Vai terminar amanhã, 27 de outubro, o Ciclo de Conferências “Carlos de Oliveira, 100 anos”, com Fluída? Vegetal? Animal? Confins e Metamorfoses da Prosa, de Água-Viva a Finisterra, tema que o professor e investigador Eduardo Sterzi irá explorar nesta iniciativa. Recorde-se que o Ciclo de Conferências dedicado a Carlos de Oliveira está inserido na vasta e diversificada programação que o Município de Cantanhede preparou para assinalar o centenário do nascimento do escritor. A sessão decorrerá no próximo dia 27 de outubro, a partir das 18h00, em formato online, através da plataforma YouTube.
A partir de uma leitura comparada de Finisterra, de Carlos de Oliveira, e Água-viva, de Clarice Lispector, o docente invocará esferas exteriores à cultura e à própria humanidade, com a emergência de algo como uma retórica extra-humana, que recorre com frequência às figuras do vegetal e do animal, mas também, em suas formas extremas, do inorgânico, passando a ser determinante para as reconfigurações da prosa romanesca nos anos 70, em obras que assinalam elas mesmas, não por acaso, os confins das experiências literárias de seus autores.
Com uma notável carreira reconhecida pelo seu contributo à língua portuguesa, Eduardo Sterzi é docente de teoria literária na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, Brasil) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Publicou Por que ler Dante e A prova dos nove: alguma poesia moderna e a tarefa da alegria. Organizou Do céu do futuro: cinco ensaios sobre Augusto de Campos, é autor de livros de poesia, como Aleijão e Maus poemas, e de teatro, como por exemplo Cavalo sopa martelo. Como curador, foi responsável, com Veronica Stigger, pela exposição Variações do corpo selvagem, com Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo, exibida no Brasil, na Alemanha e em Portugal, da qual saiu o livro com o mesmo título. Atualmente, encontra-se a preparar um livro e uma exposição referentes ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, acontecimento fundamental da história da cultura no Brasil.
Recorde-se que o principal objetivo deste ciclo de conferências foi o de, por um lado, percorrer lugares bastante frequentados nas obras de Carlos de Oliveira, submetendo-os a perspetivas críticas novas, como foi o caso das intervenções de Pedro Serra, da Universidade de Salamanca, (Espanha) e será a de Eduardo Sterzi, da Universidade Estadual de Campinas (Brasil). Mas, por outro lado, uma visita ao espólio do autor, no caso de Ricardo Namora e Rui Mateus, que aproveitaram para questionar a ausência, nos conteúdos programáticos escolares, ambos membros do Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra.
Carlos de Oliveira
Carlos de Oliveira nasceu em Belém do Pará, no Brasil, a 10 de agosto de 1921. Regressado a Portugal, juntamente com os pais, aos dois anos de idade, Carlos de Oliveira passou grande parte da sua infância no concelho de Cantanhede, inicialmente na Camarneira e depois em Febres, onde seu pai exercia medicina. A partir de 1933, passou a viver em Coimbra, onde permaneceu durante quinze anos, a fim de concluir os estudos liceais e universitários. Em 1941, ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde teve participação muito ativa nos movimentos intelectuais e políticos com outros jovens, entre os quais Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora.
Depois de ter concluído a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, instalou-se definitivamente em Lisboa, sem, contudo, deixar de visitar regularmente Coimbra e a Região da Gândara, onde viveu a sua infância e cujo território é o cenário preferencial da sua obra narrativa e também referência constante na sua poesia.
É autor de diversas obras em diferentes géneros literários. Uma Abelha na Chuva (1953), Casa na Duna (1943), Finisterra. Paisagem e Povoamento (1978), Pequenos Burgueses (1948) e Alcateia (1944) são os seus romances mais conhecidos, enquanto na poesia são referência Mãe Pobre (1945), Descida aos Infernos (1949), Terra de Harmonia (1950), Cantata (1960), Sobre o Lado Esquerdo (1968), Micropaisagem (1968) e Entre Duas Memórias (1971). Publicou ainda contos e crónicas, com destaque para A Pequena Esperança (1946) e O Aprendiz de Feiticeiro (1971). Faleceu em Lisboa a 1 de julho de 1981.