Cães e gatos com perfis no Facebook? Gostamos disso

As redes sociais acabam por ser uma extensão do próprio eu, dos gostos e afetos, explica a socióloga Paula Guerra.

“Por que se faz um perfil do animal? Pela mesma razão por que se põe uma foto dos filhos”, diz a investigadora nas áreas de sociologia da cultura e das artes, que também é professora no Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Para Paula Guerra isto evidencia ainda uma certa “sensibilização da sociedade em geral” face aos direitos dos animais e às “virtualidades que tem o facto de vivermos perto deles”.

Há um maior respeito pela natureza e pelos seres, uma noção de que não estamos sozinhos no planeta, conclui. “Os animais são um bocadinho a nossa família e tenta-se dar-lhes voz”, afirma Raquel Strada, sobre a criação de perfis para eles nas redes sociais – às quais “nós hoje estamos muito ligados”, nota. “É uma forma de demonstrar o amor que sentimos por eles”. O seu cão, Tufão, é um fenómeno de popularidade: com quase 90 mil seguidores no Facebook e outros tantos no Instagram, já foi capa de revista, fez campanhas publicitárias e desfiles. “Safa-se melhor do que eu, às vezes!”, brinca a apresentadora. Foi, aliás, por brincadeira que tudo começou.

“Eu queria criar um alter ego até para mim, de vez em quando gostava de ser mais sarcástica, criar uma espécie de Grumpy cat”, conta Raquel Strada. A primeira página de Tufão no Facebook era só para amigos e alimentada por ela, Duarte Borges e Rui Maria Pêgo; entretanto foi aberta ao público e cresceu como se sabe. Por que será este chow-chow tão aliciante para quem o segue? Talvez pela combinação de dois aspetos: “É o cão com o ar mais fofo do Mundo, que diz mal de tudo e de todos”, sustenta Raquel Strada. “Ele acha-se o maior, goza comigo…

Não tem outro objetivo senão puro divertimento e acho que as pessoas precisam de se rir”. Mas Tufão não é o único a ser fotografado junto de figuras públicas. A cadela Valentina já posou ao lado de personalidades como o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis, o músico Pedro Abrunhosa ou a deputada Ilda Figueiredo.

Para acompanhar no grupo do Facebook “Valentina”s”, que tem mais de 5000 membros. Vera Alves Pereira, que há ano e meio levou esta cadela yorkshire para casa, em Vila Nova de Gaia, diz que o grupo pode ter sido criado por brincadeira – pela amiga e vizinha Susana Magalhães, que também cuida de Valentina, mas a ideia “é dar a conhecer o lado lúdico, prazeroso e enriquecedor dos animais de companhia”, mostrar, no fundo, “o que eles podem acrescentar de positivo à vida das pessoas”. A criação destes perfis nas redes sociais “pode despertar nas pessoas a vontade de ter um animal e de o amar como se fosse um membro da família”, observa, por seu lado, Vítor Malva, que sempre teve bichos de estimação, inclusive recolhidos da rua, e agora se dedica a Camões, um buldogue francês com página no Facebook. Nela acompanhamos algumas das suas peripécias – como quando comeu metade de um chinelo, ou rasgou uma nota de 10 euros.

Ninguém diria que a página, bem-humorada, nasceu de um momento difícil. Vítor Malva foi buscar Camões ao Algarve tinha este dois meses. O animal chegou a Coimbra “muito doente” e esteve internado semana e meia, o que coincidiu justamente com a primeira semana de trabalho de Vítor, lembra. Como só podia ver o cão de manhã ou à noite, o seu grupo de amigos tratou de revezar-se nas visitas ao mesmo, de hora a hora. Temia-se que não sobrevivesse, mas recuperou, e Vítor fez a página para os amigos poderem acompanhar o seu crescimento. “Camões the Frenchie” tem hoje mais de 400 seguidores.

Furor faz também o gato Gordito, que costuma estar junto ao refeitório da Universidade de Aveiro (UA) “a dormir e a receber festas e comida”. Palavras de Romeu Monteiro, que decidiu criar um perfil do animal: “Gordito da UA”. De um dia para o outro, teve centenas de fãs e agora são mais de seis mil. “Havia muitas pessoas com fotos do Gordito e pensei: ele precisa de uma página no Facebook”, partilha, garantindo que a popularidade do gato é tal que quase não precisa de fazer nada. “Alunos e funcionários vão tirando fotos dele e pondo na página ou mandando por mensagem”.

Fonte JN