Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede com estreias na Tocha, Pocariça, Ourentã e Franciscas

O Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede tem agendadas para o próximo fim-de-semana, 11 e 12 de março, mais quatro estreias. As peças que serão levadas à cena inauguram, no certame deste ano, a participação do GATT – Grupo Amador de Teatro da Tocha, do Grupo de Teatro, Arte e Cultura (Pocariça), do Grupo Cénico do CSPO – Centro Social e Polivalente de Ourentã e do Grupo de Teatro da Associação do Grupo Musical das Franciscas, todos com espetáculos para o público das comunidades em que estão inseridos.

No sábado, a partir das 21h30, o GATT – Grupo Amador de Teatro da Tocha apresenta na sua sede As Duas Cartas, uma divertida comédia construída a partir do texto original de Júlio Dinis sobre os esforços de dois jovens de classes sociais completamente diferentes que lutam pela conquista do amor de uma rapariga. A troca involuntária da carta que cada um deles envia à mesma destinatária, cujos conteúdos são completamente antagónicos, desencadeia um conjunto de peripécias e equívocos que, após os devidos esclarecimentos, proporcionam um final feliz.

Ainda no sábado, também às 21h30, o Grupo de Teatro, Arte e Cultura, da Pocariça leva ao palco da sede da Associação Musical da Pocariça Um Grito Parado no Ar, de Gianfrancesco Guarnieri. Trata-se de uma espécie de desconstrução do processo de montagem de um espetáculo teatral por uma companhia que, confrontada com escasso tempo até à estreia, depara-se com vários outros problemas, como cortes de luz, falta de equipamento e a falta os acessórios de cena que os credores vão levando por não estarem pagos, entre outros. “A peça é uma celebração do mistério do teatro, com as suas mazelas e a sua grandeza, a sua desordem e o seu fascínio”.

No domingo, 12 de março, às 15h30, é a vez de o Grupo Cénico do CSPO – Centro Social e Polivalente de Ourentã apresentar no espaço polivalente desta instituição “A Farsa do Advogado Patelino”, comédia de costumes centrada nas peripécias de um causídico esperto e ardiloso que, com a ajuda da sua astuciosa mulher, engana um comerciante simplório. Depois de ter defendido e conseguido a absolvição de um pastor em tribunal, num processo que lhe foi instaurado pelo tal comerciante, o jurista, por sua vez, é enganado pelo próprio pastor, recorrendo ao estratagema com que o próprio advogado o havia instruído para se defender contra o comerciante.

Também no domingo, igualmente às 15h30, o Grupo de Teatro do Grupo Musical das Franciscas interpreta o intemporal Auto da Barca do Inferno, uma adaptação de Dora de Jesus da obra homónima de Gil Vicente, o pai e mestre da dramaturgia nacional. Considerada como uma verdadeira crónica de costumes da sociedade lisboeta do início do século XVI, a peça continua a ser uma oportunidade para, rindo, problematizar temas sempre atuais e inquietantes como sejam o bem e o mal, a morte e a vida ou o ter e o poder.

Sobre o GATT – Grupo Amador de Teatro da Tocha

As origens do GATT – Grupo Amador de Teatro da Tocha ninguém as sabe ao certo e também não existe nenhum documento escrito onde estejam registadas. São os elementos antigos com mais anos de casa que contam, entre as memórias que ainda surgem, os momentos mais marcantes de que há lembrança.

Os ensaios decorriam na antiga sede, localizada na Rua Dr. José Gomes da Cruz. A primeira peça foi levada à cena na década de 60, no antigo Grémio de Instrução e Recreio da Tocha, onde se realizavam os bailes (no atual café Esplanada), mas a continuidade perdeu-se.

É na década de 70, pelas mãos de Júlio Garcia Simão, encenador e antigo funcionário do Rovisco Pais, que o Grupo de Teatro ganha novo alento. Mais tarde é substituído por Américo Guímaro, que levou à cena a peça “A Forja”, também encenada no Festival de Teatro de Montemor-o-Velho. É com ele que se estreia a peça “Frei Thomaz”.

