Entrevista Poética: Joaquim Barbosa

1 – Perfil do Poeta:

  1. a) Nome: Joaquim Ferreira Barbosa
  2. b) Profissão: Aposentado da PSP
  3. c) Residente (localidade) Galegos, Penafiel

2 – JM. – Como se define em termos de ser humano?

Considero-me uma pessoa comum, com virtudes e defeitos, sem falsa modéstia, com muito mais daquelas do que destes. Sempre disponível para ajudar o próximo e, com uma enorme vontade de mudar o mundo. Como se isso fosse possível, mas lá vontade não me falta.

3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos ou outros? Mencione dois ou três.

Adoro ler. Leio de tudo um pouco. Com certeza que tenho uma especial apetência para ler poesia. E como não podia deixar de ser, porque é mais do que um lugar comum…Fui muito marcado pelo cunho poético de Camões. Luís Vaz de Camões. O grande e incomparável Camões, o homem de quem não se sabe quando nasceu, 1524 ou 1525, nem sequer se sabe como morreu, (talvez de peste em 1580); Fernando Pessoa e tantos outros  ilustres poetas da nossa Praça, sem esquecer Florbela Espanca. (Curioso os poetas morrerem na miséria).

Mas, falar sobre este tema daria só por si, azo a uma extensíssima entrevista.

4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.

Bebi um pouco de todos eles, mas comecei a escrever poesia na minha adolescência, um pouco por brincadeira, nas cartas que enviava às namoradas e pretensas namoradas…

5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? ( Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros)

As novas tecnologias abriram também as portas à publicação de escritos de vária ordem, entre eles a poesia, que abunda pelo Facebook e os grupos próprios de publicitação de poesia, mas e como não podia de deixar de haver um mas, sem pretender ser polémico, nem caústico, alguns grupos apenas servem para servir a sua clientela (amigos). De que vale publicar um poema num grupo com 5.000 aderentes se se sabe de antemão que não se vai ter um like, ou um comentário. Quando é certo que nesse grupo se arrogam de ter uma catrapada de administradores e comentadores. Fica aquela vazia sensação de que ninguém lê.
Participei em várias antologias poéticas, algumas com muito prazer, bem como em alguns saraus, mas ultimamente tenho escrito para mim. Porque aí sim, sei que tenho um leitor.
Ainda não publiquei nenhum livro a sós, porque entendo que pagar para publicar, não é o melhor princípio, quando o dinheiro faz falta para tantas coisas. Todavia não está fora de questão um dia publicar em livro só meu, parte dos cerca de cinco mil poemas que tenho em carteira.

6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.

Outra questão pertinente, à qual dei uma pequena achega nas respostas anteriores. Acho que:- Presentemente há muita gente a escrever, demasiadas editoras, as quais existem pelo lucro, como é natural. Porém, entendo que deviam apoiar um pouco mais os autores, depois destes lhe porem um menino (livro), nos braços e isso não acontece. Editam um determinado número de livros, o autor fica obrigado a vender uns quantos, os outros são encaminhados para algumas livrarias, mas dos quais nunca mais ninguém sabe o destino. ( Digo eu)…Verifica-se depois que os autores andam em peregrinação pelo país a tentar vender as suas obras. No meu entender; a mina das editoras é a edição de antologias/colectâneas, com um grande número de autores. Fica mais barato para estes publicarem os seus trabalhos e é garantido o retorno/lucro das editoras.

7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?

Não posso dizer que tenha escrito nada de especial, embora tenha consciência que uma percentagem de cerca de 10% dos cerca de cinco mil poemas escritos, tenha muita qualidade, mas daí a ter a pretensão de ser um autor consagrado, vai uma distância de anos luz.

8 – JM. – Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.

