Da nossa parceria poética, hoje vem um cheiro a Alentejo…

1 – Perfil do Poeta:

a) Nome: O meu nome é Felisbela Baião, mas o pseudónimo é Rosa Alentejana.

  1. b) Profissão: Sou docente de Educação Especial.
  2. c) Residente (localidade) arredores de Beja.

2 – JM. – Como se define em termos de ser humano?

Todos temos qualidades e defeitos e eu não fujo à regra…Sou uma pessoa leal, sincera e determinada, mas também sou teimosa, frágil e crédula na natureza humana. Numa palavra? Humana, nos sentidos que a palavra pode ter.

3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos ou outros? Mencione dois ou três.

Os autores que mais me marcaram foram: Fernando Pessoa e Florbela Espanca, porque foram estudados por imposição na escola, na adolescência. No entanto, tornaram-se grandes pilares para a minha escrita com o passar do tempo. Mais recentemente descobri a fluidez de Joaquim Pessoa, que trouxe mais vivacidade ao que escrevo.

4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.

Nenhum em especial me levou à escrita poética, embora durante o período em que os li na escola, traçasse alguns escritos nos cadernos, escondida dos professores e dos colegas (mantive-me sempre no anonimato por vergonha). Mas, circunstâncias da vida sim, desilusões, alegrias, a vontade de expressar o que sinto dentro das letras, camuflando com realidades irreais, isso sim, levou-me à escrita.

5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? ( Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros)

Houve uma altura em que testei os meus escritos num site de poesia, o Luso Poemas, e como tinha uma aceitação bastante positiva resolvi experimentar o Facebook. Como sempre fui muito tímida relativamente à escrita, por sugestão de um amigo, abri o perfil da “Rosa Alentejana” sem mostrar o rosto, só colocava fotos de rosas, porque são as minhas flores preferidas. “Alentejana”, naturalmente porque o sou com muito orgulho. Depois, por sugestão de outro amigo, comecei a publicar em Grupos de Poesia e começaram a escolher textos meus para fazerem parte de Antologias, sendo que a primeira foi “Essência dos Sentidos III, das Edições OZ, posteriormente veio a antologia “Amantes da Poesia”, da Editora Uni Versus, seguida da “Antologia poetas d´hoje” do nosso Grupo Poesia da Beira Ria, e por fim, “O poemário”, da Pastelaria Studios. Depois que comecei a frequentar estes “eventos poéticos”, o meu rosto passou a ser conhecido, pelo que as rosas passaram um pouco para segundo plano, surgindo o rosto da Felisbela. Recebo constantemente convites para saraus poéticos, todavia, a distância inibe-me de me poder deslocar, por questões de trabalho, o que me deixa bastante triste. Posso referir ainda que tenho um Blog chamado “O perfume das palavras” no site http://planicie-alentejana.blogspot.pt/, e vou aferindo as leituras, mas não o considero determinante para ter a noção da qualidade pela quantidade de pessoas que me leem, nem julgo que o facebook o seja, contudo é um meio “imediato” para receber feedback daquilo que vou escrevendo.

6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.

De um modo geral, e dadas as condições económicas que o país atravessa, julgo que o fator monetário seja determinante para a publicação de um livro, seja ele de que temática for. Ou se faz um estudo de mercado e se tenta perceber que género as pessoas escolheriam, ou corre-se o risco de não o vender. A poesia, por si, não me parece muito vendável, a não ser entre nós que escrevemos. Isso, suponho que torna as vendas e compras num ciclo vicioso, eu compro a A, e A compra-me a mim…o que leva a que não tenhamos propriamente lucros. Também me parece que a maioria das editoras (não digo que são todas, porque não estaria a ser justa) estão preocupadas em fazer negócio, a vender, e não a divulgar quem realmente escreve bem. Daí que, muitas vezes, vejamos péssimos escritores que têm dinheiro para investir, com vários livros editados, e pessoas que escrevem muito bem sem nenhum…

 7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?

Quanto a isso, julgo que quem me lê é que o deverá dizer.

8 – JM. – Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.

Escolhi um dos meus textos mais recentes para ilustrar a minha ligação à poesia:

Axis-mundi

Talvez o mais sublime

da arte de semear

seja o arado que seguras com segurança,

rumo às palavras escritas

a sol na minha boca

de árvore encantada.

 

E quando me cobres o orvalho uterino

com as folhas da figueira,

enquanto alucino no Paraíso das tuas mãos,

sou eu a paz e a plenitude

da ansia gravada na tua pele

e emerges camponês-guardião

da minha vontade.

 

Sou-te o pilar cósmico que te guia

pelas constelações do universo,

o “axis-mundi” da tua paixão, que te regenera,

fertiliza a mente,

cresce à medida da tua fome,

te torna imortal nos versos que proclamas

aos sete ventos

no Sete-Estrelo do meu sorriso!

 

Mas és tu a seiva que se entranha

nas raízes do meu mundo subterrâneo e vil,

que me acolhe e me assanha,

mas embriaga a sede

e sobe ao âmago da copa do meu corpo

sempre que me beijas.

 

É aí, onde o firmamento se confunde

com o Olimpo dos meus gemidos,

que me levas ao mundo dos Deuses

e me colocas no Altar,

como deusa-dionisíaca,

portadora do cálice de onde bebes,

e depositas nos meus cabelos

a guirlanda de rainha metafórica

dos instintos impudicos que adoras!

 

Promoves-me a nudez com pérolas

cor de cetim carmim

para idolatrar

a orgia lenta

dos nossos sentidos,

num Éden só nosso,

onde apenas existem infrutescências

doces e melosas como ambrósias

do nosso querer.

 

Rosa Alentejana

03/04/2015

9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente. Incentivaria uma escola para declamadores?

Não me parece que haja medo de ler poesia. Talvez haja pessoas que tenham receio de não dar a expressão correta ao que o poeta escreveu, ou então é uma questão cultural (quem lê poesia são as meninas e os efeminados). Mas parece-me que isso está ultrapassado. Uma escola de declamadores talvez fosse um pouco radical, mas promover Workshops de declamação sim.

10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?

Numa era em que as redes sociais estão completamente abertas, julgo que a divulgação da poesia está agora facilitadíssima. No entanto, sou apologista da motivação dos alunos nas escolas, no sentido de desenvolver a criatividade poética, promovendo concursos, workshops, blogs…para haver cada vez mais poetas.

11 – JM. Verifica-se que hoje em dia existem uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números?

O poeta tem mais opções de escolha, mas tal como referi anteriormente, muitas das editoras veem o trabalho do escritor como meros números para obter lucros.

12 – JM. Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?

Não tenho qualquer livro individual editado.

13 – JM. Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma página ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?

Tal como já referi, publico no Blog chamado “O perfume das palavras” no site http://planicie-alentejana.blogspot.pt/.

Termino esta entrevista dizendo a minha frase preferia: Sou apenas uma rosa qualquer, no meio deste Alentejo maravilhoso de sol e trigo.