BIBLIOTECA DE MIRA RECEBEU ODETE SANTOS

 

A Biblioteca Municipal de Mira recebeu no último dia de Abril, quase ao cair da tarde, a visita ilustre de Odete Santos ex-deputada do PCP que veio dar uma pequena palestra sobre a vida e a obra do seu “camarada” Álvaro Cunhal.
Mas, nem só de palavras faladas se tratou ali. Houve também, já mais tarde a soberba atuação de Amadeu Ramos acompanhado de uma gaita de foles, a interpretar “Grândola Vila Morena” e “Gaivota”…
Sempre frontal, direta, corajosa e simpática, Odete Santos é daquelas pessoas com quem, por mais que não se partilhe das suas ideias, se consegue dialogar. É democrata na verdadeira acepção da palavra…
A sua palestra esteve centrada na força da palavra. Na conclusão de que “o artista deve ter liberdade” para, identificando os problemas sociais da sua época, “dizer alguma coisa” às pessoas a quem a sua arte chega.
Quis também, dar a ênfase necessária ao papel da mulher na obra de Álvaro Cunhal.
Para ela, o autor destacou em muitas das suas escritas, o verdadeiro papel da mulher no coletivo partidário, o que tornou suas obras, algo muito pessoal, e – contraditoriamente – popular.
Odete Santos fez ainda uma confissão pública: foi através de Álvaro Cunhal que “descobriu” Fernando Pessoa! Na verdade, segundo ela própria, “embirrava” com Pessoa…

Mas, a “birra” um dia passou. E passou de tal forma, que a ex-deputada, e advogada de profissão, até guardou na memória e disse alto e bom som, sem precisar lê-lo, este poema de Fernando Pessoa:
ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR
Três nomes em sequência regular…
António é António.
Oliveira é um árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.
Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu…
Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho…
Bebe a verdade
e a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
E o meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
Mas ninguém sabe porquê.
Mas, enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.
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