1 – Perfil do Poeta:
a) Nome: José Vicente Faria
b) Profissão: Técnico Superior Principal (Aposentado) – Função Pública
c) Residente (localidade): Oeiras
2 – JM. – Como se define em termos de ser humano?
V.F. – Não é fácil definirmo-nos a nós próprios, porque poderá parecer pretensioso e despropositado mas, em traços gerais, sou afável, respeitador, amigo do meu amigo, a bem, sou capaz de dar a camisa que tiver vestida, verdadeiro, extrovertido e sobretudo, num ambiente alegre e descontraído, gosto de brincar com as palavras dando assim novos sentidos às frases, e consequentes conversas.
3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos ou outros? Mencione dois ou três.
V.G. – Para além dos escritores obrigatórios do Estado Novo, os que mais me marcaram, foram Gil Vicente, não sei se por ser o meu homónimo, mas penso que foi por ter sido um grande dramaturgo, uma vez que gosto muito de teatro; Manuel Maria du Bocage, quer pela sua poesia lírica, quer pela poesia erótica; Fernando Pessoa e a sua complexidade dos seus heterónimos, António Ribeiro Chiado, Bernardim Ribeiro; e mais recentemente, António Lobo Antunes.
4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.
V.F. – Penso que nenhum deles me influenciou a escrever o que quer que seja. A acção de escrever nasceu por volta dos meus 14 anos e nessa época não se liam os Autos das Barcas, o Auto das Regateiras, ou a Mensagem, ou a Clepsidra. Sei-o porque tenho um familiar que guardou religiosamente pequenos excertos de poesia que eu escrevi nos guardanapos lá de casa, mas só muito mais tarde, por volta de 1982, ao iniciar a Faculdade é que me dediquei mais à escrita, tendo publicado alguns poemas no então Jornal do Barreiro.
5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? ( Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros)
V.F. – Há cerca de 3 anos, influenciado por vários amigos que conheciam e gostavam da minha poesia, após criar uma página no “Facebook”, comecei a publicar Poemas e Sonetos, alguns com maior, ou menor aceitação, conforme o número de “Liks” e dos respectivos comentários escritos.
6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.
V.F. – Primeiro que tudo, as Editoras priorizam os Autores consagrados como forma de obterem lucros imediatos com vendas garantidas. Depois, há um imenso caudal de jovens, e menos jovens, a escrever, uns melhores, outros nem tanto, e alguns deles com qualidade. Dentro destes, as Editoras nem se dão ao trabalho de os escolher. São os próprios Autores que, na ânsia de se verem publicados, se propõem aos Editores, e mesmo assim, são ainda os Autores que têm que arcar com uma parte, se não toda, das despesas, e com as subsequentes dificuldades na colocação das suas obras no mercado. Ainda não há muito tempo, eram as Editores que assediavam os Autores, por serem em escasso número, para publicarem as suas obras, hoje. como são muitos Autores…
7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?
V.F. – Como escreveu Fernando Pessoa, “O poeta é um fingidor”, mas não concordo totalmente com este epíteto. Apenas gosto de escrever, brincando com as palavras, tratando temas do quotidiano, das emoções, dos sentimentos, etc. Pode um Autor ter a pretensão de vir a ser consagrado, mas nenhum deve considerar-se como tal antes de o ser. Essa decisão cabe aos seus leitores. São eles que gostam, ou não, de um determinado Autor e dos seus trabalhos.
São eles que adquirem as suas obras. Em suma, são os leitores que consagram os Autores.
8 – JM. – Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.
V.F. – Uma Estátua (Soneto)
Olhei-te, fria, sem alguma cor,
Sem coração, e sem algum rastilho.
Não fora apenas seguir o teu brilho,
Perscrutando a tua alma sem dor.
Que segredo esconde a tua imagem?
Sei que és feita de mármore vulgar!
Tenho-te obcecado no meu olhar.
Não sei como fazer outra abordagem.
Não tens alma, nem brilho no olhar,
Não tens coração, nem tens sentimentos,
Não sei o que pensar nestes momentos.