Segue-se novamente um período de interregno, onde apenas se fazem alguns “sketches”, para em 1984 Júlio Campante, de Coimbra mas casado com a professora da escola primária da Tocha, dar uma nova dinâmica ao Grupo Amador de Teatro, que com ele começou a atuar em palcos um pouco por todo o país.

O bichinho do teatro ficou de vez, e já na sede da Associação Recreativa e Cultural 1.º de Maio da Tocha, “o salão encheu-se um punhado de vezes”. A população aderia aos espetáculos e é com o Ciclo de Teatro Amador de Cantanhede e a participação no certame que o grupo se revitaliza e se consolida, ficando apenas marcada por um interregno de um ano, em 2003, devido a um vazio de direção instalado, e em 2012, por doença do ator principal, Américo Romão.

O Grupo de Teatro Amador da Tocha já levou a palco diversas peças de diferentes estilos, tais como “A Casa dos Pais”, “Entre Giestas”, “A Mala de Bernardete”, “Serão Homens Amanhã”, “Há Horas Diabólicas”, “As Duas Cartas”, “Uma Sardinha para Três”, “Terra Firme”, “Frei Thomaz”, levada a palco na década de 1970 e que em 2009 voltou a estar em cena, seguida de “Falar Verdade a Mentir”, “A Forja”, “O Doente Imaginário”, uma adaptação do original da autoria de Molière, “Verdades e mentiras da vida real”, um original da autoria de José Maria Giraldo, e Desejo Voraz, peça com que encerrou a edição anterior do Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede.

 

Sobre o Grupo de Teatro, Arte e Cultura da Associação Musical da Pocariça

O teatro na Pocariça remonta ao ano de 1895, quando começaram a ser feitas várias representações por um grupo de amadores de Coimbra. Um dos elementos deixou o grupo e decidiu organizar uma sociedade dramática, apenas constituída por amadores da Pocariça, que foi designada de Recreio Artístico. Apesar da saída de alguns membros do Recreio Artístico pouco depois da sua fundação, o agrupamento ainda subiu ao palco em fevereiro de 1896.

Em 14 de julho desse mesmo ano nasceu outro grupo de teatro amador, que foi batizado de Sociedade Dramática Pocaricense e que teve a sua estreia com a peça “Os Milagres de Santo António”.

Um novo grupo dramático foi constituído em 1909 com o objetivo específico de angariar fundos para a construção de uma casa de teatro na Pocariça. Constituído exclusivamente por elementos da localidade, este grupo exibiu as primeiras peças em abril, como a opereta intitulada “Canto Celestial” e outras peças, entre as quais um original de José Gomes Lopes, intitulado “Milagres de Amor”, o mais recordado de todos. Com a receita destas peças e com o produto de uma subscrição pública foi possível instalar um palco, camarins, vários cenários pintados e ainda pano de boca de cena.

Em abril de 1914 foi representada a última récita, uma vez que, pouco tempo depois, o prédio teve novo dono e desapareceu assim o “passatempo” de representar peças teatrais.

O Grupo Cénico da Pocariça surge já na década de 1950, sob orientação de Mário Pereira da Silva. Aí se revelaram nova vaga de atores amadores de grande vocação artística.

Para manter viva esta tradição ligada ao teatro amador, foi criado em 2000 o Grupo de Teatro, Arte e Cultura, no seio de outra coletividade de referência, a Associação Musical da Pocariça. A inspiração para este grupo está ligada ao trabalho artístico da atriz de teatro musical que conquistou fama a nível internacional, Auzenda de Oliveira, nascida na Pocariça em 1888.

O Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede, organizado pelo Município, serviu também de pretexto para trazer de volta a atividade teatral e de lhe dar um caráter sistemático e regular.

