Dário Guerreiro: «O humor é a capacidade que algumas pessoas têm de tourear tudo aquilo que a vida tem de mau.»

Dário Guerreiro nasceu em Portimão e afirma que faz da sua “traquinice a sua ocupação”.

O seu gosto pela comédia fez com que, em 2010, criasse o seu canal no youtube e, em 2012, pudesse vir a fazer stand-up comedy pela primeira vez no Teatro Municipal de Portimão.

Nesta entrevista, o Dário fala-nos do que tem sido esta experiência e dos seus projetos futuros.

Quando é que decidiste que querias fazer da tua “traquinice” uma ocupação?

Trabalhava na Bershka num horário que me ocupava as noites.

Ao fim de quase ano e meio fora-me proposto que ficasse efetivo na empresa, mas para tal teria que optar, uma vez que o exercício da comédia, nomeadamente os espetáculos de stand-up comedy, eram incompatíveis com os horários da loja.

Até então, a comédia era apenas um hobbie que me estava a correr muito bem.

Na impossibilidade de compatibilizar as duas coisas, arrisquei em fazer aquilo que me dava mais prazer pessoal, porém menos estabilidade financeira.

Foi um impulso que poderia ter tido outras consequências, mas felizmente correu bem.

Quando criaste o teu canal no youtube esperavas vir a ter tanto sucesso?

O conceito de sucesso é sempre subjetivo, varia em conformidade com as expetativas de cada pessoa.

Quando criei o meu canal, não existiam muitas expetativas associadas.

Era apenas uma forma de passar o tempo, dizer e fazer o que quisesse e quando quisesse… Quando criei o canal, não esperava que um dia pudesse vir a ter a quantidade de subscritores e visualizações que tenho hoje, mas à medida que o tempo foi passando e a repercussão dos vídeos foi aumentando, fui acreditando e percebendo que não existem limites para aquilo que poderia alcançar.

O que é que mudou desde então?

A câmara é melhor. Também tenho mais cuidado com o áudio.

Com o aumento significativo de espetadores, nasceu uma necessidade de acautelar a qualidade dos vídeos, mas sem desvirtuar a genuinidade do conteúdo.

No entanto, é impossível não me policiar em certos aspetos.

Sei que tenho uma audiência considerável e que ela tem expetativas bem definidas em relação a mim e aos meus vídeos, por isso tento não defraudar essas expetativas.

Nem sempre sou bem sucedido, mas nunca deixo de tentar.

Dois anos após teres criado o canal fizeste stand-up comedy pela primeira vez. O que é que recordas desse momento no Teatro Municipal de Portimão?

A primeira vez em que fiz stand-up foi importante porque esteve muita coisa em risco naquela noite, mais do que eu gosto de admitir.

Se tivesse corrido mal tenho dúvidas de que voltaria a tentar subir a um palco.

E tinha tudo para correr mal: ninguém que faça stand-up pela primeira vez começa logo a fazer 50 minutos, como me pediram a mim (e eu, ingenuamente, aceitei).

Os textos e músicas eram de qualidade precária. Mas o público não fugiu. No fim até aplaudiram.

Acarinharam-me e devo-lhes muito por isso.

A partir daí começaste a atuar em contextos muito variados.

Há algum momento que te tenha marcado de uma forma mais especial?

Nos primeiros anos em que fiz stand-up estava à procura da minha voz, do meu prisma sobre as coisas.

Faz parte do processo e eu tive a sorte de integrar algumas comitivas pomposas, com nomes sonantes do humor, numa fase ainda embrionária da minha carreira.

A primeira vez que atuei no Solrir, ainda o festival era em Portimão, não me correu muito bem, até um microfone estraguei.

Nessa fase, todos os espetáculos foram importantes no processo de me construir enquanto artista. Mas se tivesse que destacar as atuações mais gratificantes, além de todos os LenDários que já fiz, teriam que ser os roasts, quer o do Rui Xará, no Teatro Sá da Bandeira, quer o da SIC Radical, no São Jorge.

É um registo que adoro e sinto-me confortável nele.

A verdade é que todo o trabalho que tens feito já te permitiu atuar com grandes nomes do humor em Portugal. Como tens lidado com o facto de poder atuar no mesmo palco que o Herman José ou o Fernando Rocha?

É bom. É lisonjeiro. Mas sei que é fruto do meu trabalho.

Não me deixo ofuscar por partilhar palco com pessoas tão incontornáveis, trabalhadoras e que admiro tanto.

Sempre que aconteceu, tentei aprender ao máximo com eles mas, no final, dei o melhor de mim no palco para que a diferença de qualidade entre eles e eu seja a menor possível e, assim, tentar conquistar junto deles o estatuto de colega.

O que é que essas experiências te têm ensinado?

Que ainda não cheguei a lado nenhum e que há muito trabalho pela frente.

Para mim é bom que haja quem continue a colocar a fasquia lá em cima, faz-me exigir mais de mim e não permite conformismos.

O que fazes é o que queres fazer para o resto da tua vida?

Não sei. Não sou de futurologias.

O que faço é o que gosto de fazer agora. Depois logo se vê.

Para terminar, se pudesses descrever o que é o humor numa frase, o que dirias? O humor é capacidade que algumas (e só algumas) pessoas têm de tourear tudo aquilo que a vida tem de mau.

Terminada esta entrevista resta-me agradecer ao Dário por toda a disponibilidade e atenção.

Por Cátia Sofia Barbosa, aluna de Jornalismo na UC