O Governo tem deixado o desporto “abandonado” e “desprezado” durante a pandemia de covid-19, defendeu o presidente do Comité Olímpico de Portugal, alertando para uma quebra “muito significativa”, estimada em 52%, nos indicadores da prática desportiva no país.
“Não se tem lembrado muito. Por aquilo que é do nosso conhecimento, tem deixado um pouco abandonado, um pouco desprezado, um pouco esquecido o encontrar de soluções políticas para a situação que o sistema desportivo está a viver […]. Começa a ser tarde para encontrar respostas políticas que ajudem a amenizar o impacto que a situação pandémica está a ter sobre o sistema desportivo”, respondeu José Manuel Constantino ao ser questionado sobre se o Governo português se esqueceu do desporto durante a crise da covid-19.
Contrariamente a outros setores da sociedade, o desporto não foi contemplado nos apoios criados por parte do Estado para mitigar os efeitos da pandemia, algo que o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) acredita resultar de uma combinação de ausência de vontade política e de falta de cultura desportiva por parte não só dos sucessivos Governos, mas também da opinião pública.
“O desporto não tem peso na agenda política do Governo, porque há uma deficiente perceção cultural sobre a sua importância na construção de uma sociedade moderna. Alguma razão tem de existir para o facto de a generalidade dos países europeus terem encontrado soluções para a situação e em Portugal elas ainda não terem ocorrido. Eu atribuo a isso à ausência de peso político na agenda governamental na área do desporto, e isso resulta de uma deficiente perceção sobre a importância cultural que o desporto tem na sociedade portuguesa”, vincou.
Esse esquecimento a que o desporto parece votado pelo poder político é um reflexo da sociedade portuguesa, já que, como notou José Manuel Constantino, “os políticos não são uma parte estranha ao país, fazem parte do país, refletem um pouco aquilo que é a sensibilidade que o país tem relativamente aos problemas, e eles próprios elegem as suas prioridades muito em função daquilo que é a sua leitura das preocupações do país”.
Uma das ‘discriminações’ de que o setor tem sido alvo é a interdição do acesso dos espetadores aos recintos desportivos, algo que o presidente do COP crê resultar da falta de “vontade do ponto de vista das autoridades de saúde de encontrarem soluções transitórias que, mitigando o problema, permitissem, com alguma segurança, a retoma de público nas competições desportivas”.
“Só posso entender nessa linha e entender também que não houve orientação política para que a situação fosse distinta daquela que é atualmente, porque há um conjunto de espetáculos onde é possível o acesso de público. Mesmo em Portugal, já houve espetáculos desportivos que correram bem, onde esse acesso foi permitido. Naturalmente que o quadro pandémico não é muito estimulante e é muito preocupante, mas eu creio que já houve um período em que teria sido possível encarar essa situação e regulá-la”, defendeu.
De resto, as televisões, as fotografias de jornais mostram muitos espetáculos desportivos com centenas de pessoas a assistir fora do espaço desportivo propriamente dito, mas cá fora, à volta do campo. Enfim, em ajuntamentos que, naturalmente, comportam riscos. Eu creio que seria preferível deixar entrar essas pessoas e regulamentar a forma como se poderia ter acesso às bancadas. Mantendo as distâncias de segurança e os controlos de segurança, seria possível isso, seria preferível isso do que estarem cá fora completamente aglomerados, sem critérios, sem disciplina e correndo riscos”, reforçou.