Cantanhede é o primeiro município a participar no projeto “Vamos pôr o Sequeira no lugar certo”

A Câmara Municipal de Cantanhede deliberou, por unanimidade, a atribuição de um subsídio de 2.195,70 euros  ao GAMNAA – Grupo dos Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga, materializando assim o apoio à campanha de angariação de fundos para aquisição do quadro “A Adoração dos Magos”, de  Domingos António de Sequeira (Lisboa, 1768 – Roma, 1837), que aquela entidade está a promover.

A proposta partiu do líder do executivo camarário, João Moura, que justifica esta iniciativa inédita ao nível autárquico «pela necessidade de reforçar a mobilização dos cidadãos e das organizações públicas e privadas em torno de uma causa de indiscutível interesse cultural para o país, pois cria condições para todos os portugueses poderem beneficiar de um valioso património».

Conforme explica o autarca, «o montante que o Município de Cantanhede destina à criação do fundo para a compra da pintura de Domingos António de Sequeira corresponde a 0,06 euros por habitante do concelho, ou seja, a autarquia assume integralmente por toda a população o donativo proposto a cada português pela entidade promotora da campanha». João Moura adianta que, na qualidade de membro do Conselho Diretivo da Associação Nacional dos Municípios Portugueses sugeriu, na última reunião ordinária desse órgão, «que fosse lançado um desafio com contornos idênticos a todas as autarquias do país».

No seu entender, «a aquisição de “A Adoração dos Magos” deve merecer o apoio dos municípios, não apenas porque se trata de proporcionar ao Museu Nacional de Arte Antiga os meios de que não dispõe nesta altura para comprar um bem patrimonial amplamente reconhecido como estruturante para o seu importante acervo cultural e artístico, evitando assim a sua saída do país, mas também porque esse apoio é consentâneo com as responsabilidades das autarquias em matéria de preservação do património nacional. De resto» refere o presidente da Câmara de Cantanhede, «foi também esse certamente o propósito do apoio de várias entidades públicas e privadas que já se assumiram como parceiras do projeto».

João Moura manifesta-se esperançado em que esta iniciativa pioneira no universo dos municípios «venha a constituir um estímulo para outras autarquias e entidades, de modo a que, o mais rapidamente possível, se constitua o fundo que permita manter a obra no país em condições de poder ser apreciada por todos os portugueses».

O subsídio de 2.195,70 euros que a autarquia cantanhedense vai transferir para o GAMNAA – Grupo dos Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga foi atribuído ao abrigo do nº. 2 al) e) do artº. 23º. da Lei nº. 75/2013, de 12 de setembro, nos termos da qual os municípios dispõem de atribuições nos domínios do património, cultura e ciência, competindo-lhes deliberar sobre formas de apoio a entidades legalmente existentes (al) o) do nº.1 do artº. 33º.), bem como sobre a sua participação em projetos e ações de cooperação descentralizada (al) aaa) do nº. 1 do artº. 33º.).

Na proposta aprovada por unanimidade pode ler-se que “a possibilidade de integrar “A Adoração dos Magos” no acervo do Museu Nacional de Arte Antiga é uma oportunidade, porventura única, de criar condições para facultar à generalidade dos portugueses a fruição de uma obra de referência. É nesse sentido que se afigura uma obrigação para todas as pessoas e entidades identificadas os valores da cultura a participação no desígnio coletivo de adquirir a pintura de Domingos António de Sequeira, cujo valor de mercado ascende a 600.000 euros, circunstância que levou o MNAA a desencadear a campanha de angariação de fundos tendo como referência o contributo de 0,06 euros por cada cidadão português. Nos termos dos objetivos enunciados, concretizar a aquisição significará que, pela primeira vez, uma obra de arte foi comprada por todos os portugueses numa grande operação de mecenato conjunto entre os cidadãos e entidades públicas e privadas”.

“A Adoração dos Magos” é uma pintura concebida num momento particular da vida de Domingos António de Sequeira, sendo apontada como representativa da arte romana e europeia. Concluída pelo artista plástico em 1828, durante a sua permanência cidade de Roma, a obra sobressai de uma notável série de quatro pinturas religiosas que constituem o seu mais “extraordinário testamento artístico”, no qual mostra a verdadeira dimensão do seu génio criativo e revela os fatores por que é considerado o pintor de transição do Neoclassicismo para o Romantismo.

A carreira artística de Domingos António de Sequeira desenvolveu-se em Roma, na sequência da deteção precoce do seu talento, o que o fez beneficiar de proteção aristocrática através de uma bolsa que lhe permitiu aperfeiçoar a sua arte com os melhores mestres. Os vários prémios académicos que obteve nessa fase foram o prenúncio do que viria a seguir, uma brilhante carreira que incluiu duas passagens por Paris, onde foi distinguido no Salon de 1824, e que teve máxima expressão no regresso a Roma, onde reencontrou o reconhecimento dos seus pares do meio artístico.

O Museu Nacional de Arte Antiga possui a mais vasta coleção nacional de desenhos e pinturas de Domingos António de Sequeira, mas falta-lhe uma das obras que o colocam no mais elevado patamar das artes plásticas. “A Adoração dos Magos” é uma dessas obras, pelo que, quando foi anunciada a sua venda, o Museu Nacional de Arte Antiga se propôs-se adquiri-la, ainda que confrontada com a falta de recursos financeiros para concretizar a aquisição. Por isso, decidiu lançar uma campanha de angariação de fundos denominada “Vamos pôr o Sequeira no lugar certo”, no intuito de não permitir que esta peça fundamental do património nacional pudesse ser adquirida por colecionadores estrangeiros.