“Saudades da minha Terra” foi o primeiro êxito desta formação mais reduzida, mas também a opereta “Entre Duas Avé Marias”, peça dos anos 1950, ajudou a cimentar a reputação deste coletivo.

O Grupo participa ininterruptamente no Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede desde a sua 4.ª edição em 2001-2002.

 

Sobre o Grupo Cénico do C.S.P.O. – Centro Social e Polivalente de Ourentã

Constituído por cerca de 25 elementos, entre atores, atrizes e demais colaboradores, o Grupo Cénico do C.S.P.O. – Centro Social e Polivalente de Ourentã fez renascer na freguesia uma tradição local que há muitos anos se encontrava sem atividade.

A primeira formação teatral conhecida remonta a 1936, cujas atuações permanecem ainda na memória de alguns dos residentes mais velhos como acontecimentos importantes na dinamização sociocultural da comunidade. Depois de vários períodos de interrupção, o último dos quais de vinte anos, devido a dificuldades no relacionamento entre a direção então eleita e o proprietário do imóvel que servia de sede à coletividade (Centro de Recreio Popular de Ourentã), o teatro voltou a ter expressão em Ourentã em 2003, ano em que um conjunto de entusiastas mobilizou esforços e vontades para criar um grupo cénico no âmbito da valência cultural do Centro Social e Polivalente de Ourentã, que havia sido fundado em 1995.

Para além do objetivo de fazer reviver uma tradição antiga na freguesia, na base da iniciativa esteve também a motivação dos promotores em fazer representar a instituição no Ciclo de Teatro Amador, programa da Câmara Municipal com reconhecido alcance cultural e grande notoriedade em todo o Concelho.

Depois do afastamento de Laurindo Francisco, em 2005, por motivos de saúde, Abel Ribeiro ficou a coordenar o grupo, cujos elementos têm participado nas ações de formação que a autarquia cantanhedense tem vindo a promover, sob orientação de atores profissionais.

Segundo os seus responsáveis, estas ações têm sido um fator muito importante na valorização técnica e artística dos intervenientes, ao mesmo tempo que têm permitido tirar melhor partido dos recursos e alargar os horizontes do grupo na produção dos espetáculos.

O financiamento da sua atividade é assegurado pelo CSPO, que também gere as receitas provenientes de outros apoios e subsídios, entre os quais o que é atribuído pela Câmara Municipal no âmbito dos ciclos de teatro.

Os ensaios decorrem normalmente na sede do CSPO ou, quando isso não é possível, num dos salões da Junta de Freguesia de Ourentã. O trabalho é desenvolvido ao longo do ano com a regularidade possível, de acordo com a disponibilidade das pessoas envolvidas, muitas vezes com grande sacrifício.

 

Sobre o Grupo de Teatro da Associação do Grupo Musical das Franciscas

Remonta a largos anos atrás o envolvimento da população das Franciscas nas atividades das artes de palco, havendo dados que referem representações de 1931 como uma atividade bem expressiva da comunidade local, que com grande brio preparava as diversas atuações públicas. Esta prática manteve-se até 1960, sensivelmente, ao que se seguiu um período menos ativo.

Mas a paragem foi meramente pontual, pois a vontade, a arte e o engenho que caracteriza as gentes das Franciscas não tardou em voltar a manifestar-se, tendo a atividade teatral sido recuperada por volta de 1970, permanecendo em plena expressão até ao ano de 2002. O Grupo de Teatro da Associação do Grupo Musical das Franciscas foi um dos pioneiros no Ciclo de Teatro Amador de Cantanhede que o Município de Cantanhede iniciou em 1998.

Posteriormente, por dificuldades várias, voltou a ausentar-se em algumas edições, mas regressa agora, que está concluída grande parte das obras da sede social, com motivação acrescida e renovada dos seus corpos sociais.

Conforme referem os responsáveis, o grupo volta a aparecer em cena com pujança e vontade de fazer perdurar o legado cultural herdado de outros tempos e que se mantém com a predisposição natural da população das Franciscas para a representação teatral.