A instalação de uma empresa de produção avícola em Mira tem sido uma das grandes discussões no concelho nos últimos dias. Muitas são as opiniões e sugestões que fazem defender o seu ponto de vista.
Como bióloga e geóloga responsável pelo CianMira – Centro de Interpretação do Ambiente e da Natureza de Mira – mas principalmente como cidadã ambientalmente consciente, sinto-me compelida a demonstrar o meu desagrado pela iniciativa baseando-me em estudos publicados em artigos científicos. Não quero ser demasiado extensa e pretendo ser clara nos factos que apresento.
Assim, eis algumas das consequências deste tipo de indústria:
– Poluição das águas superficiais e lençol freático. Os nitratos e o fósforo produzidos nos excrementos das aves são transportados para as águas subterrâneas e, em épocas de chuva, pode afectar a água superficial como lagoas e valas, especialmente nos solos arenosos e bem drenados. Estes nutrientes também provocam a eutrofização de lagos e lagoas, provocando a morte da ictiofauna. As bactérias E. coli e Salmonella dos excrementos podem contaminar águas de consumo humano e animal, assim como as substâncias químicas de antibióticos e larvicidas oriundas das dietas dos frangos. Uma vez que o local onde será implementada a indústria é rasgado por um curso de água, este foco de poluição será, especialmente, muito difícil de conter.
– Qualidade do ar afectada por emissões de gases como a amónia, exalação de odores e produção de pó na atmosfera. A amónia é um gás tóxico que afecta a saúde humana e animal e que se forma devido aos excrementos das aves.
– Praga de insectos e roedores devido à quantidade de alimento disponível através das rações e excrementos, sendo os mais comuns a mosca doméstica e o escaravelho que podem transmitir agentes patogénicos como Salmonella, Pasteurella, Staphilococcus e ovos de helmintes.
– A avicultura ficará localizada numa zona florestal aberta, importante para espécies vegetais rasteiras e pequenos arbustos que servem de alimento a variados animais. Esta zona é de excelência para a ocupação por coelho-bravo e roedores, presas da raposa, aves de rapina e cobras. A ocupação pela avicultura destruirá o habitat e tornar-se-á uma barreira para a deslocação das espécies na sua época de reprodução.
– Os maus odores serão transportados para todo o concelho e perturbarão munícipes e turistas que esperam que Mira seja um local de ar puro. O impacto visual de instalações com estas dimensões no meio da natureza e no percurso que se realiza até às praias é negativo.
Entendo que estas indústrias são importantes para a economia e que apresentam sempre soluções para tais consequências, mas nem tudo o que reluz é ouro e está provado, também, em artigos científicos, que é necessário um controlo muito apertado para reduzir tais impactos e que para o caso do odor, ainda não foram apresentadas soluções viáveis. É preciso fazer uma lista de prós e contras e verificar se será um bom investimento para o local. Num concelho que se quer destacar pela protecção da Natureza, turismo e economia a ela associada, não creio que a instalação desta indústria seja a melhor opção.
Se Mira é natureza, não a vamos destruir e tomar decisões contraditórias que descredibilizará o concelho nacional e internacionalmente. Sejamos sensatos e coerentes!
Joana Lima