Mas de uma coisa eu tenho a certeza!
Olhando a tua exterior beleza,
Vem-me o desejo de, de ti, gostar.
9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente.
V.F. – Penso que não há medo de ler poesia, o que há sim, é que se vem considerando a poesia o parente pobre da literatura, e por outro lado há pouca difusão da existência de saraus e/ou tertúlias.
9.1 – JM. – Incentivaria uma escola para declamadores?
V.F. – Com certeza que sim. É preciso saber dar continuidade ao que o Poeta escreveu, e nem toda a gente tem jeito para declamador. Enquanto o Poeta escreve a sua poesia dando-lhe a musicalidade, a harmonia, e a rima, o declamador dá-lhe a melodia, e a meu ver, são estas as características convergentes que fazem a verdadeira poesia. Mas não se pense que a pontuação não é importante.
10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?
V.F. – Que eu conheça, não há apoios à divulgação da poesia, ou se os houver, serão insuficientes.
11 – JM. Verifica-se que hoje em dia existem uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números?
V.F. – Os Poetas, exceptuando os consagrados, não têm escolha. Se pagarem a impressão das suas obras, publicam tudo, ou quase tudo o que quiserem.
As Editoras que proliferam pelo nosso País são empresas, e como tal têm que obter lucros como qualquer outra empresa, e eu entendo isso. O problema reside, efectivamente, na ausência de apoios financeiros que permitam a edição e divulgação das Obras de Autores com qualidade.
Com tantas Parcerias que existem, o Ministério da Cultura poderia criar, também, uma Parceria com um grupo de Editoras, afectando verbas para o efeito, cujo Grupo de Trabalho composto por pessoas credenciadas e insuspeitas de um e de outro lado, analisaria as Obras dos Autores, tendo em vista a sua publicação, divulgação, e aceitação no mercado.
12 – JM. Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?
Não tenho livros individuais publicados, mas participei nas seguintes colectâneas:
– Sentimentos à Solta, Edição de Autores, Janeiro 2015;
– Sentimentos à Solta, 2 ª. Edição de Autores, Março 2015
– VI Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea: “Entre o Sono e o Sonho”, Março 2015;
– Poemário 2015, edição Pastelaria Studios Editora, 2015;
– A Lagoa (de Óbidos), e a Poesia, Edição de Autores, Julho 2015;
– Um Grito contra a Pobreza, Poetas d’hoje, Edição do Grupo Poesia da Beira Ria/Aveiro, Outubro 2015;
– Conta-me uma História, Edição de Autores, 2016;
– Intercâmbio dos Escritores de Língua Portuguesa, a publicar em 2016
13 – JM. Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma página ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?
Sim, entre outras coisas, no Facebook na página Vicente Faria
———————————- EM BAIXO ESCREVA O QUE ENTENDER SOBRE SI E A ARTE POÉTICA.
V.F. – Este poema foi um dos meus primeiros escritos já na Faculdade, e tem uma origem engraçada. Escrevi num caderno meia dúzia de palavras usadas por Gil Vicente, e compus o poema que se segue. Muitos poderão pensar “olha, este plagiou Gil Vicente”! Não. Se assim fosse, andaríamos a plagiar-nos uns aos outros porque todos os dias se escrevem as mesmas palavras. Quanto ao poema, é uma criação minha, e se alguém quiser ter trabalho, pode procurá-lo em Gil Vicente, ou em outro escritor qualquer que não o encontra.
Sonho
… embora! E agora!
…ai! A sangue frio,
Não, infame vilão.
Mentir sem pejo, sem brio,!
– Não chores, anjo do céu,
Sou eu!
Era assim, em sonhos a via,
Me fugia. Eu despertava
De uma imagem fingida,
Mas vivia.
Mas afinal, o que era?
Eu não sabia.
No firmamento um vão sonho,
Cinzento. Tal era o pensamento
Que me fugia, incerto,
E em cujo deserto
Eu não sabia.
V.F. – Grato por me terem aturado.