Tenho um poema que me marcou muito por diversas circunstâncias, está publicado numa antologia poética, estava a escrever para uma outra antologia, que se intitulou “DESPERTAR DOS SENTIDOS” e, despertei os meus:
É um poema que mesmo agora acho actualíssimo

DESPERTEI OS MEUS SENTIDOS

Despertei os meus sentidos

Pois pareceu-me ouvir gemidos

De alguém que estava a chorar…

Estava escuro como breu

E nem as estrelas do céu

Bastavam para iluminar.

 

Lá fora continuava

O soluçar que ilustrava

O desespero de alguém…

Que se estaria a passar?

Para alguém assim desabafar!

As mágoas que o corpo contém.

 

Ao som dirigi meus passos

E estendi os meus braços

À criança que chorava.

Perguntei qual o seu nome

Disse-me que tinha fome

De nada mais se lembrava.

 

Para minha mesa a levei

Da minha comida lhe dei

E dela quis saber mais!

Porque estava assim sozinha?

Coitada da pobrezinha!

Onde estavam os seus pais?

 

Disse-me com voz embargada

Que tinha sido abandonada

Seus pais não tinham que comer…

Quantas pessoas nesta hora

Meu Deus… Por esse mundo fora!

Com fome estão a sofrer!

 

Seus pais perderam o emprego

A estabilidade e o sossego

Perderam a casa a seguir…

Abandonaram os filhos

Empurrados para outros trilhos

Vivem na rua e a pedir.

 

Este quadro reflecte

Aquilo que se repete

Tantas, tantas, tantas vezes…

Basta apenas estar atento

Para ver dormir ao relento

Cada vez mais portugueses.

 

Constantemente em conflito

Aos céus eu lanço o meu grito

Contra a fome e a pobreza.

Para despertar os sentidos

Aos causadores dos gemidos

Heróis de tão triste proeza.

 

(Joaquim Barbosa)

9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente. Incentivaria uma escola para declamadores?

Não acho que haja medo de ler poesia. Há mesmo muita gente, de todas as idades a ler poesia. Há muita gente, tal como eu que gostam muito de ler poesia e há poesia com muita qualidade, mesmo de autores contemporâneos. Quanto aos sarus poéticos. Têm a assistir apenas as pessoas que gostam de poesia e alguns têm mesmo muita gente, mas e lá voltam os mas, depende de quem organiza e da simpatia que recolhe no meio e, também da frequência com que se organizam, para não se tornarem pesados e rotineiros. Podia dar exemplos, mas ia ser polémico e fico-me.

Declamadores:- Há declamadores que nasceram com esse dom. Há alguns que não passam de leitores e há muitos, mas mesmo muitos imitadores. Para não referir aqueles que tanto tentam imitar que caiem no ridículo. Há dias assisti a mais um momento desses, mas são casos que não têm emenda. (Digo eu)…

10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?

Todos, com excepção da janelinha do Facebook. Onde há casos de alguns poetas e pretensos poetas que se julgam de outro planeta, superiores a todos os outros, sempre prontos a apontarem-lhe o dedo. No fundo, bem no fundo, acho que para esses não é mais do que uma passerelle de vaidades. Costumo dizer que não sou tão pouco um pretenso poeta, por isso passo ao lado de algumas polémicas, mas não as ignoro…

11 – JM. Verifica-se que hoje em dia existem uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números?

Já respondi a esta questão, resumindo a parte final da pergunta em si, encerra a resposta.

 12 – JM. Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?

Reza a história que um homem completo, faz um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Tenho dois filhos. Plantei muitas árvores. Para além de participar em obras conjuntas, livro a solo ainda não escrevi, mas, se um dia o fizer é porque terei dinheiro de sobra para o fazer e então a edição será para oferecer.

13 – JM. Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma pagina ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?

Tenho apenas o meu perfil no Facebook, onde publico de vez em quando os meus escritos, porque, tal como referi atrás, sei que me leio e nos grupos, na maioria dos grupos onde publicava, ficava sempre com a dúvida se mais alguém me lia.