Num país onde quase todos andam preocupados com a floresta e com os incêndios que podem acontecer outra vez, parece-nos a nós que há quem brinque com tudo isto.
Sem que as responsabilidades governamentais sobre os males que assolaram as gentes nos incêndios de Junho e Outubro estejam resolvidas (há muita gente ainda sem o dinheiro prometido ou sem casas), sabe-se que dois terços dos municípios ainda não têm Planos Municipais de Defesa das Florestas contra Incêndios (PMDFCI) aprovados. A maioria dos municípios tem um plano de defesa contra incêndios, mas, à data em que entrou em vigor a lei do Orçamento do Estado, a maioria desses planos tinha já vários anos, necessitando, por isso de uma actualização. E, por demora das próprias câmaras ou por desleixo do organismo governamental que tem a aprovação nas mãos, nada está feito nestes dois terços dos municípios.
Por outro lado, merece também destaque o que a justiça portuguesa decidiu no processo Fizz, no que toca a Manuel Vicente, remetendo o seu processo para Angola, o que para o governo e para o presidente da República até é uma boa notícia. Mas não é. Com esta medida, acreditando eles que a justiça será feita em Angola, contribuíram que não vá haver justiça. Só para não esquecermos, a decisão vai ao encontro das pretensões da justiça angolana que tinham sido sucessivamente rejeitadas pelas autoridades portuguesas. Manuel Vicente é suspeito de corrupção ativa e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Fizz. O ex-vice-presidente de Angola e ex-líder da Sonangol goza de imunidade e, se for julgado (o que duvidamos) só lá para dia de são nunca. Ana Gomes, eurodeputada socialista, diz que “É de uma hipocrisia serem utilizados este tipo de argumentos para justificar uma decisão que é uma tremenda demissão da justiça portuguesa e uma tremenda derrota da Justiça portuguesa”. “Isto não vai aliviar as relações entre Portugal e Angola. A única coisa que pode aliviar as relações entre Portugal e Angola é que Portugal faça o que tem de fazer para não continuar a ser a lavandaria dos corruptos da cleptocracia em Angola”, sublinhou.
As críticas não ficam por aqui e o jornal “Folha 8” escreve que “ o MPLA manda e Portugal ajoelha, reza e agradece”. Luaty Beirão, activista angolano dos direitos humanos, considerou ser necessária uma “grande dose de fé” para encarar a decisão da Justiça portuguesa, de transferir para Angola o processo judicial que envolve o ex-vice-Presidente da República, Manuel Vicente.
Enfim, neste país do faz de conta cá vamos vendo e aprendendo para ver se acordamos de uma vez por todas.
António Veríssimo