Entrevista poética de Adelina Antunes

1 – Perfil do Poeta:

  1. a) Nome: Adelina Antunes
  2. b) Profissão: Administrativa
  3. c) Residente (localidade): Loures

2 – JM. – Como se define em termos de ser humano?

Ninguém se consegue definir a si mesmo como ser humano. Podemos fazer, agir, ajudar, estar presentes mas… terão que ser sempre outros a definir-nos como tal.

3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos ou outros? Mencione dois ou três.

Sempre gostei de ler mas nunca me senti inclinada para este ou aquele autor. Procuro o livro (ou o texto) pelo seu conteúdo e não pelo autor no entanto gosto de ler desde Florbela Espanca a Fernando Pessoa, Miguel Sousa Tavares ou J. K. Rowling, Roberto Bolaño e Stephen King, José Rodrigues dos Santos ou Dan Brown… sem deixar de parte tantos outros que constam das minhas estantes e dos quais fazem parte nomes como George Eliot e Carlos Castilho Pais.

4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.

Nenhum autor em especial me levou à escrita da poesia. A poesia é algo que surge do que vejo nas pessoas com quem me cruzo. Que falam comigo ou que, de um modo ou de outro me “transmitem” sentimentos.

5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? ( Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros)

Apesar de sempre ter escrito, comecei a divulgar alguns dos meus textos, e poemas, junto de colegas da faculdade que me incentivaram a publicar um livro. Surgiu assim “Mementos” em 2012 e, em 2014, “Quimeras”. Participei ainda em diversas antologias mas a aceitação do que faço não é nem nunca foi um objetivo. Escrevo pelo prazer de escrever e de conseguir expressar sentimentos que capto em quem me rodeia. Mantenho uma página no Facebook: “Para além de mim”, dois blogs: “Assincronias” e “Invisível na multidão”, e uma página: “80 20 crónicas e entrevistas”. Publico quando penso ter algo a dizer. Se me leem ou não, se tenho mais ou menos visibilidade…foi algo que nunca me preocupou.

6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.

A edição de livros, em Portugal, está – infelizmente – condicionada por muitos lobbies. Ou o autor é reconhecido e garante êxito ou as editoras não se interessam. Editar em nome individual implica ter o capital suficiente para os gastos com a editora ou, em alternativa, optar por uma edição de autor que não garante destaque nem divulgação em livrarias.

7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?

Absolutamente nada! Não acredito que qualquer autor possa, ou deva, ter a pretensão de que merece ser consagrado. Até porque essa escolha pertence ao público. Aos leitores. Aos média… mas nunca ao próprio.

8 – JM. – Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.

Esta é uma questão deveras complicada. A maioria dos autores escreve o que sente. “O que lhe vai na alma”. Embora não consiga afirmar que nunca escrevi o que me vai na alma, escrevo essencialmente sentimentos que capto em quem me rodeia. Assim sendo não há um específico com que, verdadeiramente, me identifique. No entanto, e pelo contexto em que foi escrito, posso transcrever “Velha parede” pela dualidade de sentimentos que encerra e na qual muitos nos poderemos rever.

 

Velha parede

 

Há anos que aqui estou e ninguém parece dar por mim

Muitos passaram vidas inteiras sem saber que existo

Pássaros descobriram meios de fazer os seus ninhos nas minhas fendas

Pequenos, bem sei. Mas enquanto aqui estão enchem-me de vida!

Insectos rastejantes percorrem-me noite e dia

Em tempos tive um ar grandioso. Imponente! Sentia-me importante

Depois…, a chuva, o vento, intempéries de toda a espécie fizeram de mim o que sou hoje

Uma velha parede onde jovens irrequietos expandem sua arte

Até esta está a desaparecer

As cores esbateram-se. O negro das águas invadiu-as, descoloriu-as, sufocou-as

O meu mundo parece querer desabar a cada instante

Sentimentos de derrota, de derrocada, não saem da minha mente…

….

Olho-te e vejo a imponência que um dia tiveste

Apesar de velha, com ar de quem pode cair a cada momento

Conservas muita da tua grandeza

Cada fenda representa uma ruga. Uma vida vivida.

Um sentimento que alguém te conseguiu transmitir

Cada risco, cada traço, ainda que descolorido

Um sentimento que aí foi exposto, que aí ficou esquecido

Quantos sentimentos guardas dentro de ti?

Quantas dores? Quantas alegrias? Quantos amores?

Olho para ti e não consigo deixar de pensar se um dia te conseguirei igualar

Tenho vivido muito. Sofrido bastante. Amado que baste

No entanto nada do que viva, nada do que passe te conseguirá igualar

Me fará ser como tu. Grandiosa! Majestosa em toda a tua plenitude

A inquietude a que tenho estado sujeita

Reflecte-se no meu estado. No teu estado

Cada fenda, uma dor. Um desvario. Um pecado

Podes não o saber, mas em ti cresce vida. Existe amor

Ainda tens a capacidade de proporcionar abrigo

De deixar que dentro de ti floresça o que de mais belo no mundo existe

Vida! Amor. Para quem te procurar.

Já não são pessoas. É verdade.

Mas o amor existe em diversas formas com a mesma intensidade

Eu… aqui ao teu lado, sinto a insignificância que foi a minha existência

Não proporcionei abrigo

Não fomentei amor

Não servi de apoio…

Olho-te e apenas consigo ver uma sombra do que podia ter sido

Uma imagem difusa do que podia ter vivido.

Olho-te e sinto que meus olhos se enchem do nada da minha existência

De que me adiantam as rugas se não têm memória?

De que servem as fendas se não contam nenhuma história?

