23.7.2024 –
Diogo Cruz Marques ou Patarra, como gosta de assinar a suas obras, é um jovem artista multidisciplinar com trabalho na área da pintura, design gráfico, ilustração e cinema de animação. Nascido a 12 de Agosto de 1993, cedo começou a desenvolver interesse e aptidão para o mundo das artes visuais.
JMO – A arte faz parte da tua vida. Como é que tudo começou?
DP – Começou como penso que começa, o gosto infantil pelo desenho. Desde cedo que o desenho me mantinha entretido durante várias horas. Era algo que eu realmente gostava e para o qual eu nutria uma certa aptidão. Aptidão essa que fez, na altura, a minha educadora de infância chamar a minha mãe à escola e sugerir-lhe que me inscrevesse em aulas de desenho e pintura. Coisa que, prontamente, a minha mãe teve a amabilidade de fazer. A partir daí, e do facto de ter familiares que de certa maneira estavam e estão ligados ao mundo da criatividade, a escolha de prosseguir os estudos na área artística foi desde cedo, óbvia. Ingressei os estudos no curso de artes visuais no secundário de Cantanhede, mais tarde fiz um pequeno desvio para o mundo da arquitectura, mundo esse que passado dois anos abandonei e prossegui na área do design gráfico, o que me levou a ingressar na faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
JMO – Quem é o Patarra, o que faz artisticamente?
DP – Patarra é um alter ego, um pseudônimo, uma de tantas outras máscaras que eu, assim como todos nós, usamos no nosso dia a dia. Esta surgiu de uma nostalgia das minhas origens, que inesperadamente, se rompeu em mim enquanto trilhava o meu caminho enquanto estudante em Lisboa e de alguma maneira começava a explorar a minha linguagem gráfica.
É como Patarra que me debruço sobre certos temas, sentimentos e inquietações para as quais tento encontrar resposta. Respostas essas que tento expor numa linguagem gráfica, pictórica que me permita exprimir de maneira a que, por diversas razões, não me permito enquanto Diogo.
Assim sendo, ao longo destes 6/7 anos por de trás do nome Patarra tenho vindo a representar e produzir peças que levam consigo a bagagem que fui recolhendo enquanto criança que fui (e que sou) criado entre a região da Bairrada e Gândara. De comum jovem Português que tem as suas dúvidas e enfrenta as suas batalhas como tantos outros jovens mas que pelo facto de ter crescido no litoral deste pequeno retângulo na cauda da Europa, tem uma maneira de se expressar que é forçosamente influenciada pelas suas origens e pelo que o rodeia.
JMO – O que é que tens feito, seja por cá, seja no estrangeiro, que possas referir?
DP – Grande parte do meu trabalho é no mundo da ilustração, tendo também desenvolvido algum trabalho na área da animação 2D e design gráfico. Recentemente tenho vindo a explorar o campo da pintura.
Tenho trabalhos de ilustração em algumas galerias espalhadas pelo país assim como fora. Trabalho ainda em algumas colaborações com festivais, revistas e estúdios. Pintei um mural no festival Catraia (2019) na praia da Tocha, colaborei com o estúdio Fica (2021), no qual desenvolvemos uma serigrafia e mais recentemente fiz uma ilustração para a revista Farta, uma revista gastronómica.
Atualmente vivo em Malta e estou, à parte do meu trabalho de escritório como designer gráfico das 9 as 5, a produzir trabalho como pintor. Recentemente tive uma exposição em colaboração com um artista Maltês (Ed Dingli) que reside em Portugal. A exposição foi recebida pela Malta Society of Arts, em Valletta, o que para mim foi uma grande honra. A exposição, essencialmente de pintura (9 pecas cada artista mais um tríptico em azulejo), foi uma tentativa de diálogo entre dois artistas, que ironicamente seguiram viagem em caminho oposto, e dois países que apesar de à primeira vista não terem nenhuma ligação, historicamente e culturalmente partilham muita coisa em comum.
JMO – Marques é o teu apelido. No entanto usas o Patarra como parte do teu nome artístico. Porquê?
DP – Patarra é o apelido do meu avô materno, Virgílio Patarra. Ele tem duas filhas e por razões que eu até há pouco tempo desconhecia, não lhes atribuiu o apelido Patarra mas sim Cruz. Apelido esse que chegou até mim. Quando o meu avô em jeito de desabafo me explicou o porquê desta escolha e ter demonstrado um certo arrependimento por deixar o apelido Patarra desaparecer na nossa família, a escolha de o adoptar como nome artístico foi óbvia e necessária. Hoje em dia há pessoas que só me conhecem pelo apelido Patarra.
É uma pequena homenagem que faço a alguém que tanto me ensinou e continua a ensinar. Uma referência e inspiração, não só pelas estórias que me conta mas pela sua história de vida e da maneira como a encara.
Recentemente li um livro do jornalista/escritor Raul de Brandão (Os Pescadores) no qual ele dedica um capítulo à Praia de Mira e fala de um Patarra. Gosto de acreditar que esse Patarra é um familiar meu e até quem sabe, o meu tetra avô de quem o meu avô conta tantas estórias. Estórias essas que já serviram de base para algumas das minhas ilustrações.
JMO – Vives noutro país que não o teu. Pensas um dia regressar quando tiveres condições para poderes viver cá?
DP – Como referi anteriormente, atualmente vivo em Malta, uma pequena ilha no meio do mediterrâneo que tem sido a minha casa nos últimos 3 anos. Penso que como qualquer emigrante, pretendo um dia regressar ao meu país. Não sei se num futuro próximo, até porque sinto que ainda devo e preciso de explorar outros países, outras culturas. Mas claro, é sempre bom regressar a casa, nem que seja só para uma curta visita.
Jornal Mira Online