França: Normandia pede intervenção do exército, Marselha com reforço policial

01.7.2023 –

Após quatro noites de protestos e tumultos na sequência da morte de Nahel, o jovem de 17 anos que morreu baleado pela polícia e cujo funeral decorreu esta tarde, surgem apelos em vários locais de França para reforço policial ou mesmo militar.

Segundo o jornal francês LeParisien, Guy Lefrand, autarca de Evreux, comuna francesa na região da Normandia, pediu a Emmanuel Macron que chame o exército.

“Vive-se um caos todas as noites”, escreve o autarca em carta enviada a Emmanuel Macron que considera ter “nas mãos as competências soberanas que lhe permitem acabar com esta desordem republicana”. Em concreto, as medidas que sugere são a intervenção da polícia e do exército, considerando que se não acontecerem, os habitantes podem eles próprios pegar em armas para se defender.

Em Marselha, Benoît Payan, autarca da cidade, recebeu luz verde para reforço policial, mas mostra-se igualmente preocupado com a noite que se avizinha. “Teremos de sair por cima desta situação de forma a que a harmonia regresse ao país”, afirmou em declarações à BFM TV.

Em Marselha, os transportes vão parar às 18h00 para reduzir a mobilidade dos habitantes e evitar concentrações.

A autarquia pediu aos comerciantes que fechem as lojas mais cedo, mas não decretou recolher obrigatório, situação já em vigor noutras cidades.

Mais de 1300 detidos na França antes do funeral de Nahel

O funeral de Nahel realizou-se neste sábado em Nanterre, município a noroeste de Paris onde morava. Uma multidão reuniu-se no cemitério local, num clima de tensão, segundo um jornalista da AFP.
“Que descanse em paz, que a justiça seja feita. Eu vim para apoiar a mãe. Não tinha ninguém além dele”, disse à AFP uma mulher que não quis se identificar.
A morte de Nahel M. deu origem a quatro noites de tumultos em toda a França. Segundo as autoridades, na madrugada de sábado, 1.350 veículos foram incendiados, ou danificados; assim 234 edifícios; além da ocorrência de 2.560 incêndios na via pública.
O ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, disse que, na sexta-feira, a violência foi “de uma intensidade muito menor” do que nas noites anteriores, mas ainda assim houve 1.311 pessoas presas em todo o país.
O Ministério do Interior revelou também que 79 polícias e gendarmes ficaram feridos.
Nem os 45.000 agentes e os veículos blindados mobilizados em todo o país conseguiram deter os atos de revolta em cidades como Marselha (sul), ou Lyon e Grenoble, ambas no centro-leste, onde grupos de pessoas – em muitos casos encapuçados – saquearam lojas.
Em Paris e nos seus subúrbios, apesar da chuva, também houve distúrbios nesta madrugada.
As autoridades impuseram toque de recolher em pelo menos três cidades na região da capital francesa e em várias outras em todo o país.
Na manhã de sábado, comerciantes de várias cidades, como Lyon, faziam um balanço dos danos. “Na segunda-feira ligo para [a imobiliária] Omnium e ponho tudo à venda, já chega”, disse o dono de uma loja, situada numa rua sem circulação automóvel apenas repleta de entulhos, no centro da cidade.
Madremedia