Espetáculo etnográfico em Coimbra sob o signo do Espírito Santo

O Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) apresenta um novo espetáculo, na sexta-feira, em que a devoção ao Espírito Santo, nos Açores, simboliza a “capacidade de sonhar” dos portugueses e do próprio organismo.

A diáspora e a religiosidade popular das ilhas açorianas servem de “pano de fundo etnográfico” ao espetáculo “De novo mar”, com o Espírito Santo a representar “a capacidade de sonho e de superação coletiva” no processo de “resgate da memória” assumido pelo GEFAC, que celebrou 50 anos em 2016, disse hoje o coordenador geral do grupo, Vasco Nogueira, à agência Lusa.

“O Espírito Santo serviu lindamente” para traduzir essa “ideia de harmonia e comunhão” vivida por centenas de estudantes que, desde os anos 60 do século XX, passaram por este organismo autónomo da Associação Académica de Coimbra, acrescentou.

“De novo mar” é apresentado no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, na sexta-feira, às 21:30, no âmbito da Mostra de Teatro Universitário.

O novo trabalho surgiu no contexto das comemorações do 50.º aniversário do grupo, que “trabalha sobre a memória e cria memória”, disse Vasco Nogueira, indicando que o coletivo — atuais e antigos estudantes da Universidade de Coimbra e de outros estabelecimentos de ensino da cidade — esteve de acordo quanto à importância de “refletir sobre o próprio GEFAC”.

“Quisemos perceber de que forma a memória funciona e que sentido é que faz o GEFAC existir e continuar a fazer espetáculos”, referiu.

“De novo mar” é constituído por três partes: sobre “o resgate da memória ao esquecimento”, “o sonho e o Espírito Santo” e “a viagem e o futuro”, respetivamente, emergindo o GEFAC como “espaço de comunhão, de partilha e de encontro”, adiantou.

Para o jovem médico, a memória, “para poder servir também o futuro”, tem de ser “sonhada individual e coletivamente”, como “âncora de um barco que tem de zarpar, mais cedo ou mais tarde”.

Da penumbra, segundo a sinopse do espetáculo, “ergue-se uma sombra, aflora um gesto, ecoa um som nunca ouvido — fragmentos de memória das coisas e de um corpo que não se conhece mas se reconhece”.

“O fluir do tempo, que tudo arrasta e dilui, é veículo da torrente da memória que desagua no mar e impele à partida, ao sonho e ao desassombro. Por isso, se precisa de um cais, onde o imaginário coletivo encontra terra firme e preenche o vazio de quem fica, de quem eternamente regressa e de quem finalmente aí se reencontra”, descrevem os autores.

“De novo mar” teve conceção artística do GEFAC, em colaboração com Filipa Malva (cenografia e figurinos), Leonor Barata (coreografia), Eduardo Pinto (vídeo) e Jonathan Azevedo (desenho de luz).

 

Fonte: Lusa

Foto: wikipedia