BOMBEIROS DA REGIÃO FIZERAM EXERCÍCIO DE SALVAMENTO

“Nove corporações de bombeiros do distrito de Coimbra, estiveram envolvidas no resgate das vítimas de um aparatoso acidente que ocorreu no último sábado, 11 de Outubro, numa pedreira de Portunhos”.

Este poderia ser o início de uma notícia de abertura de um qualquer jornal, não fosse o facto de se tratar de um exercício de treino para equipas de salvamento em grande ângulo e mergulho de várias corporações de bombeiros da região.

Organizado pelos Bombeiros Voluntários de Cantanhede, o exercício partiu do cenário hipotético de um despiste de automóvel que culminou na queda do veículo do cimo de uma pedreira de Portunhos. O veículo viria a cair dentro da lagoa existente no centro da pedreira, atualmente desativada. No seu interior seguiam quatro “vítimas”. Duas foram projetadas do veículo antes deste ter caído no precipício. As outras ficaram encarceradas dentro do carro, que se afundou completamente nas águas da lagoa.

Alertada para o ocorrido, deslocou-se ao local, na antiga pedreira da Mota Engil, a recém-formada equipa de resgate em grande ângulo dos Bombeiros Voluntários de Cantanhede, apoiada pelas equipas congéneres da Figueira da Foz e de Condeixa, e pelas equipas de mergulho dos B.V. de Montemor-o-Velho, dos Sapadores de Coimbra e dos B. Municipais da Figueira da Foz.

Os B.V. de Mira e os BV de Soure também estiveram no local, com embarcações de mergulho.

No total, participaram neste exercício de treino 72 homens, apoiados por um total de cinco ambulâncias, quatro botes de salvamento, uma moto de salvamento aquático, duas viaturas pesadas e 11 viaturas ligeiras.

Os trabalhos prolongaram-se das 15H30, quando as corporações chegaram ao local, até às 20H45, já depois da extração do veículo da água, onde se encontrava a uma profundidade de cerca de 12 metros.

Pelo meio foi necessário resgatar as duas ‘vítimas’ com vida, descendo-as, depois de devidamente imobilizadas, pela escarpa da pedreira, a uma altura de cerca de 40 metros. De salientar que foram utilizadas duas estratégias para descida das ‘vítimas’, de modo a apurar a melhor a utilizar neste tipo de cenário. As duas ‘vítimas’ foram depois conduzidas em embarcações de socorro até à outra margem da lagoa, onde eram aguardadas pelas ambulâncias de socorro.

Apesar dos esforços das equipas de mergulhadores em retirar  as ‘vitimas’ que se encontravam encarceradas no interior do veículo submerso, esta tarefa só foi possível já com o veículo em terra.

De acordo Jorge Jesus, comandante dos Bombeiros Voluntários de Cantanhede, o grau de risco que envolveu todo o exercício foi “devidamente calculado”.  Por exemplo, a queda de pedras aquando da descida das duas ‘vítimas’ com vida pela escarpa da pedreira, que deixou com a respiração em suspenso muitos dos que assistiam ao desenrolar das operações, foi “propositada” e efetuada para “limpeza da escarpa”. O objetivo foi o de garantir que nenhuma pedra solta pudesse ferir as ‘vítimas’ do acidente.

No final, o balanço do exercício não poderia ser mais positivo. Jorge Jesus lembrou que este foi o primeiro realizado na região Centro a juntar as vertentes salvamento em grande ângulo e mergulho. Foi também o primeiro exercício do género para a mais recente equipa da corporação de Cantanhede, a equipa de salvamento em grande ângulo, que conta já com pessoal com formação adequada e uma carrinha para transporte do equipamento necessário a este tipo de situações.

Para o principal responsável pelo CDOS de Coimbra, Carlos Luís Tavares, o exercício “foi muito exigente, com elevado risco, mas com uma resposta eficaz e extremamente profissional. Foi também uma “demonstração clara das capacidades das corporações de bombeiros do distrito”.

“O treino faz a diferença. As pessoas bem treinadas ficam bem preparadas para garantir uma resposta cabal às situações”, acrescentou aquele comandante. Explicou ainda Carlos Luís Tavares que, ao colocar equipas de várias corporações a trabalhar juntas, possibilitou-se a interajuda e a troca de conhecimentos que será uma mais valia no caso de se voltarem a encontrar, desta vez em cenário real.

“Foi a primeira vez que participámos num exercício deste género e foi muito gratificante. Aprendemos muito”, disse o chefe António Lebre, responsável pela equipa dos  B. V. de Soure.

Opinião semelhante mostrou Pedro Franco, dos B. V. de Mira: “Não temos muita oportunidade para usar o equipamento, e ainda bem, mas é importante que estejamos sempre preparados para o fazer e saibamos como o fazer. Este exercício permitiu rever os conhecimentos e adaptá-los a esta situação concreta”.

Para José Panão, dos B. V. de Condeixa, o exercício permitiu identificar  alguns pontos a melhorar em termos técnicos, bem como testar o equipamento para este tipo de atividades. “O cenário em si era bastante hostil  e a caracterização das vitimas era muito próxima do real. Em suma, a equipa ficou satisfeita e esperamos que sejam criadas mais atividades deste tipo para fortalecer esta área”, adiantou  ainda José Panão.

“Impecável” foi como Verónica, responsável pela equipa dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz, caracterizou o cenário escolhido para a realização do exercício, a antiga pedreira do Mota Engil, em Portunhos. A sua equipa foi responsável pela descida de uma das vítimas pela ravina, tarefa que lhes permitiu praticar as técnicas a aplicar neste tipo de situações.

Para a equipa dos Bombeiros Municipais da Figueira da Foz que participou no exercício de mergulho, juntamente com equipas congéneres dos Sapadores de Coimbra e dos B. V. de Montemor-o-Velho, o objetivo do exercício foi cumprido. De acordo com António Piedade, houve inicialmente alguma dificuldade de entrosão entre as diferentes equipas, uma situação natural, uma vez que nem todos se conheciam. “Esta dificuldade acabou por ser ultrapassada, o que será também uma vantagem quando nos cruzarmos num cenário real”.

A mesma opinião manifestou o chefe Lapa, dos Sapadores de Coimbra. “Não são muito comuns exercícios de mergulho a nível distrital, mas são muito importantes. As pessoas ficam a conhecer-se e a saber como interagir em campo”, referiu.

Já para o adjunto Melo, dos B. V. de Montemor-o-Velho, o exercício do último sábado esteve “acima das expectativas”. “Pelo feedback que obtive, toda a gente gostou. É uma iniciativa a continuar”, disse, terminando com uma expressão bem conhecida entre bombeiros: “O treino tem de ser difícil, para que seja fácil a atuação em situações reais”.