Entrevista poética com a escritora Anabela Gaspar Silvestre

Esta é a nova entrevista vinda da parceria cultural entre o Jornal Mira Online e do Grupo de Poesia da Beira Ria. Desfrutem…

 

1 – Perfil do Poeta:

  1. Nome:

Anabela Alexandra Gaspar Silvestre

     1 – Profissão:

     Escritora, Professora de Língua Portuguesa do Ensino Básico e  Secundário, Bibliotecária.

     1 – Residente (localidade)

      Covilhã

2 – JM. – Como se define em termos de ser humano?

Sou uma pessoa genuína, humilde, amiga do seu amigo, que procura ouvir sempre o outro atentamente.

  Valorizo os afetos e as pequenas delicadezas da vida: uma flor, o arco-íris, um sorriso, uma gentileza…

3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos ou outros? Mencione dois ou três.

Durante a minha formação académica aprofundei o estudo de diversos autores, mas os mais marcantes, para mim, foram sem dúvida Fernando Pessoa e o seu heterónimo Alberto Caeiro, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen…

4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.

 Comecei a escrever poesia numa fase difícil da minha vida sobretudo para ultrapassar a «dor de pensar», assim como Alberto Caeiro, um poeta bucólico com quem me identifico. Também para mim o olhar é essencial para poder alcançar amplamente o mundo real.   

5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? (Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros)

O acolhimento do que escrevo é apreciado por mim em todos os meios referidos na questão colocada e também através do meu email e do contacto pessoal com os leitores.   

6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.

Poucos autores conseguem manter-se só com os rendimentos provenientes da venda dos seus livros. A importância necessária para a sua edição é elevada e nem sempre tem o retorno do seu investimento.  É necessário que as editoras invistam mais na divulgação dos novos autores e das suas obras. Quem exerce uma segunda profissão tem menos dificuldades em editar as suas obras. Mas o tempo escasseia para se dedicarem à escrita, perdendo-se assim muitos talentos.

 7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?

Escrevo aquilo que verdadeiramente sinto e observo, procurando expressar sentimentos de amizade, compreensão, afeto, ternura, amor pelo outro e pela natureza… numa sociedade individualista. Sozinhos não somos ninguém… temos que caminhar estendendo sempre a mão ao próximo, nesta vida passageira.

8 – JM. – Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.

Poema intitulado Cigarras

 

         Cigarras

Há muito tempo

que as ouço,

parece um sonho

mas não é!

Quando há muito calor

elas despertam

do seu sono profundo

e iniciam

o seu belo cantar

sem mais parar!

Acompanhadas

pela sua fiel «guitarra»

fazem bastante sucesso

pelos recantos

de norte a sul

de Portugal.

Estas exímias cantoras

têm o seu esconderijo

nos ramos das árvores

para o eco

das suas cantorias

ter uma acústica

bem maior!

Aquele som

nunca se esquece,

cativa-nos,

é único,

potente

e imperdível!

Fecho os olhos,

recuo no tempo

e volto àquele

local mágico

que era a casa

da minha avó,

para ir «pousar»

no seu regaço,

na varanda

da sua cozinha

a ouvir atentamente

o batuque peculiar

das belas cigarras!

Era uma festa

e continua a ser

porque as nossas memórias

nunca se apagam,

nunca esmorecem,

nunca perecem,

são sempre

desbravadas

e estas belas cigarras

contribuíram imenso

para o resgate

de momentos

imperdíveis;

únicos

e

fascinantes

que jamais

se soltarão

do meu ténue

e

circunscrito coração!

Cantai, cantarolai,

minhas amigas,

para eu poder sossegar!

In Retalhos de Alma, de Anabela Gaspar Silvestre, Chiado Editora, 2014

 

9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente. Incentivaria uma escola para declamadores?

Nem todas as pessoas se atrevem a ler poesia em público porque pensam que a exteriorização de sentimentos profundos é um sinal de fraqueza. Mas sucede precisamente o contrário. Quem despe a sua alma perante os outros demonstra valentia e sobretudo amor pelo belo, pela sublime POESIA.  

 Os saraus poéticos precisam continuar, expandir-se e esperar que o número de pessoas aumente. Uma escola para declamadores, aberta a todas as faixas etárias, seria uma excelente opção para superar as lacunas referidas anteriormente, ajudando as pessoas a extravasar sentimentos e emoções.   

 10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?

Além do apoio monetário, a cedência gratuita pelas Câmaras Municipais, de instalações para a realização de saraus poéticos, reuniões, concursos de poesia, espaços de leitura, ateliês de poesia…

Precisa haver mais divulgação da poesia nos jornais e programas de rádio e televisão, tentando despertar nas pessoas o gosto por esta arte tão bela, capaz de incutir esperança nas crianças, nos jovens, nos adultos e nas pessoas idosas.

A poesia precisa chegar assiduamente aos infantários, às escolas, aos lares de terceira idade. Encontros a nível regional e nacional seriam importantes para divulgar e fomentar o gosto pela arte poética. Refiro o excelente trabalho que é feito pela Associação Portuguesa de Poetas da qual sou associada. É um exemplo a seguir noutras localidades de Portugal.

11 – JM. Verifica-se que hoje em dia existe uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números?

Os autores têm atualmente mais opção de escolha mas é preciso ponderar e examinar o mercado porque algumas editoras fazem, realmente, apenas dos escritores lucros e números. A divulgação das obras nem sempre é eficaz, assim como a tradução das mesmas, para conquistarem novos mercados fora de Portugal. Só a partir de um determinado número de exemplares vendidos é que efetuam as traduções.

Nas grandes superfícies comerciais também não é usual encontrar à venda as obras dos novos autores.

12 – JM. Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?

Em 2014, lancei o meu primeiro livro de poesia designado Retalhos de Alma, editado pela Chiado Editora.

Pode ser adquirido através do meu email: [email protected]

– No site: www.chiadoeditora.com (No campo Livraria)

– Na Livraria Desassossego, em Lisboa

Nas lojas: Fnac, Bertrand Livreiros, El Corte Inglés, Note!

Nas livrarias online: Wook, Bertrand Livreiros, Fnac

Como coautora participei em diversas Antologias e Coletâneas (textos em prosa e em verso).

13 – JM. Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma pagina ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?

Sim, possuo uma página de facebook onde divulgo o meu trabalho:

https://www.facebook.com/anabelagasparsilvestreescritora?fref=ts

 

———————-EM BAIXO ESCREVA O QUE ENTENDER SOBRE SI E A ARTE POÉTICA.

Gosto especialmente da natureza, das pessoas, dos animais, de sorrisos sinceros, de sentimentos puros… encontrando na Arte Poética uma forma de retratar o que observo e sinto e de evocar memórias.

O poeta está sempre atento à beleza que o rodeia, sem pressa, tentando viver e aproveitar o momento. «Canta também a dar-se» como refere Miguel Torga.

Agradeço aos administradores do Grupo da Poesia da Beira Ria e ao Jornal Mira Online a oportunidade que me proporcionaram. 

Fotografia Anabela Silvestre