1 – Perfil do Poeta:
a) Nome: JOSÉ ALBERTO DE OLIVEIRA RODRIGUES DE SÁ
b) Profissão: Logística, Engenharia de Processo
c) Residente (localidade): Lourosa, Santa Maria da Feira
d) Natural de Anta, Espinho.
2 – JM. – Como se define em termos de ser humano?
Ser humano é sentir-me numa relação social como meta, à relação com o mundo que me rodeia.
A minha mente é por natureza o que me foi ensinado.
O pensamento é parte da minha inocência perante as flores que me aromatizam, sou massa positiva da dádiva.
Sinto-me um bom homem, bom pai, bom companheiro, bom amante, simples, amigo do amigo de abraço, verdadeiro e incapaz de magoar por defeito.
Costumo dizer que sou a luz que me acompanha, uma luz igual para todos… Uma luz que sigo com amor.
Sou palavra, pureza e humildade… Defino-me como “Sou nada perante tudo que me é dado”.
3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos
ou outros?
Não tenho preferência entre autores poéticos ou outros… Amo a leitura numa vertente geral. A vontade de ler é o começo de uma alma que se veste de palavras, depois é a vontade de sentir-mos o seu calor…
Só nos despimos desta roupa ao morrer… E nem aí a morte no leva… Quem escreve é imortal… Quem lê se purifica com o infinito das palavras.
Alguns autores que me levaram ao mundo que amo sentir:
Manuel António Pina.
Sophia de Mello Breyner Andresen.
Fernando Pessoa.
4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, levaram-no à escrita da poesia?
Sim… Tão completamente que me sinto parte dos seus sonhos… A continuidade é sangue que me corre nas veias, tal como eles o sentiram no pulsar dos seus corações.
Fernando Pessoa é alguém que me leva a pensar… Impossível superar, um pensador que se manteve vivo até aos dias de hoje… Um ser capaz de em poucas palavras nos levar ao mundo fantástico da leitura… Amo seguir o seu reflexo… Que homem seria hoje este mago, se me pudesse cumprimentar? Seria em aperto de mãos poesia real… Pois sonho com ela… A sua inteligência.
5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? ( facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros).
Através do facebook, também através de várias Antologias que fazem parte do minha viagem, dos livros por mim já publicados, também pelos saraus poéticos que organizo e outros dos quais sou convidado.
O facebook é uma forma fantástica de divulgação, transporta-nos onde nem imaginamos conseguir.
6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.
Penso que um novo escritor tem várias apreensões na altura de editar um livro.
Não existe grande divulgação de como se deve editar um livro, qual o método a seguir.
Existem diversas pequenas editoras a editarem livros somente pelo lançamento, depois esquecem-se do autor.
Não existe uma boa divulgação, um bom marketing, uma boa distribuição… Existe sim uma preocupação a angariação rápida dos lucros para a editora… O escritor é secundário.
Um contra são os custos iniciais para edição, uma editora não aposta num novo escritor se não tiver a certeza do sucesso, não interessa se a obra é boa ou não… Só interessa se o escritor tiver nome.
É pobre a vida de um novo escritor, a sua riqueza somente se reflecte na sua força de vontade, uma força que se faz realçar naquilo que escreve.
7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?
Eu leio bastante poesia, sinto-me realmente um ser com luz, Deus me deu este dom e pelas críticas positivas ao que escrevo, sinto-me capaz de ser um bom poeta.
Sou reconhecido no Brasil como um grande poeta, em Portugal pelos que me ouvem e lêem sinto o mesmo desafio em ser quem sou.
Gostava sim de ser levado pelos que consagrados já foram, pelos que se sentem no céu das palavras… Tenho dois romances lindíssimos, um dos quais levado à Amblim Entertainment de Stiven Spieldberg e do qual tenho uma carta. O meu livro de poesia “A luz que me Acompanha” é um espelho fidedigno da minha pessoa.
Sinto, quero, espero… A luz não se apagará em vão, sinto que o sol nasce todos os dias e a lua sempre me traz o seu brilho durante os meus sonhos.
Tenho três Antologias no Brasil, dez Antologias em Portugal, uma participação num livro de contos e vários prémios conquistados ao longo dos anos.
8 – JM. – Mencione e transcreva o poema que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.
