Em dia de clássico, na cozinha deu… empate!

21.10.2022 – 

Paulo Paiva cuida do “estômago” dos homens de Sérgio Conceição desde Agosto de 2021. Fernando Heleno, há 14 anos é o “mister” da cozinha do SL Benfica. Ambos são de Mira e cuidam de uma parte importantíssima porém, pouco lembrada, da energia que os atletas gastam em campo!

Dois exemplares Chefs, cada um com a sua história, Fernando Heleno – já há muito tempo nestas andanças – e Paulo Paiva – um novato no futebol, mas já bastante experiente na área – conhecem-se “há séculos”, visto que Heleno foi um dos professores de Paiva na Escola de Hotelaria de Coimbra, local onde, hoje, o mais novo dos chefs do clássico desta noite, leciona atualmente.

A vida é uma roda-viva e o percurso destes dois homens, que possuem a incumbência de cuidar da alimentação de Otávio, Taremi, Pepê, Vlachodimos, Otamendi ou Rafa dentre muitos outros excelentes jogadores, é mesmo a prova disso. Ambos têm Mira no coração, ambos têm Luís Lavrador como fonte de inspiração na arte de bem fazer pratos deliciosos e ambos possuem um profissionalismo acima da média que os levou a tal patamar!

Fernando Heleno entrou no mundo da bola há 30 anos, quando Gilberto Madail convidou-o para fazer parte da seleção nacional. Já, Pedro Paiva acabou por aceitar um convite endereçado pelo FC Porto ainda em tempo de pandemia, quando o clube entendeu que deveria reformular essa área fundamental para a saúde de cada um e, em última análise, de todo um grupo de atletas profissionais. O que ambos garantem é que possuem “a consciência absoluta” de que sabem que estão a cuidar de “homens, antes de tudo mas, também, de ativos muito valiosos dos clubes”.

“O que nos levou a sair da rotina, é não sermos “mais um” chef de hotel mas, sim, podermos transpor para esta “indústria” que é o futebol, os nossos conhecimentos e nosso profissionalismo” admitem eles para, depois confirmarem que “nesta área não tens vida, muitas vezes, não tens tempo para amigos e familiares, mas se o fazemos é porque realmente amamos estar no “nosso campo”, que é a cozinha, onde temos de “driblar” obstáculos no estrangeiro, por exemplo, para conseguirmos preparar os pratos que programamos para as comitivas, tendo de adquirir produtos mais ou menos semelhantes com aqueles que temos por cá… tudo isso faz parte de um amor e de uma seriedade profissional que só quem a tem, consegue por cá andar… não é fácil, podem ter a certeza!” esclarecem.

Paulo Paiva avança um pouco mais a ideia anterior, ao dizer que “qualquer coisa que falhe, a responsabilidade é nossa… como disse o Fernando, somos o “elo mais fraco” dentro da equipa mas, também temos, da parte da entidade patronal, a confiança necessária para que possamos desempenhar o nosso papel com total liberdade de ação… e isso é muito importante para cada um de nós”. 

A qualidade com um “Q” bem maiúsculo começa na escolha dos pratos, passa pelos alimentos, pela elaboração propriamente dita e vai até ao momento em que a comida chega à mesa. Nada, mesmo nada, neste percurso permite falhas! Por isso, por trabalharem em grandes clubes, onde todos os detalhes são vistos à lupa, ambos trabalham em conjunto com os nutricionistas pois, estes, sabem as necessidades de cada jogador e o que, cada um deles necessita a cada momento.

Estando, nos hotéis, “24 horas disponíveis para a equipa”, ambos reconhecem ter a sua importância, por exemplo, aquando da chegada de um jogador novo, vindo do estrangeiro, pois “temos a função de transmitirmos os sabores da nossa terra… a alimentação é um ponto importantíssimo da adaptação do atleta a um mundo, até então, “estranho” para ele” e essa maneira de facultar uma melhor integração, tantas vezes, é fundamental para que o atleta possa integrar-se rapidamente a um grupo onde, como no caso de clubes dessa envergadura, a ideia primordial, inicial, central e final é a de… vencer sempre!

Não é à toa que, em semanas como esta, de um clássico que mexe com emoções de milhões de pessoas e, em especial, de dias como este, quando a bola está prestes a rolar, que o nível de stress é enormíssimo. Não que haja diferenças com jogos menos mediáticos… “o stress existe sempre” anunciam, mas em cada caso há um nível de preparação mental mesmo para quem toma conta da cozinha, para que tudo corra pelo melhor!

Se Paulo Paiva é dragão desde pequenino, Fernando Heleno nasceu leão mas, por conta de um profissionalismo exemplar, rapidamente transformou-se em águia, pois é ali, no agora seu SLB, que dá o corpo ao manifesto hora após hora, dia após dia, ano após ano.

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Para ambos os chefs, quando questionados,“no dia de hoje, a vitória deverá recair para o lado de quem jogar melhor”. Isso é o fair play vindo das cozinhas e que passa pela sala de almoço e de jantar do hotel… que ele entre em campo e chegue as bancadas lotadas do Dragão, então! Que vença o melhor e que o derrotado saiba reconhecer a superioridade alheia… já, no que se refere ao jogo das cozinhas, não há dúvidas: ambos são merecedores de um empate que sabe a vitória!

Jornal Mira Online

* Agradecimentos ao Restaurante Morhua, na Praia de Mira e ao Sítio do Cartaxo, na Lagoa de Mira, que serviram de “cenários” para esta reportagem