O Veículo de Conservação de Catenária (VCC), que foi abalroado na sexta-feira pelo comboio Alfa Pendular, em Soure, distrito de Coimbra, passou um sinal vermelho e entrou na Linha do Norte, refere hoje o organismo responsável pela investigação. Falta saber porque é que tal ação foi tomada.
Segundo uma Nota Informativa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a agência Lusa teve acesso, o VCC “do gestor da infraestrutura tinha marcha estabelecida para a sua deslocação entre o Entroncamento e Mangualde”, era tripulado por dois trabalhadores (as duas vítimas mortais) e “não iria realizar quaisquer trabalhos no decurso da sua viagem”.
Pelas 15:12, explica o GPIAAF, o VCC parou na via de resguardo da estação de Soure a aguardar pela passagem do Alfa Pendular mas, alguns momentos depois, “por razões, que neste momento estão indeterminadas e que serão aprofundadas no decurso da investigação, o VCC reinicia a sua marcha, ultrapassando o sinal que se mantinha com aspeto vermelho”.
“Os VCC, tal como a generalidade dos veículos de manutenção de via no nosso país, não estão equipados com o sistema CONVEL, motivo pelo qual não foi desencadeada a frenagem automática resultando na consequente imobilização do VCC 105 antes de atingir um ponto de perigo”, sublinha a Nota Informativa.
A investigação conta que o atravessamento da estação de Soure pelo Alfa Pendular “foi feito à velocidade prevista de cerca de 190” quilómetros hora, momento em que os maquinistas visualizaram o sinal vermelho na linha[I] do Norte (sinal passou de verde para vermelho porque o VCC entrou na linha I) e o VCC a convergir para a via em que circulavam.
Após a ultrapassagem do sinal vermelho pelo VCC às 15:25, o sinal da linha I passou automaticamente a vermelho.
Desde a entrada do VCC na Linha do Norte até ao embate passaram 20 segundos.
O freio foi acionado, sem que tal pudesse impedir a colisão, a qual ocorreu às 15:26. Na sequência da colisão, descarrilaram os primeiros dois veículos do CPA 4005 [Alfa Pendular] e o VCC foi arrastado à sua frente durante cerca de 500 metros, até à imobilização do conjunto”, refere a nota.
O descarrilamento de um comboio Alfa Pendular, no concelho de Soure, distrito de Coimbra, com 212 passageiros, provocou na sexta-feira dois mortos e 44 feridos, oito dos quais graves, segundo a última atualização do Comando Distrital de Operações (CDOS) de Coimbra.
Segundo a Infraestruturas de Portugal, estão a decorrer os trabalhos no seguimento do acidente. De acordo com a empresa, foi já “possível iniciar a remoção das composições” acidentadas e “em simultâneo decorrem também os trabalhos para reabilitação da via e da catenária”.
Contudo, “devido à complexidade dos trabalhos”, ainda não é “possível prever quando será restabelecida a circulação na Linha do Norte”.
Quarenta e um dos 44 feridos do descarrilamento do comboio Alfa Pendular já tiveram alta e os outros três permanecem internados, disseram hoje à Lusa fontes hospitalares.
Em declarações à Agência Lusa, o gabinete de relações públicas do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), refere que dos 28 feridos que deram ali entrada, 25 já tiveram alta clínica e os restantes três permanecem internados.
Um doente está internado na medicina intensiva (o caso que inspira mais cuidados) e dois estão na unidade de cuidados cirúrgicos intermédios”, disse a mesma fonte.
Quanto aos 12 feridos que foram transportados para o Hospital Distrital da Figueira da Foz já tiveram todos alta hospitalar, segundo informações do gabinete de relações públicas daquela unidade.
Dos 44 feridos, quatro tiveram alta no local, 28 foram transportados para o CHUC, incluindo três crianças, e 12 foram assistidos no Hospital da Figueira da Foz.
O comboio seguia no sentido sul – norte com destino a Braga e o descarrilamento ocorreu após o embate entre o Alfa Pendular e uma máquina de trabalho, perto da vila de Soure, junto à localidade de Matas.
As duas vítimas mortais eram os únicos ocupantes da máquina da Infraestruturas de Portugal, de acordo com o comandante distrital de operações de Coimbra, Carlos Luís Tavares.
Lusa / Madremedia