A alimentação da cegonha-branca em aterros sanitários mudou a dieta desta espécie, expondo-a a novas ameaças, como a ingestão de materiais inorgânicos, conclui uma investigação da Universidade de Évora (UÉ), agora publicada numa revista internacional.
Segundo a universidade alentejana, em comunicado enviado hoje à agência Lusa, o estudo integrou uma dissertação de mestrado em Biologia da Conservação, da autoria de Tiago Ventura, e foi publicado no Wilson Journal of Ornithology.
Neste trabalho, um grupo de investigadores da UÉ verificou que a alimentação em aterros sanitários mudou a dieta da cegonha-branca (Ciconia ciconia) e expôs a espécie “a novas ameaças, como a ingestão de materiais inorgânicos e o cleptoparasitismo por milhafres”.
“Os aterros sanitários são fontes de alimento relevantes e muito utilizadas por várias espécies de aves oportunistas como cegonhas, gaivotas, rapinas e corvídeos”, lembrou João Rabaça, investigador do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Évora (MED) da UÉ.
O mesmo investigador e professor do Departamento de Biologia da academia alentejana, citado no comunicado, “as aves juntam-se em grande número” em aterros “para se alimentarem”.
“E existe uma elevada probabilidade de ocorrer cleptoparasitismo” nos aterros sanitários, ou seja, “parasitismo por roubo”, o que se aplica quando um animal leva o alimento capturado por outro indivíduo, eventualmente de outra espécie.
As populações de cegonha-branca da Europa Ocidental sofreram um declínio no século XX, mas, no caso da Península Ibérica, esta tendência foi revertida nos últimos 30 anos.
“Em parte devido ao aumento da disponibilidade de alimento em aterros sanitários” e, como a cegonha-branca “é uma espécie oportunista, que se alimenta de invertebrados, peixes, anfíbios e pequenos mamíferos, beneficia dos recursos alimentares facultados pelos aterros”, indicou.