O engenheiro português Vasco Ribeiro, 44 anos, da Lourinhã, concorre a uma vaga de astronauta-cientista num programa comercial para a observação de nuvens que brilham à noite, denominado Projeto Possum, desenvolvido em parceria com a agência espacial norte-americana (NASA).
“Sou um pouco pragmático na vida, um passo de cada vez. As oportunidades podem surgir ou não. Quando elas surgem, nós aproveitamos e vamos atrás delas, e essa é a mensagem que eu gostava de transmitir, para seguirmos os nossos sonhos”, disse à Lusa, em São Paulo.
Para participar num dos voos previstos para julho de 2017, Vasco Ribeiro procura financiamentos no valor de 150 mil dólares (140 mil euros). Os custos dos dez voos previstos, cada um com um piloto e um astronauta-cientista, estão avaliados em 1,9 milhão de euros.
“Divulguei no Facebook, é o que estou fazendo, mas, como trabalho no Brasil, estou um pouco deslocado de Portugal e torna-se difícil trabalhar nesse sentido. Sabe como é, bater de porta em porta nos bancos, em quem tem dinheiro para financiar”, disse.
Diferentemente dos programas financiados pelo Estado, os programas comerciais são pagos pela iniciativa privada.
A NASA possui uma linha de financiamento para projetos comerciais, como o Possum, afirmou Vasco Ribeiro.
O projeto tem o objetivo de fotografar as nuvens notilucentes, que brilham à noite, na região da zona polar norte, a cerca de 80 quilómetros de altitude, na chamada alta mesosfera, e podem dar informações sobre o aquecimento global.
“A alta mesosfera é uma parte da atmosfera meio desconhecida, por uma questão simples: os balões atmosféricos sobem a 30, 40 quilómetros de altitude; aviões sobem a 25 quilómetros; e os satélites em órbita, a 200 quilómetros, e só passam por ela para subir ou descer”, explicou.
Na viagem prevista, a nave espacial descola na horizontal, como um avião, mas sobe quase na posição vertical, acelera até três vezes a velocidade do som e alcança os 105 quilómetros de altitude em cerca de seis minutos.
“É como andar numa montanha russa”, brincou.
Apesar de se ter interessado pelo espaço quando criança, a oportunidade de ser astronauta-cientista surgiu-lhe como um passatempo: desenhar modelos de simulador de voo e partilhá-los numa página na Internet especializada no assunto.
Um dos modelos para voo comercial foi visto por uma pessoa ligada ao Projeto Possum, que convidou Vasco Ribeiro a desenvolver um simulador para treinar a realização de procedimentos de registos das nuvens, pois o tempo para fazê-lo no voo é de apenas cerca de três minutos.
Após fazer o simulador, o português participou no curso inaugural de formação de astronauta-cientista na “Embry-Riddle Aeronautical University”, na Flórida, nos Estados Unidos.
No curso, de cinco dias, alunos de diferentes áreas aprendem sobre as nuvens notilucentes, têm aulas teóricas, fazem testes físicos e participam em voos. Oito pessoas terminaram o primeiro curso, incluindo Vasco Ribeiro, e outras duas edições foram realizadas.
Fonte JN