Junto a ti sinto-me impotente

Recordo a vida, revejo o presente

Cada dia passado e tão mal vivido

Cada momento sem história. Cada ano sem glória

Ambos nos encontramos no limiar da vida

A minha inglória

A tua jamais esquecida!

 

9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente.Incentivaria uma escola para declamadores?

O medo de ler poesia centra-se nos preconceitos existentes na nossa sociedade. Poesia é sentimento e o sentimento ainda é tido como “pieguice”. Algo de mulheres carentes. De homens “fracos”. No entanto, e se virmos a quantidade de pessoas que escrevem poesia (no Facebook, por exemplo) vemos que esse é um preconceito com tendência a cair. Que cada vez mais há homens a escrever poesia e não apenas homens já com um historial de vida mas também jovens que não têm receio de extravasar o que sentem através da poesia.

Claro que incentivaria uma escola de declamadores até porque se temos muito quem escreva bem, há muito poucos capazes de declamar um poema como ele merece ser declamado.

10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?

A poesia é um género que não vende. Logo as editoras não investem em poesia. E se por acaso o autor toma a iniciativa de procurar apoio, seja através de instituições públicas ou privadas, as respostas são quase sempre negativas. Quem decide publicar um livro de poesia ou o faz a expensas próprias ou terá que ser muito paciente e insistente na busca de apoios. Para além disso terá que ser o próprio a tratar da divulgação.

11 – JM. Verifica-se que hoje em dia existe uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números?

Assiste-se neste momento a uma explosão de editoras que apostam nas antologias o que, se considerarmos apenas a questão monetária, é perfeitamente compreensível. Ao editar uma antologia cada autor participante paga uma determinada quantia e abdica de receber qualquer contrapartida que não seja ter um livro (coletivo) do qual faz parte. Dependendo do número de participantes a editora não só consegue cobrir todos os gastos como consegue, logo à partida, um lucro considerável. Perde-se em qualidade pois na ânsia de ter um número de participantes que permitam cobrir todos os encargos não há uma verdadeira seleção, e o autor nunca chega a ser reconhecido. As coletâneas não são vendidas a não ser aos próprios o que não garante um mínimo de visibilidade.

As editoras, como empresas que são, visam o lucro. Se a poesia é um género que não dá lucro é evidente que nenhuma apostará nesse género. Não importa se são muitas ou poucas pois quem se der ao trabalho de enviar um livro para qualquer editora vai receber as mesmas propostas (ou muito idênticas) em que o autor suporta os encargos, fica com um determinado número de livros e a partir do momento em que este é lançado, vê-o cair no esquecimento.

12 – JM. Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?

Até agora editei dois livros: “Mementos”, pela Corpos editora e que pode ser adquirido em http://www.worldartfriends.com/store/1624-adelina-antunes-mementos.html, e “Quimeras” pela editora Lugar da Palavra e que pode ser adquirido na Bertrand http://www.bertrand.pt/ficha/quimeras?id=15854538, ou fazendo o pedido directamente pelo meu mail: [email protected]. Para além destes participei nas coletâneas “A vida num sonho – antologia lua de marfim” da Lua de Marfim Editora, Lda. À venda em http://www.bertrand.pt/ficha/A%20Vida%20Num%20Sonho/?id=14762731, “Beijos de Bicos” da Pastelaria Editora, à venda em http://www.bertrand.pt/?palavra=Beijos%20de%20Bicos&restricts=8066&facetcode=temas, , com o pequeno conto “O noivo”, ainda da Pastelaria Editora “Aqui há Poetas – Poesia sem Gavetas II” à venda em http://www.bertrand.pt/ficha/poesia-sem-gavetas-ii?id=15345806 ,   com três poemas “E se…” ; “Feriste-me” e “Prisioneiro” e na antologia “7 Pecados”, à venda em http://www.bertrand.pt/ficha/7-pecados?id=15345801, com o conto “Mariana”. Participei ainda na edição do livro “O meu silêncio” de José Lopes – O Poeta do Silêncio, editado pela Pastelaria Editora como autora da imagem da capa e do prefácio e à venda em http://www.bertrand.pt/ficha/o-meu-silencio?id=15345796, e na Antologia “Diga não, diga sim, em dia de São Valentim” da Notag, à venda em http://notag.org/,  onde é possível encontrar os poemas “Aquele querido mês de agosto”, “Só o que somos” e “Apenas nós”. Em 2014, pela comemoração da revolução de 25 de abril de 1974, participei na coletânea “25-04-1974” da Pastelaria Editora à venda em http://www.bertrand.pt/ficha/25-de-abril?id=15951508 .

13 – JM. Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma página ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?

Tal como referi anteriormente possuo alguns sítios na Internet onde os meus trabalhos podem ser vistos. É o caso da página do Facebook “Para além de mim”: https://www.facebook.com/ParaAlemDeMim, a página “80 20 crónicas e entrevistas”: http://www.80-20-cronicas-e-entrevistas.com/, os blogs: “Assincronias”: http://afraanil.blogspot.pt/, e “Invisível na multidão”: http://invisivelnmultidao.blogspot.pt/, no site Adelina Antunes http://antunesadel.wix.com/adelina-antunes, ou ainda, de uma forma diferente pois nada tem a ver com a escrita na página “Quimeras” em http://olhares.sapo.pt/Quimeras/, onde posto algumas totografias.

– EM BAIXO ESCREVA O QUE ENTENDER SOBRE SI E A ARTE POÉTICA.

Não me dedicando exclusivamente à poesia, esta está presente na minha vida de diversas formas. No que vejo, no que sinto, no que apreendo de quem me rodeia. Gosto de ver cada dia novos autores que se dedicam à arte poética e se alguns têm um nível mais “básico”, chamemos-lhe assim, encontram-se autores de grande profundidade e que, esses sim, merecem o reconhecimento público.