Capotes das serras e montes de Portugal foram reinterpretados para serem usados nas cidades.
O sucesso dos modelos em burel, uma matéria tradicional 100% lã e impermeável, feitos à mão pelo Grupo de Artesãs de Arões, exclusivos e urbanos, foi tal que a marca À Capucha!, lançada em 2013, foi convidada a fazer quatro modelos exclusivos para um editorial da Vogue Gioiello. “Era focado na joalharia e as joias tinham melhor leitura se as nossas peças fossem brancas. Ainda temos três”, conta Maria Ruivo, 28 anos e um dos rostos do projeto.
As vendas aumentaram lá fora e a equipa, que fica completa com Raquel Pais e Cecília Lage, 30 e 29 anos, pretende lançar a sua segunda coleção no outono de 2016. O design voltará a ser de Helena Cardoso. Enquanto há dois anos a intenção foi “explicar a peça original”, agora a preocupação é “aperfeiçoar detalhes”, diz Raquel. Haverá modelos reversíveis e uma capucha para criança. Será simplificada a venda online e as capuchas de senhora passarão a ter bolsos. A tempo do Natal deste ano, deverá estar cá fora um alfinete com desenho de Lia Gonçalves, para fechar os capotes.
Em Lisboa, Miguel Amaral Vieira, 31 anos, autor do blogue Beyond Fabric e consultor de marketing de moda, lançou no mesmo ano uma coleção de capotes para homens. “O que fiz foi alterar o “fitting” da peça, mantendo a tradição. Troquei a pele de raposa na gola pela de borrego. Os tecidos burel e surrobeco”.
Só fez 16 capotes, que vendeu para vários destinos internacionais e fizeram furor na Imprensa especializada estrangeira, e não tenciona voltar àquele agasalho. Mas ainda tem alguns exemplares dessa experiência, a 670 euros. O futuro, avança, passará por “desenvolver novas peças com o burel”.
Criar para valorizar o Alentejo
Mais a sul, Delfina Marques e Florbela Nunes lançaram a Capote”s Emotion na mesma altura. Conheciam-se há anos, dos tempos da Universidade de Évora, e queriam “criar algo que valorizasse o que de melhor se fazia no Alentejo”. Delfina explica que, como o burel “é muito pesado e não é funcional”, os capotes da marca, com sede e loja em Évora, são feitos em “veludos de lã e 100% lã, que são resistentes e quentes, mas muito mais leves”. Os forros são em viscose, o comprimento foi alterado, as cores são mais alegres e a peça perdeu largura.
A Capote”s Emotion tem vindo a introduzir várias alterações e muda as cores a cada coleção. Este ano, as novidades são “a capa tradicional e o capote e a capa infantis”. A marca lançou recentemente também o capote, a samarra e a capa “Tech Love”, com um parceiro. “Têm capuz amovível e um bolso interior para o iPad ou o iPhone”.
A Ecolã, com fábrica em Manteigas, na serra da Estrela, e lojas no Porto e em Lisboa, é uma empresa familiar, de 1925, com certificação ecológica, faz capotes com lã de ovelha Bordaleira e vende para sete mercados internacionais, todos na Europa. “Somos a única empresa que acompanha todo o ciclo da lã, desde a tosquia até ao produto final”, sublinha Maria Adelaide Perfeito, que gere a loja do Porto.
A Ecolã tem capotes em burel que fica “cinco horas na água num pisão” e outros em que este processo tradicional é encurtado e que, por isso, resultam mais leves e suaves ao toque – sacrifica-se a impermeabilidade. E aposta em modelos intemporais e cores clássicas, as inovações que introduz são mais ao nível da usabilidade.
Fonte JN