O presidente da Câmara de Mira pediu hoje soluções rápidas que minimizem danos ambientais causados no concelho por descargas poluentes de indústrias localizadas no município vizinho de Cantanhede, até à construção de uma ETAR, a partir de 2022.
“Sei que não são soluções definitivas, são soluções mitigadoras, mas que, pelo menos até ao final da construção da ETAR, nos garantam algum sossego e minimizem [os problemas ambientais]. Já sei que só com a construção da ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais] é que vai ficar resolvido, mas pelo menos minimizem o problema”, apelou Raul Almeida, durante uma audição parlamentar.
O autarca destacou ainda que o concelho terá de ser compensado pelos constantes desastres ambientais causados por descargas de indústrias e empresas, sobretudo localizadas no vizinho concelho de Cantanhede, “que estão constantemente a acontecer e adensaram-se desde 2013/2014”.
De acordo com Raul Almeida, o problema ambiental deve-se à falta de capacidade de transporte de uma conduta de saneamento em alta que passa em Cantanhede e atravessa todo o concelho de Mira, inclusive em território de Rede Natura.
Raul Almeida exemplificou que desde 2013/2014 começou a haver problemas com a Lactogal, indústria localizada na Tocha (Cantanhede) que, sozinha, “produz quase a quantidade de efluentes que produz o município de Mira”.
“Estamos a falar, na Tocha, também da lavandaria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que também produzem uma quantidade enorme. Só estes dois produtores, digamos assim, produzem uma quantidade de efluentes que o sistema não aguenta”, disse.
Para resolver o problema, em 2019 a empresa Águas do Centro Litoral (AdCL) apresentou uma solução que consiste na construção de uma ETAR na localidade de Cochadas (Cantanhede), cujo concurso público será lançado hoje, para obras que devem ser iniciadas apenas em 2022.
É preciso tomar medidas rápidas urgentes e não andarmos com este impasse ao longo de anos, quando se está perante um crime ambiental. (…) Há oito anos que eu estou na Câmara e há oito anos que nos andamos a bater por isto”, sublinhou o presidente, criticando a inércia do Governo por, após dois concursos públicos terem ficado “vazios”, ter sido necessário esperar seis meses pelo reforço de verbas para lançamento deste novo concurso público.
O autarca destacou que já propôs ao Governo a criação de um grupo de trabalho para chegar a medidas concretas para atenuar os efeitos no concelho e pediu “medidas transitórias que mitiguem os efeitos” das descargas até à construção da ETAR.
“Temos que arranjar algo que mitigue isto. E deixo o apelo aos senhores deputados, também já o deixei à senhora secretária de Estado e queria deixa-lo ao senhor ministro [do Ambiente], que Mira vai ter de ser ressarcida disto. Mira vai ter de ser ressarcida”, disse.
Entre os efeitos das descargas, destacou os danos ambientais causados à zona da Barrinha de Mira, sobretudo à lagoa, que no verão tem pouca água e, devido às descargas, fica completamente verde devido à eutrofização.
Estamos a estragar aquilo que é o nosso património cultural, o nosso património natural, aquilo que é nosso. Nós queremos o desenvolvimento e todos queremos o nosso desenvolvimento, do país, da região, de todos, mas temos que também pensar bem que isso não é feito à custa do ambiente”, alertou, salientando que Mira é um município que vive do turismo, pelo que esta poluição ainda causa problemas sociais.
Raul Almeida sublinhou ainda que o sentimento dos habitantes de Mira é de “revolta” e que, tal como confirmado pela presidente de Cantanhede, Helena Teodósio, também ouvida pelos deputados, já houve situações de ameaças de morte.