“Estamos a viver uma época singular e especial. Estamos a criar e a recriar personalidades. Estamos à beira do precipício e no início de uma jovialidade fresca. Estamos e não estamos.
É um tempo caótico, desgastante, de correrias, de férias extra longas em casa. É uma época de cabeças quentes e frias, de mentes depressivas, de trabalho e falta dele.
E, de extensão a extensão, vamos perdendo a noção do que é aceitável e do que não é humano. Vamos ganhando asas para descobrir as insuficiências da sociedade e aquilo que, antes, era dissimulado aos nossos olhos. Vamos partilhando juízos de valor inaceitáveis e fechamos os olhos ao nosso próprio reflexo.
Mas, se temos a capacidade de ver para além do que nos é coagido, então também temos de carecer da mesma mestria de agir para além do que nos é limitado. Limites estes que, na maior parte das vezes, são impostos por individualismos. E, numa sociedade, não deveria ser um por um, e todos por nenhum. Não deveriam existir metas desfocadas no que diz respeito ao bem estar comum. As ânsias pessoais e interesses alheios deveriam sucumbir perante o árduo desfecho de milhares de vidas.
Apenas deveríamos ser. Uns para os outros.
Não sei se foi o Covid que nos fez melhores ou piores. Não sei se já éramos assim.
Só sei que, entre meios, não pode existir um vírus humano. Ainda mais.”
Andreia Cardoso