Portugal venceu a Argentina por 2-1 e fez história ao conquistar pela primeira vez o Mundial de Futsal na primeira ocasião em que chega à final da competição, um título que junta ao Europeu conquistado em 2016.
As lágrimas de Ricardinho, o maior jogador da história do futsal nacional e um dos maiores nomes da modalidade a nível mundial, durante os momentos em que A Portuguesa se fez ouvir na Zalgiris Arena, em Kaunas, na Lituânia, mostravam bem a dimensão do jogo que se avizinhava. A primeira final de um Mundial de Futsal para Portugal, o último jogo na competição para o capitão da equipa das Quinas aos 36 anos, a última grande final que lhe faltava disputar – e, consequentemente, ganhar.
A primeira parte demorou a fazer-se animada, com a Argentina, a campeã em título à entrada do jogo, a dar a iniciativa à seleção lusa e a assumir uma postura defensiva e agressiva, pronta para partir para o contra ataque. Foi aos nove minutos que os adeptos entoaram as primeiras sílabas de gritos de golo sem que, no entanto, a trajetória da bola lhes permitisse terminar o grito de celebração. Primeiro, para o lado da albiceste, com um remate de Basile a ser defendido por Bebé e a embater depois no poste. Logo a seguir, ainda no mesmo minuto, para Portugal, com Tiago Brito, na sequência de um canto, a tirar tinta ao poste da baliza argentina.
O público português, que marcou presença em força na Lituânia, já não estava a muitos minutos de distância de celebrar o primeiro golo. Depois de Borruto ter sido expulso, após agredir Ricardinho numa disputa de bola junto à linha lateral com um murro no estômago, uma decisão que foi validada no vídeo-árbitro após o selecionador português Jorge Braz ter pedido um challenger, ou seja, uma revisão da decisão da arbitragem que num primeiro momento não sinalizou a ação do jogador argentino como agressão, Portugal encostou a seleção da Argentina às cordas nos dois minutos em que a albiceleste ficou a jogar apenas com quatro elementos.
Aos 14 minutos, Ricardinho, completamente solto de marcação após assistência de Pany Varela, teve pontaria a mais e acertou no poste. Mas aos 15 minutos o destino da bola foi outro. Varela recebeu a bola de João Matos, fintou dois adversários, bateu o guarda-redes argentino Sarmiento e inaugurou o marcador da partida.
Já a jogar outra vez contra cinco, Portugal podia ter dilatado a vantagem nos minutos seguintes, mas a bola picada de Bruno Coelho (16′) e o remate mais fraco do que se exigia de Zicky Té (17′), num momento em que o guardião argentino estava batido, não encontraram o destino mais feliz que se pedia.
A seleção nacional foi para o intervalo a vencer e regressou dos balneários com a mesma atitude dominadora com terminou o primeiro tempo. Aos 24 minutos, numa jogada individual em que tirou dois argentinos do caminho, Erick picou a bola, mas viu o golo ser negado pela barra da baliza de Sarmiento
Nos dois minutos seguintes o guarda-redes argentino levou a melhor o duelo com Erick, sem precisar da ajuda dos ferros da baliza. Aos 26 foi a vez de Bebé brilhar na baliza portuguesa com uma palmada que impediu que Cuzzolino fizesse o golo na cobrança de um livre direto.
Portugal estava melhor no jogo e traduzi-o mais uma vez no marcador aos 28 minutos. Ricardinho cobrou o canto para trás e Pany Varela, de primeira, atirou junto ao canto inferior esquerdo da baliza argentina, e fez o segundo na partida.
Poucos segundos depois, Claudino, numa reação ao golo sofrido, fintou dois jogadores portugueses e colocou a bola no fundo da baliza de Bebé, guarda-redes que um minuto depois, com o peito, evitou que o Vaporaki fizesse o empate.
O empate não apareceu primeiro por competência do guardião português e depois por um falhanço de Edelstein que, após uma defesa incompleta de Bebé, não conseguiu, de baliza aberta, colocar a bola no fundo das redes.
A situação iria inverter-se poucos minutos depois com Fábio Cecílio, à frente da baliza desprotegida da argentina, a falhar de costas o toque de calcanhar.
A lutar contra uma seleção a jogar com guarda-redes avançado durante a quase totalidade dos três minutos finais, Portugal, que já tinha feito história ao superar o terceiro lugar da edição de 2000, na Guatemala, conseguiu manter a vantagem e conquistar assim o maior feito de sempre na história nacional do futsal; ser campeão do mundo.
Se as lágrimas de Ricardinho no início do encontro sublinharam o feito que tinha sido chegar aqui, não podíamos adivinhar que as palavras do capitão português de há dois dias teriam jeitos de premonição:”podemos dançar o tango, desde que no final toque o fado”.
E assim foi, dançaram-se tangos durante largos minutos dentro das quatro linhas para que no final só ficasse o fado.
Tomás Albino Gomes / Madremedia
Imagem: EPA/TOMS KALNINS