A minha opinião acerca de um dos filmes mais emblemáticos de sempre e do tema nele abordado.
The Green Mile é um filme de 1999, realizado por Frank Darabont, com base num livro de Stephen King lançado em 1996. O filme aborda a história de Paul Edgecomb, um guarda prisional do corredor da morte, e do momento em que a sua vida se cruzou com John Coffey, um condenado à morte pelo suposto homicídio de duas crianças. Coffey tem o poder de curar doenças e de ver o coração das pessoas, o seu interior, conseguindo concluir se são ou não pessoas puras. É através desse poder que mostra a Edgecomb a sua inocência.
Depois de se saber que John Coffey era inocente, este foi morto, tal como era suposto ser. A meu ver, é isto que está errado com a lei da pena de morte, porque assim como são mortos muitos culpados, são igualmente condenados inocentes que acabam por morrer por falta de provas que mostrem a sua inocência.
Não sou contra a pena de morte – tenho, inclusive, uma opinião favorável em relação a esta. No entanto, defendo que seja aplicada com limites e apenas em casos em que a culpa do condenado esteja devidamente comprovada, sem qualquer margem de erro.
Outro aspeto a ter em conta é a questão do impacto que tem o racismo na decisão da condenação à pena de morte, algo que é bem retratado neste filme, tendo em conta que John Coffey é de raça negra. Num artigo da revista Época, publicado em 2003, são demonstrados os resultados apurados por uma comissão de inquérito do Estado americano de Illinois, nos quais se constata que a raça da vítima é um fator decisivo nos processos de condenação à morte por assassinato.
Neste Estado americano (no qual foi, em 2011, abolida a pena de morte), e de acordo com o Departamento de Justiça, entre 1995 e 2000, em 75% dos casos de condenação à morte o réu era negro ou pertencia a alguma minoria étnica. Além disso, a probabilidade de uma pessoa condenada pela morte de alguém de raça branca ir para o corredor da morte é quatro vezes maior do que a de alguém que matou uma pessoa de raça negra.
Após ver este filme surgiram, inevitavelmente, algumas questões no meu pensamento. Será que a lei da pena de morte não devia ser revista e analisada com outros olhos? Será que os polícias que investigam os casos não deviam investigar mais afincadamente, em vez de se deixarem levar pelas primeiras provas que encontram? Será que, tendo em conta que é a vida de seres humanos que está em causa, não devia existir algum cuidado e um maior rigor na escolha daqueles que merecem certamente ser condenados à morte, independentemente da sua raça, etnia ou religião?
Julgo que o facto de os condenados à morte serem escolhidos por homens comuns é um fator chave para que os erros aconteçam, visto que o ser humano é um ser errante por natureza – mas será que não há erros que podem ser evitados? É esta a questão à qual gostaria de obter uma resposta.
The Green Mile é um filme que nos leva facilmente às lágrimas e nos faz encarar a realidade dos corredores da morte com outros olhos, pois esta não é apenas a história de John Coffey e dos seus poderes sobrenaturais – é também a história de outros condenados que, tal como Coffey, têm um coração bom, mesmo tendo sido realmente culpados pelos crimes dos quais os acusam. Além disso, é um filme que mostra a envolvência que os agentes penitenciários (ou pelo menos alguns) têm com os condenados e o quanto lhes custa cumprir um trabalho que tem, por lei, de ser feito.
Para concluir, indignação é a palavra que melhor descreve aquilo que sinto quanto à história deste filme e àquilo que ela representa. Indignação pelas injustiças que são cometidas todos os dias em todo o mundo, no que diz respeito à lei da pena de morte. E, como diria Che Guevara, “se for capaz de tremer de indignação de cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”.
Por: Joana Veríssimo, estudante de Jornalismo na UC