“Como prometido, aqui ficam algumas considerações acerca do Turismo em Cantanhede. Mais uma vez, tentarei ser breve nas palavras.
Comecemos por contextualizar Cantanhede do ponto de vista turístico.
“Praia, Gândara e Bairrada são os três degraus de vida do Concelho de Cantanhede”
(Professor José Hermano Saraiva)
É com as palavras de nobre personalidade que começo a caracterizar Cantanhede, pois são precisamente estes/as três lugares/regiões, que definem o Concelho na sua maioria. Não esquecendo, obviamente, outros pontos de referência história, cultural, gastronómica e arquitetónica, como as Vilas de Ançã (património edificado) e Febres (ouro) ou Covões (Leitão à Bairrada) e Cordinhã (a terra do vinho).
Como será de esperar, pensar em turismo em Cantanhede não pode ser dissociado da Regiões da Bairrada e Gândara, ainda que outros Municípios também façam parte destas. Como tal, qualquer estratégia de promoção turística terá de ser feita como um todo, promovendo toda a região centro litoral e não apenas este Município específico.
É importante também percebermos o que temos atualmente e que impactes poderão advir de futuras políticas de desenvolvimento turístico que se poderão implementar. O que quero dizer com isto é o seguinte:
Em primeiro lugar, é importante clarificar alguns conceitos aliados ao Turismo e o que ele representa para as cidades. Acredito que quando falamos em promover o Turismo é importante responder a uma questão muito sensível, que acarreta consequências e medidas completamente díspares uma da outra, embora sobre o mesmo tema: Qual o nosso objetivo ao promover o turismo? Esta questão, à partida, parece-me ter duas respostas possíveis. Ou pretendemos aumentar o número de turistas (pessoas que passam mais de 24 horas fora do seu meio – implica a sua estadia) e de excursionistas (pessoas que passam menos de 24 horas fora do seu meio – visitantes), ou pretendemos promover o Município a fim de aumentar o número de residentes. Estas duas respostas, têm abordagens completamente diferentes. No primeiro cenário, o resultado dos visitantes é convertido em consumo interno, aumentando o produto dos comerciantes e empresários locais, resultando em mais investimento que pode levar a vários fins, nomeadamente o aumento de oferta de hotelaria, restauração e produtos turísticos de lazer. Claro está que a longo prazo existem consequências que podem ou não ser desejadas para os residentes locais, como zonas de diversão noturna, por exemplo, que normalmente causam outras consequências como vandalismo, insegurança e ruído. Por outro lado, este consequente investimento pode contribuir para o bem-estar da população que beneficia de uma oferta lúdica maior e que, por isso, acaba por responder ao segundo cenário aumentando a longo prazo o número de pessoas que podem querer optar por se instalarem por estes lados.
Resumidamente, no primeiro cenário teremos de promover o evento ou programa turístico específico para que este traga o maior número de visitantes possível e adequado, que se traduz naturalmente em receita. No segundo cenário, temos um conjunto de políticas de longo prazo que prevejam um sustentável crescimento do investimento local por forma a que o município cresça da forma que pretendemos que cresça. Este segundo cenário traz algumas questões.
PROBLEMÁTICA:
Como nos é conhecido, o aumento significativo do Turismo pode ter consequências graves nas cidades. Veja-se o caso dos grandes destinos europeus como Lisboa, Roma ou Barcelona, que neste momento adotam medidas extremas de controlo turístico. O excesso de investimento externo traz grandes problemas para as cidades como a sua descaracterização, alterações nas dinâmicas locais próprias, especulação imobiliária e consequente abandono de residentes dos centros histórico/turísticos. Estas realidades são completamente diferentes daquilo que temos por aqui, até por uma questão de escala, mas é importante perceber o impacte das decisões no território. É precisamente nesta linha de pensamento que temos que ser cautelosos na forma como queremos “invadir” as nossas terras. Por um lado, queremos novidade, entusiasmo e alegria de viver, ou seja, desenvolvimento. Mas por outro, também não queremos comprometer aquilo que conhecemos ser muito próprio desta região, a qualidade de vida.
CANTANHEDE
Em Cantanhede, encontramos uma oferta consideravelmente interessante ao nível do Turismo de Eventos. Falo por exemplo da Expofacic, Ladies Open (Tenis), Campeonato Mundial de Ginástica Aeróbica, Folk, DixieLand (evento que não acontece hoje, mas que faz parte do programa autárquico do atual executivo camarário – esperemos que se cumpra), entre outros. Estes eventos resultam, no sentido em que trazem muita gente de fora para visitar o município, com ou sem estadia, o que se traduz, uma vez mais, em receita própria. No entanto, temos muitos outros produtos turísticos por explorar, sejam, as praias, a Natureza, o Turim Cultural e Paisagístico, a Gastronomia e Vinhos, etc.
Será importante perceber se queremos aumentar as dormidas disponíveis ou se a oferta que temos é suficiente. Por outro lado, talvez a oferta que temos seja superior à procura, e neste caso é importante perceber também o porquê. De facto, como cidadão cantanhedense, identifico um problema, que na minha opinião é grave: a divulgação. Visto termos produtos turísticos de qualidade, é importantíssimo saber divulgá-los. O investimento turístico não seria responsabilidade do Poder Local, pois é importante deixar espaço ao Privado, no entanto a articulação programática, os incentivos, e a promoção são responsabilidade autárquica. Claro está que, há infraestruturas que só uma autarquia pode promover, como referi num texto anterior, tais como: ciclovias turísticas, equipamentos de utilização coletiva como museus e salas de espetáculo ou até arranjos urbanísticos e paisagísticos que promovam o passeio e recreio, nas praias por exemplo. No entanto, e excluindo este tipo de investimentos, só com políticas de incentivo ao turismo e promoção externa se consegue mostrar ao transeunte o que Cantanhede e suas regiões têm de melhor, e o que vale a pena visitar. Talvez se a divulgação for repensada e estudada, a oferta turística aqui presente se mostre mais que suficiente, aumentando o número de visitas e de estadas e, consequentemente, o interesse externo em visitar Cantanhede (e quem sabe… ficar).
EM SUMA
Haverá muito mais a dizer e francamente gostava de o fazer, mas teria de ser por outros meios que não este.
A oferta turística é abundante. O interesse em Cantanhede seria mais que justificado. O problema é que nem nós, cidadãos, temos conhecimento de tudo o que é possível fazer por aqui, como muito menos os potenciais turistas. A divulgação e a boa promoção são essenciais para o sucesso turístico da praia, da Gândara e da Bairrada. Esperemos que algo mude…”
GONÇALO MAGALHÃES