Cerveja continua “rainha” na Queima das Fitas de Coimbra

Coimbra voltou a ser ontem à tarde inundada de milhares de pessoas para assistirem ao cortejo da Queima das Fitas, que vai da Porta Férrea da Universidade à baixa, em que a cerveja é a “rainha” da festa.

Com o tempo quente a ajudar, milhares de litros de cerveja jorraram pelas goelas e por cima dos corpos dos estudantes, em autênticos banhos de cevada, num cenário que se vem generalizando ano após ano.

“Acho um bocado exagerado. É álcool a mais e a maior parte dos estudantes acaba por não aproveitar a festa”, lamenta Graça Alves, que foi ao cortejo para assistir à primeira Queima das Fitas do filho, que estuda Marketing e Negócios Internacionais.

Mais de 100 carros alegóricos participaram no cortejo, que começou às 15:00, com o Grupo de Gaiteriros da Rainha Santa a abrir o desfile, seguido de um grupo de médicos que assinalava os 25 anos de curso.

Como é tradição, o cortejo era encabeçado pelo carro de Medicina, que apresentava um primeiro-ministro à “pesca de uma vaga”.

“Queremos denunciar que o método da nova prova de medicina não é o mais justo. Antes, todos os estudantes sabiam que quando entravam no curso tinham no final uma vaga para tirar a especialidade, o que não vai acontecer”, explicou a finalista Ana Silva, de Vila Nova de Gaia.

A futura médica, de 25 anos, considera que o primeiro-ministro “devia ter a noção que o país está a formar dos melhores médicos do mundo, que têm de ir para outros sítios onde sejam valorizados”.

“Em 2018, um terço dos estudantes ficaram sem vaga na especialidade e ficam como médicos indiferenciados”, disse Ana Silva, que deposita muita confiança na sua próxima etapa profissional.

Mas o carro que deu mais polémica nos dias que antecederam o cortejo foi o de História, que inicialmente tinha o nome de “Alcoholocausto”, mas que foi impedido pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra de o fazer.

Desfilando sem nome, os estudantes de História deixaram a sua posição bem vincada: “com esta polémica toda, parece que ainda há polícia académica”.

A crise académica de 1969 não passou ao lado dos novos fitados, sobretudo aos de Engenharia Bioquímica, que afixaram um cartaz dizendo: “Há 50 anos pedíamos a palavra, hoje imploramos por emprego”.

Encontrar trabalho na área é agora o grande desafio de Eliana Fernandes, de Viseu, que termina este ano o curso de Bioquímica, já que continuar os estudos não está, neste momento, nos seus horizontes.

Ano após ano, os estudantes são acusados de perderem a criatividade e o sentido crítico, mas o curso de Psicologia questionou: “Criatividade para quê se temos o ctrl c e ctrl v?”, ou seja, a cópia e a colagem através da Internet.

Depois de 21 anos sem carro alegórico, o curso de História de Arte voltou a participar no desfile. “Era altura de fazer alguma coisa diferente e o carro fazia falta, ajuda-nos a estarmos mais unidos num ambiente de festa”, argumentou Margarida Antunes, do 2.º ano daquela licenciatura.

Entre bengaladas nas cartolas e banhos de cerveja, os estudantes abraçaram e cumprimentam familiares e amigos que assistiam ao cortejo.

“É uma alegria indescritível, é o culminar de uma fase trabalhosa e árdua, que nos traz um sentimento de vitória”, enfatiza Fernando Monteiro, de Castelo Branco, finalista de Direito.

Lusa