1 – Perfil do Poeta:
- a) Nome: Laura Maria Albernaz Esteves
- b) Profissão: Educadora de Infância
- c) Residente (localidade) Viseu
2 – JM. – Como se define em termos de ser humano?
Quem sou? Apenas uma mulher determinada, com uma força que vem do fundo da alma, embrulhada em sentimentos que me alimentam no meu dia-a-dia. Sentimentos de muita paixão pela vida e de muito amor pelo que me cerca. Frontal e sem tabus, aceito as diferenças, respeito muito a liberdade dos outros. Gosto de emoções fortes e de conversas com dimensão, adoro seduzir o mundo com as palavras, entrego-me por inteiro a projetos que defendo com muita garra. Desistir não está dentro de mim, mesmo que chore, sou uma mulher de convições fortes. A minha profissão nasceu comigo, ser educadora é uma paixão, à qual me entrego de corpo e alma. Sou tão teimosa quanto vulnerável, refilona quando penso ter razão. Tenho mau feitio quando a injustiça me cerca. Não gosto de toda a gente, por isso aceito que também alguns não gostem de mim. Amo a vida, gosto de pessoas transparentes e leais, o meu rosto é o meu espelho, denuncio-me facilmente quando não gosto.
3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos ou outros? Mencione dois ou três.
Os autores que marcaram a minha vida foram sem dúvida os romancistas, nasci romântica! Camões marcou a minha infância, assim como Almeida Garret e Júlio Dinis. Mais tarde centrei-me em Florbela Espanca e Miguel Torga entre outros.
4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.
Sem dúvida que sofri influências de todos estes autores, no entanto tenho dentro de mim, uma força que me obriga a escrever, as palavras saem como se de um alimento se tratasse, senão escrever sofro, fico deprimida e inquieta !! Florbela Espanca é a minha inspiração, uma mulher que foi muito infeliz no amor, com a qual me identifico.
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5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? ( Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros)
Comecei por ter uma página no facebook, “ Laura Albernaz em poesia”, dando a conhecer ao mundo a minha forma de estar com as palavras, sei que a minha transparência está implícita genuinamente no que escrevo, no entanto desnudei-me para um universo quase ilimitado, a minha poesia tem chegado a todos os cantos do mundo! Tem sido comentada muito positivamente, tenho um número considerável de pessoas que me seguem diariamente. Claro que esta forma de aceitação deu-me força para continuar e rapidamente fui convidada para publicar em antologias. Aceitei umas outras não. Para mim é importante deixar no mundo um pouco do que sou, do que sinto, do que amo. É gratificante quando alguém diz: “essa sou eu, como sabe tão bem o que sinto” e outras vezes “ faça-me um poema”, ou “ tu és a Florbela Espanca do século XXI, mais do que isso, ela saciava o estro em 14 versos, tu precisas de muito mais”. Quanto às antologias, publiquei em duas e uma terceira no Brasil. Publiquei um livro “ Pela poeira dos ventos”, que está a ter muita aceitação.
6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.
Bem, quanto a esta dimensão, posso dizer que de facto, é difícil editar porque fica consideravelmente dispendioso. No entanto as edições que não acarretam gastos são envolvidas por um contrato que nos limita bastante. Ou se aceita o contrato ou não se tem capacidade financeira para editar. É bastante constrangedor existir um universo de pessoas que escrevem bem e não existir uma bolsa que possa ajudar e estimular quem de facto ama a escrita. Muitos talentos ficam por anunciar ao mundo. É urgente renovar a cultura em Portugal, é urgente criar condições de financiamento e promover estruturas com perfil no sentido de estabeleceram oportunidades de edições.
7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?
Não posso dizer que virei a ser uma autora consagrada, não tenho esse direito, apenas os críticos literários poderão fazê-lo. Posso e devo dizer que me considero uma autora com produções literárias arrojadas, onde predomina o sensualismo; com uma dose de coragem, utilizo padrões arrebatadores, onde imperam sentimentos muito à flor da pele, que sem dúvida mexem com as sentires do mundo, numa dimensão de amor, de sexo, de sensualidade. Sou viciada no amor, completamente inebriada, e consigo pegar nas palavras e fazer o que quero delas. Nunca forço a minha escrita, nunca revejo o que escrevo, sai e fica tal e qual! Gosto de sentir as palavras dentro de mim, como se fosse a minha pele, o meu respirar, amo pegar nelas e soltá-las como gritos, é um prolongar da minha existência, como se um furacão rebentasse no deserto, porque eu sou deserto e povoado também. Sou a alma das palavras, em gestação, sou o ventre que as faz nascer, são tão minhas e dos outros também! Sei que entro na alma das pessoas, que as faço pensar, sonhar, que lhes transmito muito prazer e lhes dou a liberdade de sentir o que por vezes não têm coragem de dizer! Atrevo-me a dizer que faço amor com as palavras, num sentir que faz despertar o mundo.
8 – JM. – Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.
