Ação Greve Climática Estudantil”, Andreia Galvão afirmou à Lusa que esta ação [a greve climática estudantil], lançada por Greta Thunberg, tem sido fundamental para dar visibilidade aos problemas ambientais.

Andreia Galvão, que também pertence ao movimento “Figther for Future”, diz que é igualmente necessário perceber se o novo Governo vai ou não acrescentar algo à luta contra as alterações climáticas.

“Estamos num momento um pouco difícil pela luta pela emergência climática. (…) É importante que os jovens estejam empenhados na política e que façam erguer a sua voz na luta por esta causa”, considerou a ativista, salientando que este é um movimento transversal que deve envolver todas as pessoas.

Madremerdia