O ensino do mirandês está “consolidado” nas escolas de Miranda do Douro como disciplina opcional, que começou a ser lecionada no ano letivo de 1986/87 com nove alunos do 2.º ciclo e atualmente tem 386 estudantes a frequentá-la.
Passados 34 anos sobre a primeira aula lecionada em mirandês, num universo de 609 alunos que frequentam hoje o Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro (AEMD), 63% matricularam-se na disciplina de Língua e Cultura Mirandesa, apesar de ser opcional.
“O ensino da Língua e Culta Mirandesa é um projeto consolidado. É com orgulho que digo que temos tido, ao longo dos anos, mais de 60% dos alunos que frequentam o AEMD inscritos nesta disciplina opcional”, explicou à Lusa o diretor do agrupamento de escolas, António Santos.
Segundo os registos fornecidos à agência Lusa, o ano letivo em que houve mais alunos matriculados na disciplina foi em 2013/14, com um total de 495 alunos, que representam 66% do total dos 753 alunos inscritos nesse ano no AEMD.
Desde o ano letivo 2009/2010 que o ensino do mirandês é feito de forma contínua, desde o pré-escolar até ao secundário.
“São alunos que poderiam ocupar os seus tempos livres na brincadeira ou estar no café, mas optaram por se matricular, voluntariamente, na disciplina de mirandês”, frisou o responsável.
Para o docente, a língua mirandesa contribuiu para identidade o povo do território de parte do Planalto Mirandês.
“É nobre preservar a identidade de um povo e à escola compete-lhe essa missão. A escola desempenha um papel fundamental na preservação da língua mirandesa, que é a segunda língua oficial em Portugal”, vincou.
António Santos defende que a língua funciona como uma espécie de “bilhete de identidade” das pessoas do concelho de Miranda do Douro.
“Se formos para qualquer lado, tanto em Portugal, como no estrangeiro, logo nos questionam se sabemos falar mirandês”, observou.
Para já, foi dado um passo tido como determinante, que passa pela formação de professores de Língua e Cultura Mirandesa. O protocolo foi assinado e envolve instituições académicas, Governo e autarquia.
Do lado dos alunos, Ana Martins, uma aluna do 11.º ano, que começou na primária a frequentar a disciplina, refere que aprendeu desde cedo a falar mirandês, no seio familiar.
“As minhas primeiras palavras foram em mirandês e só aprendi português quando entrei para a escola. Há muitos alunos que têm vontade de aprender mirandês. Há muita gente que não sabe, mas o mirandês ajuda muito na aprendizagem do português, principalmente ao nível da escrita”, indicou.
A aluna só lamenta que o mirandês ainda não conte para a média final curricular.
Já Pedro Raposo, outros dos alunos inscritos na disciplina, adianta que estuda Língua e Cultura Mirandesa desde que entrou para a escola, e acredita que a segunda língua oficial em Portugal ainda lhe poderá ser útil no futuro ou no seu percurso académico.
Domingos Raposo, o primeiro professor de mirandês, nas escolas de Miranda do Douro adianta que a oficialização da língua pela Assembleia da República foi uma mais-valia.
“Contudo, ainda há muita coisa por fazer ao nível do ensino, como a elaboração de manuais escolares, e faltam verbas para a criação de instrumentos didáticos e pedagógicos para lecionar o mirandês”, indicou.
Apesar do reconhecimento oficial, feito com a publicação da que ficou conhecida como a Lei do Mirandês, aprovada em novembro de 1998 e promulgada em janeiro de 1999, a língua continua “a não ter um enquadramento institucional adequado”, apontam os linguistas que se dedicam ao seu estudo.
Outra das ambições passa pela assinatura da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias, um tratado internacional do Conselho da Europa que “define boas práticas para o enquadramento legal e institucional de línguas minoritárias, como é o caso, em Portugal, da língua mirandesa”.
Há 35 princípios que cada signatário do documento terá que cumprir na área da educação, administração local, justiça, media, vida económica e cooperação institucional.
Lusa