Famílias devem mais de 25 mil milhões aos bancos

Novos créditos superaram amortizações em mil milhões de euros, com bancos a conceder mais de 350 ME para consumo por mês

Mais confiança na economia e maior disponibilidade dos bancos para darem crédito ao consumo, que tem taxas de juro mais elevadas e ajuda a margem das entidades financeiras. Foram estes os ingredientes que permitiram que o valor destes empréstimos atingisse, em 2017, o valor mais alto em quatro anos.

O stock de crédito ao consumo subiu 983 milhões de euros durante o ano passado, totalizando 25,14 mil milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal. Desde final de 2013 que o montante total em dívida aos bancos no consumo não era tão elevado. Em média, os bancos têm concedido 350 milhões por mês em crédito ao consumo. Foi o único segmento em que o ritmo de novos empréstimos superou o das amortizações.

“O consumidor é sempre muito reativo (pela positiva) à oferta de crédito, sobretudo em contextos de maior confiança, como é o caso. Portanto, é fácil de explicar por esta via o aumento do stock de crédito ao consumo”, diz Filipe Garcia ao DN/Dinheiro Vivo. O economista da IMF alerta, no entanto, que “há espaço para os “mesmos erros” do passado com os portugueses a arriscar situações de sobre-endividamento”.

O Banco de Portugal também já tinha notado a subida neste tipo de crédito. “Este crescimento deveu-se primordialmente ao financiamento para aquisição de automóvel, num contexto de melhoria do mercado de trabalho, de crescimento significativo do rendimento disponível real e de expectativas favoráveis quanto à evolução da situação económica geral”, explicou.

No crédito à habitação, apesar da nova concessão de empréstimos estar a acelerar, o valor do stock voltou a descer. O montante total de empréstimos para a compra de casa no balanço dos bancos desceu 1,64 mil milhões de euros, somando agora 98,67 mil milhões. Isto apesar de, em média, os bancos terem emprestado 675 milhões de euros por mês para a compra de casas.

Filipe Garcia explica que “no crédito hipotecário também se tem registado um aumento das novas operações de crédito, mas o stock ainda não aumenta porque a amortização dos créditos mais antigos mais do que compensa as novas operações”.

Mas se os dados do crédito às famílias indiciam que os bancos estão a abrir a torneira, no financiamento às empresas o cenário é diferente. O stock dos empréstimos a empresas privadas desceu 3,24 mil milhões de euros, atingindo 71 mil milhões. Apesar de ser transversal a todo o tipo de empresas, no crédito às microempresas nota-se uma tendência de descida mais moderada.

No segmento de crédito a sociedades não financeiras “os bancos são mais criteriosos na concessão de crédito, preferindo as empresas que parecem ser menos arriscadas”, observa Filipe Garcia. Mas conclui que as empresas menos arriscadas “parecem menos interessadas em endividar-se”, o que ajuda também a explicar a redução do crédito.

Rui Barroso / DN