O porquê deste poema, entre tantos outros? A vida gira em volta do sexo, não há dúvidas, desde a moda até aos alimentos. Será ainda considerado tabu por muitos, no entanto é preciso que este ato seja natural, tal como matar a sede, um desejo que o corpo pede e que precisa ser saciado. Descrevo aqui uma forma de prazer no ato sexual, onde o sensualismo impera e faz sentir quem lê! A Púrpura é uma cor espetral, que fica entre o violeta e o vermelho, cor não definida, tal como o orgasmo, que se situa numa dimensão não definida. O corpo é de facto uma bordadura de pele com pele, onde a insanidade momentânea impera, comparável à loucura, no que diz respeito a alucinações e a delírios, uma dimensão profética, ritual e amorosa. O mar sempre presente, nas algas e nas ondas, que dão movimento à poesia e aos corpos, assim como o cheiro da maresia e das algas. O grito é letal, porque de facto é fatal e inevitável. A alma presente numa dimensão de prazer e de sobrevivência, porque só sobrevive quem tiver a coragem de o fazer.
O grito
Como púrpura incandescente…bordo o teu corpo no meu…
mística insana…demência de prazer…alegoria frenética da alma…
bocas coladas…num êxtase…em orgasmos de lascívia…salivados como algas…
entrelaçados nas ondas…rendidos no corpo…em gritos letais…
como púrpura incandescente.
(Laura Albernaz)
9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente.
Em Portugal a cultura da poesia nunca foi trabalhada ao ponto de ser considerada uma escrita como outra qualquer. É nos bancos de escola que devia ser estimulada, logo na primeira infância, os educadores deviam trabalhar mais a poesia, as crianças fazem poesia com alma, se estimuladas. Ainda hoje um poeta é considerado um lamechas, porque sente com a alma e o coração, e nem sempre é aceite, no entanto penso que cada vez mais esse tabu está a ser desmistificado, porque os poetas começam a impor as suas produções literárias. Uma amiga dizia-me que escrevia, mas que tinha vergonha de mostrar, e não consegue ainda ultrapassar esse paradigma, dado que nunca foi estimulada nos bancos da escola. Ler poesia exige um momento de entrega e de descontração, enfrentar um público, não é tarefa fácil, tem de se ser um pouco ator, e penso que deveriam existir recursos para formar pessoas nesse sentido. Se uma aula de zumba descontrai, uma aula de declamação teria o mesmo efeito. Como não há a cultura da poesia, as pessoas acabam por aderir muito pouco aos saraus poéticos, por falta de conhecimento, de cultura, de incentivo, é preciso criar o gosto pela poesia. Existem por exemplo as feiras que poderiam ser transformadas em feiras de poesia; os festivais de poesia quase não existem, por exemplo as Câmaras Municipais deveriam integrar no seu projeto cultural esses festivais e incentivar os jovens, deveriam criar ateliers de escrita criativa. Portugal precisa de escrever mais, com qualidade.
Incentivaria uma escola para declamadores?
Claro que sim, sem dúvida, seria um grande passo na nossa cultura e um avanço em relação por exemplo ao Brasil, onde a poesia é apoiada e considerada como um talento.
10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?
Como já referi os municípios poderiam ser a base para desenvolver a divulgação da poesia, e claro as escolas também. Na forma de uma revista ou brochura, feiras, festivais, performances de rua.
11 – JM. Verifica-se que hoje em dia existem uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números?
Sou de opinião que os escritores são de facto consideramos meros fatores de lucro e pouco mais. É o escritor que tem de movimentar muitas vezes para dar a conhecer a sua obra.
12 – JM. Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?
Editei um livro “ Pela poeira dos ventos”, com a editora Universos. Para o adquirir terão de contactar a editora.
13 – JM. Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma página ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?
Sim, tenho a minha página no facebook, como já referi que passo a transcrever:
EM BAIXO ESCREVA O QUE ENTENDER SOBRE SI E A ARTE POÉTICA
Que mais poderei acrescentar…sou freneticamente dependente das palavras, alimento da minha alma, sou poeta, sou pessoa, sou um ser igual a tantos outros. Gosto da vida, dimensão que por vezes me transcende, sofro com qualquer mortal, amo rir, o cheiro do campo faz-me sentir uma menina, amo o mar numa simbiose perfeita. Sou viciada no amor, gosto da sedução das palavas, gosto do eco que elas produzem em mim. Também sonho acordada, sempre num raio de sol, gostava de ter um príncipe encantado, quem não gostava? Aprecio uma boa lareira, um bom som, com velas, as flores inebriam-me, gostos dos verdes no campo e das papoilas, adoro ir aos cogumelos. Deleito-me com o melhor queijo do mundo, o de Azeitão.
Ser poeta, é arte, é ter a capacidade de ser humilde e perceber a dimensão da vida num jogo de alegorias, em que as palavas se enchem de sentimentos e de cor. Ser poeta, é acordar na madrugada com um sorriso ou uma lágrima, é soltar a pele e dedilhar os dedos numa bordadura de sons e timbres, é um ritual, uma profecia. Ser poeta é muito mais do que ser pessoa, é ter uma áurea colorida, sempre vestida de amor. Ser poeta é saber ser…saber estar…saber dar…saber sentir…saber querer… BEM HAJA.
Laura Albernaz