“Caramelos de Amargar”: Silvério Manata dá voz à alma da Gândara num livro que é também regresso, memória e homenagem

19.06.2025 –

Há livros que são mais do que palavras impressas. São raízes, são caminhos de volta, são afetos semeados entre páginas. “Caramelos de Amargar”, o mais recente livro de Silvério Manata, é um desses livros.

Natural dos Carapelhos, no coração da Gândara, Silvério Manata carrega no rosto o sorriso de quem cumprimenta todos por igual, e nas mãos firmes o aperto sincero de quem nunca se esqueceu de onde veio. Entre a Gândara natal e o Alentejo, o escritor assume-se como um homem “sempre em trânsito”, num vaivém constante entre geografias e sentimentos.

“Caramelos de Amargar” é o oitavo livro de uma carreira feita com os pés bem assentes na terra e o olhar voltado para dentro — para dentro da Gândara, para dentro da condição humana. A expressão “caramelos” refere-se àqueles que, desde o século XVIII, saíam do sul do concelho de Mira para trabalhar entre o Sado e o Tejo, cavando a charneca. O livro parte de um conto que cresceu e se desdobrou em duas vozes narrativas — a do narrador participante e a do omnisciente — como que para abarcar melhor a complexidade da história e das suas gentes.

“Esforcei-me por uma linguagem acessível, sem cedências”, diz o autor, com a serenidade de quem sabe o valor da palavra justa. “Essa é a minha marca d’água.” E é de água e de terra que se faz este novo livro, amadurecido ao longo de dois anos de escrita e reflexão, até que Manata sentisse que estava, finalmente, “completo”.

O que Silvério Manata escreve não são apenas histórias. São testemunhos. São homenagens. São âncoras lançadas à memória coletiva da Gândara — esse território físico e emocional que nunca o deixou partir por inteiro. “O âmago da Gândara está sempre presente”, confessa. “Sejam os lugares, sejam as pessoas.”

É essa inquietação que move o autor — esse desassossego que o faz voltar sempre à escrita como quem regressa a casa. “Escrever dá muito trabalho… e muito prazer, também!”, confessa, com a honestidade de quem não vive para a escrita, mas vive da escrita — no sentido mais profundo e verdadeiro da expressão.

Silvério Manata é, pois, um contador de histórias. Mas é, acima de tudo, um guardião da identidade gandaresa. Em cada livro, em cada linha, uma celebração — discreta, mas intensa — dessa terra que o moldou. E que, através da sua escrita, ganha novas formas de eternidade.

Jornal Mira Online