Folio chamou 25 mil pessoas a Óbidos

Foram 600 mil euros de investimento para a primeira edição do Folio – Festival Internacional de Literatura de Óbidos, com centenas de convidados. Nem tudo correu como esperado, mas a organização diz que a aposta, por agora, está ganha.

Mais de 25 mil pessoas terão passado até sábado pelo Folio – Festival Internacional de Óbidos. O número provisório foi avançado pela organização que, face aos dados recolhidos, considera que esta primeira edição “não desiludiu”.

Não obstante reconhecerem algumas falhas de funcionamento, sublinham que estas são compatíveis com as dificuldades que sempre se deparam perante algo que surge de raiz. “Aprendemos com os erros e vamos corrigi-los na próxima edição”, garantem.

A “grande festa da literatura, do livro e das ideias”, como a definiu o escritor José Eduardo Agualusa, ele próprio curador de um dos segmentos do festival – o Folia Autores – recebeu algumas centenas de autores e criadores, portugueses e estrangeiros e alguns nomes maiores da literatura mundial. E muitos deles provocaram verdadeiras enchentes de público, como foi o caso da sessão em que participou o moçambicano Mia Couto.

Perante uma plateia muito atenta o autor de “A confissão da Leoa” afirmou que sempre teve “a ideia ingénua de que a verdade tem de ser harmónica”. Confrontado com os avanços da ciência e com a probabilidade muito real de se trazerem para o presente animais já extintos, como por exemplo o mamute, o escritor, biólogo de formação, não se mostrou muito entusiasmado com a ideia. “Gostava de ver salvo de extinção o sentido de humanidade”, comentou a propósito.

Outro dos autores que passou pelo Folio foi Francisco José Viegas, de quem se pode contar com um novo livro em Fevereiro do próximo ano.

“A poeira cai sobre a terra e outras histórias sobre Jaime Ramos” será o título dessa obra. De acordo com o autor trata-se de “um conjunto de cinco histórias, todas elas sobre mulheres, e que têm como elemento de ligação a figura incontornável do detetive, Jaime Ramos. .

“Tive sempre a intenção de que este fosse um detetive ao contrário dos outros. Sem problemas de álcool, de drogas, de casamentos… Ele não tem nada disso. É uma pessoa normal dentro do possível. E porquê? Porque é uma pessoa Porto, que vive no Porto. No fundo, como diz um amigo meu, o grande personagem literário do Porto é o Jaime Ramos. E isto porque não há, nos últimos tempos, ficção sobre o Porto. Eu já escrevi oito romances sobre a cidade e em todos eles o o detetive é o protagonista. Vive no coração do Porto, percorre os seus lugares. Isso faz dele também uma espécie de emblema sombra da própria cidade”.

O Fólio, que terminou este domingo, teve um investimento na ordem dos 600 mil euros. “Este foi o primeiro capítulo de um projeto ambicioso, como os próprios organizadores reconhecem. E, para primeira edição, teve o mérito de trazer até Óbidos uma forma refrescante de falar de livros, de literatura e de artes criativas em geral. E de materializar o que poderia ser utopia.

Fonte JN