Cravos vermelhos, canções simbólicas, discursos e homenagens: O 25 de Abril em Mira…

26.5.2024 –

No Atrium Mira, o 25 de Abril foi contado e, também, cantado.

Janete Ferreira e Tó Zé Rodrigues engalanaram, com interpretações de altíssimo nível, a Sessão Solene que evocou o cinquentenário da Revolução de Abril de 1974.

Com os discursos de Nelson Maltez, Presidente da Assembleia Municipal, Augusto Louro de Miranda (CHEGA),  Maria José Silva (PS), Lurdes Mesquita (PSD) e de Artur Fresco Presidente da Câmara Municipal, a convergirem na necessidade de de se proteger a Democracia e na aceitação de que as conquistas foram muitas, mas que ainda falta um longo caminho a percorrer na correção das desigualdades, houve também espaço para as críticas ao Poder Central e ao Poder local… algo que só foi possível, devido à Liberdade conquistada há 50 anos!

Enquanto o representante do CHEGA defendeu que as últimas Legislativas “acabaram com o bi-partidarismo”,  também aproveitou para  alertar para “a falta de equipamentos de qualidade na saúde e a corrupção” como alguns exemplos dentre as muitas falhas gritantes no atual sistema na sua opinião.

Já a representante do Partido Socialista apontou para aquilo que considera ser “o não respeito à oposição, nomeadamente a da Praia de Mira”. Mesmo discordando das práticas que considera injustas, a oradora deixou a certeza de que acredita “que vale a pena” lutar pelo que ela e seu partido acreditam e defendem.

O Presidente da Assembleia Municipal, por sua vez, levou recordações daquela altura e não deixou de referir que “há muitos anos somos um país de imigrantes”, enquanto a representante do Partido Social Democrata referenciou “a atual crise na habitação e na saúde” para além de alertar “que estão a corroer a Democracia” com uma justiça a deixar “homens e mulheres com as suas vidas em suspenso” por conta de denúncias que levam muitos anos a serem decididas nos tribunais.

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O discurso do Presidente, na íntegra:

“Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Mira, Nelson Maltez, demais elementos da Assembleia, Exmos. Srs. Presidentes (e demais representantes) das Juntas e Assembleias de Freguesia; elementos das forças de segurança (GNR), Proteção Civil Municipal, Direção e Corpo de Bombeiros Voluntários de Mira, Direção do Agrupamento de Escolas, Associação de Pais e Encarregados de Educação, Exmo. Sr. Padre Germano; demais representantes de entidades civis, militares e religiosas, Exma. Comunicação Social; senhoras e senhores:

Sejam bem-vindos ao Atrium Mira, este espaço onde nos encontramos; faz precisamente hoje um ano, que foi inaugurado, na presença da anterior Sra. Ministra da Coesão Territorial. De ruínas, ergueu-se esta obra, que desde então, tem sido palco de inúmeras utilizações, desde concertos, apresentações de livros, exposições variadas, concursos literários, palestras, assembleias municipais… Um espaço que fazia falta, utilizado por particulares pelas escolas, pelas associações, sempre gratuitamente.

É com enorme honra e emoção que nos reunimos hoje, aqui, para assinalar um momento crucial na história da nossa nação: os 50 anos do 25 de abril de 1974, um dia que marcou o início de uma nova era de liberdade e democracia em Portugal.

Difícil de entender à luz dos valores, livre arbítrio e liberdades de hoje, a sociedade, na sua grande maioria, estava proibida de atividade política, associativa e sindical. A que existia era fictícia e controlada pela polícia política.

Milhares de portugueses emigraram em busca de uma vida melhor na última década do Estado Novo. Muitos eram jovens, face ao espectro de irem para a guerra do Ultramar. Fogem clandestinamente, no que ficou conhecido por emigração “a salto” (principalmente para Espanha, França e Alemanha). Os dados estatísticos apontam para a saída, entre emigrantes legais e ilegais, de mais de um milhão e meio de portugueses, entre 1950 e 1974.

Os que queriam fugir à guerra, mas simultaneamente, evitavam emigrar, optaram por embarcar nos navios de pesca ao bacalhau, para as paragens frias do atlântico norte; outra “guerra” com muitos perigos e dificuldades, de onde muitos também não regressaram.

Sem liberdade de expressão ou direito de voto, a maioria do povo português viveu quatro décadas de repressão; no ensino, na saúde e noutros setores, a discriminação de género era claramente vincada, patrocinando legislativamente a sociedade patriarcal. Um pouco mais tarde, as “Três Marias” escritoras viriam a demonstrar a coragem necessária para a revolta feminina.

