Denúncia é feita junto do Conselho Regional da Europa pelos conselheiros em território britânico. “São casos mesmo muito graves, estamos a falar de portugueses que têm medo de falar português na rua porque podem ser agredidos.”
Vários emigrantes portugueses no Reino Unido estão a ser afetados por “xenofobia e discriminação” relacionada com o ‘Brexit’, de acordo com o relatado esta sexta-feira pelos conselheiros em território britânico, junto do Conselho Regional da Europa (CRE).
A presidente demissionária do CRE das Comunidades Portuguesas, Luísa Semedo, afirmou que os conselheiros eleitos pelo Reino Unido relataram que há portugueses que estão a ser afetados por “xenofobia e discriminação”, impulsionada pela saída da União Europeia. “São casos mesmo muito graves. Estamos a falar de portugueses que têm medo de falar português na rua, porque podem ser, de alguma forma, agredidos – verbalmente, pelo menos – e isso é gravíssimo”, disse Luísa Semedo, num balanço final da reunião de dois dias que reuniu conselheiros de países europeus no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Luísa Semedo referiu estes temas têm na génese “um crescimento da extrema-direita”, que “também está presente em Portugal”. “Não nos podemos esquecer que lá fora somos estrangeiros, é assim que nós somos tratados e, portanto, todo este crescimento da extrema-direita é muito perigoso para nós”, acrescentou.
A secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, considerou que “é evidente” que a presença de discursos nacionalistas pode possibilitar o surgimento de “um discurso xenófobo e racista um bocado com mais força”, acrescentando que Portugal “não está imune” a discursos xenófobos. “Da parte da Secretaria de Estado das Comunidades, nós, sempre que tenhamos conhecimento de alguma espécie de abuso ou de algum tipo de situação em que consideremos que devamos intervir, certamente o faremos”, garantiu Berta Nunes, advogando que perante estes discursos “a tolerância deve ser zero”.
Berta Nunes fez um balanço positivo da reunião com o CRE das Comunidades Portuguesas, o primeiro em que participou desde que assumiu a pasta de secretária de Estado, em outubro do ano passado. “Considero que o papel dos conselheiros é importante, são uma voz autorizada porque são eleitos com legitimidade eleitoral – embora muitos não sejam eleitos por muitos portugueses – (…) e eles são uma voz das nossas comunidades que temos de ouvir”, vincou a governante, apelando ao voto dos emigrantes nos seus representantes.
No encontro entre a secretária de Estado e os conselheiros europeus debateram-se também alterações à Lei do Conselho das Comunidades Portuguesas, o ensino da língua e “questões sociais” como o envelhecimento de emigrantes. “Ficou combinado criarmos um grupo de trabalho e iniciarmos o mais breve possível esse trabalho para fazer alterações à legislação. Há várias propostas que o Conselho das Comunidades tem feito em relação à legislação”, referiu Berta Nunes.
A secretária de Estado salientou que há também discussões sobre a realização das eleições para os conselheiros, previstas para outubro deste ano.
Luísa Semedo destacou a presença do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, no encontro, tendo sido a primeira presença do chefe da diplomacia numa reunião do CRE no atual mandato.
Durante o encontro, que terminou ontem no Ministério dos Negócios Estrangeiros, o conselheiro eleito para o Conselho Regional da Europa (CRE) das Comunidades Portuguesas pela Bélgica, Pedro Rupio, foi eleito para a presidência do órgão, substituindo Luísa Semedo, que apresentou recentemente a sua demissão deste órgão.
Lusa / RR