O jornalista e escritor brasileiro Eric Nepomuceno afirmou hoje que a democracia corre “um risco seríssimo” no Brasil, onde está em curso o que definiu como um “golpe de Estado perfeito”, em que, “aparentemente, as “instituições funcionam”.
Nepomuceno, que hoje participou no encontro “Resistências Pacíficas: o Valor da Liberdade”, em Almada, no âmbito das comemorações do 25 de Abril, disse que “não há tanques nas ruas” nem trabalhadores ou estudantes torturados ou fuzilados “exceto os negros e pobres”, nem “polícia nas redações”, porque não é preciso já que o “patronato é cúmplice do golpe”.
O autor e tradutor lamentou que tenha sido derrubada “uma Presidente legítima [Dilma Rousseff] sem motivo algum” e que o ex-presidente Lula da Silva tenha sido preso com base nas “convicções de um sacripanta que se chama Sérgio Moro [ministro da Justiça de Jair Bolsonaro]”, questionando a ética do magistrado que “recebeu um convite de Jair Bolsonaro no meio da campanha eleitoral”.
“Quando ele prendeu o Lula, favoreceu a eleição de um descapacitado, um descerebrado, um energúmeno, um troglodita chamado Jair Bolsonaro”, atacou.
Nepomuceno aproveitou para recordar que, este ano, o Museu de História Natural de Nova Iorque decidiu cancelar o evento da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos no qual o Presidente brasileiro iria receber o prémio de “Pessoa do Ano”, após ser alvo de críticas.
“Eu acho que foi um erro tremendo porque seria a chance de ser o único museu de história natural do mundo a ter lá dentro um dinossauro vivo”, ironizou o autor, que já traduziu obras dos principais autores contemporâneos da literatura hispânica incluindo Gabriel García Márquez, Julio Cortázar e Jorge Luis Borges.
Questionado sobre como via os caminhos da liberdade no Brasil, na véspera da comemoração da revolução portuguesa do 25 de Abril, o jornalista comentou que estão “turvos e cheios de obstáculos”.
“Só nos resta resistir”, rematou.
No encontro organizado pela câmara municipal de Almada participaram, além de Eric Nepomuceno, o ativista luso-angolano Luaty Beirão, o ator e realizar curdo Zyrek e a presidente da Letras Nómadas – Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas, Olga Mariano.
Lusa