Juntemos a este cenário, os cerca de 13 anos de guerras coloniais, que levariam os Capitães de Abril a começarem a pensar que era preciso mudar. De reuniões secretas surgiria o Movimento das Forças Armadas, que levaria à revolução do 25 de Abril de 1974.

Sem mordaças ou censuras, subitamente já são permitidas asreuniões, os aglomerados, as manifestações. Na passagem para a Terceira República, ou para a Liberdade, essa desconhecida, seguem-se seis governos provisórios; segue- se a descolonização; seguem-se as eleições livres.

A revolução dos cravos, não apenas derrubou as amarras da ditadura, mas também abriu caminho para uma sociedade mais justa e inclusiva. Permitiu-nos erguer a voz, expressar as nossas opiniões e contribuir ativamente para o destino da nossa nação. Foi um momento de renascimento e renovação, onde os valores da liberdade, igualdade e fraternidade foram proclamados como pilares fundamentais da nossa democracia.

Hoje, ao celebrarmos este aniversário histórico, também refletimos sobre os desafios que enfrentamos como sociedade. A democracia é um compromisso contínuo, que exige vigilância, participação e responsabilidade de todos nós. Devemos proteger e fortalecer as instituições democráticas, promover a justiça social e combater todas as formas de discriminação e injustiça.

Durante todo o mês de abril, o Município de Mira tem realizado, em conjunto com a rede de Bibliotecas, o Agrupamento de Escolas e os Museus, variados momentos de comemoração destes 50 anos de abril: ciclo de cinema, exposições de fotografia, exposição bibliográfica, exposição digital, saraus, oficinas e ateliers, livros e histórias, concertos, tertúlias, homenagem aos ex-combatentes e esta sessão solene, onde ainda agora se inseriu outra homenagem.

Esta homenagem, é o reconhecimento merecido, a quem dedicou o seu tempo, emprestou o seu saber e conduziu os destinos de Mira durante tempos delicados e conturbados. De referir ainda que todo o processo de transição se revelou tranquilo e pacífico, entre os dirigentes cessantes (Dr. José Luís Cravo Roxo, José Mendes Colaço e Manuel Augusto de Almeida Barreto) e os que assumiam a Comissão Administrativa, que aos nomes aqui referidos, se me é permitido, devemos acrescentar outros que também se disponibilizaram a ajudar neste processo, tendo também sido nomeados para o efeito: Dr. Cipriano Pinhal Palhavã, Dr. Vítor dos Santos Fernandes, José Domingos Marques Ribeiro Maçarico e Mário Marques Ferreira Maduro.

Como cidadãos de Mira, comprometemo-nos a honrar o legado do 25 de abril, defendendo os princípios democráticos e trabalhando juntos para construir um futuro mais justo e inclusivo para todos os nossos concidadãos.

A liberdade é um direito fundamental de todos os seres humanos; é a capacidade de agir e tomar decisões de forma independente, sem restrições ou opressão. Ela dá-nos a oportunidade de viver de acordo com nossos valores, crenças e desejos, na procura do bem-estar e da felicidade.

A esperança é o que nos impulsiona a seguir em frente, a enfrentar os desafios e a superar as adversidades com a confiança de que dias melhores virão. É a crença de que podemos fazer a diferença, de que podemos construir um mundo mais justo, solidário e sustentável.

Quando unimos a liberdade com a esperança no futuro, podemos vislumbrar um horizonte de possibilidades infinitas, onde cada um de nós tem o poder de transformar a realidade e criar um mundo melhor para todos. É essa combinação de valores e sentimentos que nos dá forças para continuar a lutar por mais justiça e dignidade para todos.

Hoje, renovamos o nosso compromisso com os ideais de liberdade, democracia e justiça que foram consagrados há 50 anos. Que o espírito do 25 de abril continue a inspirar-nos e a guiar-nos enquanto trilhamos um caminho com mais confiança no futuro.

Viva Mira!
Viva a Liberdade!
Viva Portugal!”

OS HOMENAGEADOS:

Álvaro Carvalho, Narciso Patrão António e Fernando Rico. Pelos dois últimos, já falecidos, receberam as medalhas de ouro, os seus filhos.

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IMAGENS DO DIA 1 DE MAIO E 1974 EM MIRA

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O 25 DE ABRIL CANTADO (1)…

O 25 DE ABRIL CANTADO (2)…

ENCERRAMENTO SESSÃO SOLENE 25 DE ABRIL

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