Terra minha… Minha terra
Sou filho da terra, filho de Altos Céus
Sou rosmaninho de olhos de luz
Sou pecador de pecados meus
Homem menino da terra que me conduz
Sou eu…
Sou a vertente, num prisma boleado
Sou a aresta da terra que abraça o mar
Sou o perfil de canto aprumado
Homem menino da terra e do ar
Sou eu…
Sou a noite, o dia, a lua e o sol
Sou a estrela, a luz e o calor
Sou melodia, sou poesia em cantos de rouxinol
Homem menino da terra e do amor
Sou eu…
Sou eu para vós, se vierdes até mim
Sou a paz, o carinho a minha mão
Sou flor, sou a cor que dareis ao meu jardim
Homem menino da terra e do coração
Sou eu…
Sou homem, pela verdade e pela paz
Sou poema, sou canção e sou menino
Sou brinquedo, sou garoto e sou rapaz
Homem menino da terra de Espinho
Sou eu…
Sou a linha com letras, com palavras
Sou tinta preta na folha cor da cal
Sou humilde, com a esperança que te abras
Terra deste homem… Portugal
Sou eu…
José Alberto Sá
9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente.
Incentivaria uma escola para declamadores?
Não existe medo de dizer poesia, existe sim muita vontade de dizer bem e dizer bem poesia não está ao alcance de todos, mesmo de grandes poetas.
Por isso existe sim a insegurança, o não querer falhar, o não deixar uma má impressão. Quanto à falta de pessoas nos saraus, penso que também é reflexo da falta de divulgação, de cativar as pessoas à poesia com outras palavras, os saraus devem ser feitos para a leitura no geral… Onde a poesia entrava, tal como cartas, textos em prosa e outros.
A diversificação do tema leva mais leitores aos saraus. Também a existência de tertúlia sobre um tema em discussão será uma mais-valia para o ajuntamento de dizeres.
Já organizei saraus onde estiveram setenta pessoas, outros onde estiveram pouco mais de vinte… A nossa cultura não nos leva à leitura, sempre senti a falta de incentivo ao que mais gosto.
10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?
Eu vivo numa cidade onde nunca ouvi falar em saraus de leitura.
Tenho sempre que me deslocar a outras cidades, como Espinho, Matosinhos, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Granja, Gaia e Porto.
As autarquias não qualificam os saraus como incentivo à leitura, ou se o sentem não demonstram. Se nos deslocarmos a pedir ajuda, logo nos colocam mil pontos de interrogação. Um poeta deveria ser pago para dizer poesia, falo de um poeta que saiba dizer poesia, é impossível estar em quinze eventos de média por mês, sem que isso se reflicta nos bolsos do poeta… Então não se pode ir a todos os eventos a que somos convidados a ir.
As autarquias deveriam disponibilizar uma verba para estes eventos, assim os poetas poderiam se reunir em várias cidades e levar a poesia às pessoas que ainda não se sentem capazes de a ouvir.
Eu tento levar as minhas palavras até as minhas mãos me doam, até que a minha voz me falte… Desistir nunca… Amarei a poesia e a levarei comigo até à luz que me ilumina… Deixarei na terra somente um raio reflectido nos livros que vou deixar.
EM BAIXO ESCREVA O QUE ENTENDER SOBRE SI E A ARTE POÉTICA.
Sobre mim quase nada sei… Os outros que me amam é que tudo dizem… De mim sei que me sinto completamente feliz… Tão completamente que até vós levais de mim este momento.
Deixo aqui o meu testemunho como artista das palavras.
Sou artista…
Sou artista…
Da arte consciente… Sou mística do tempo em que me sinto erótico… Por ser artista…
É nesse erotismo que me vejo inquieto… Que sonho sem contacto ao contacto por mim imaginado.
Porque sou artista…
Sou o voluntário sentado se te pego no colo… Sou o surreal da poesia que escrevo… Sou o que se levanta para mudar de posição… Sou poesia inquieta…
Porque sou artista…
Artista indecente que contrasta com o contrário, com o interior se o exterior se mantém vestido…
Sou o perdido se encontrado no vazio das palavras, carregadas de desejo e submersas pelas infiltrações oculares dos meus comentários e sentidos.
Porque sou artista…
Aquele que pinta os lábios carnudos, que se sentem capazes de serem meus… Meus são os lábios que me beijam… Sou eu o impregnado de mistério e medo… Medo do dedo que imagino húmido, aquele que desliza depois de passar pela língua e desfolha a página.
Porque sou artista…
O que se esconde na humidade de um vestido, que foge por entre as gotas que caiem do céu… Sou eu contigo no mesmo guarda-chuva, onde te vejo segurar o cabo… Minha mão na tua mão molhadas…
Porque sou artista…
Sou aquele que imagina um simples prego, que na sua utilidade se faz espetar, após a estucada do maço… Sou aquele que o imagina penetrado na entranha da madeira… Entranha! A fresta que me faz sentir erótico…
Porque sou artista…
José Alberto Sá
Obrigado por me terem convidado para esta entrevista, a minha luz se acendeu neste dia com outros sóis… A vossa amizade transcende a vontade de ser bom… Me vergo à amizade, ao carinho e ao vosso abraço.